Capítulo 15

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Camila Cabello P.O.V

Estou funcionando com quatro horas de sono. Por favor, alguém me mate. O
lado bom é que ninguém viu Lorenzo me deixar na porta do alojamento hoje cedo,
então pelo menos minha honra ainda está intacta.
As aulas da manhã não acabam nunca. Tenho uma de teoria seguida de um
seminário sobre história da música — e ambas exigem minha atenção, o que é
difícil, quando mal consigo manter os olhos abertos. Já bebi três cafés, mas, em
vez de me dar energia, a cafeína só está drenando os resquícios da que eu tinha.
Vou almoçar tarde, num dos refeitórios do campus, escolho uma mesa bem no
fundo e fico enviando vibrações de “Me deixem em paz”, porque estou cansada demais para jogar conversa fora. A comida me acorda um pouco, e passo pelas portas de carvalho do edifício de filosofia com tempo sobrando para a aula
seguinte.

Aproximo-me do auditório de ética e paro, num sobressalto. Ninguém menos
que Allan está caminhando pelo corredor largo, as sobrancelhas escuras franzidas, enquanto digita no celular.
Mesmo tendo tomado banho e trocado de roupa no alojamento, me sinto uma
completa idiota. Estou de calças de ginástica, um moletom verde e botas de
borracha vermelhas. A previsão do tempo tinha dito que ia chover, o que não aconteceu, então agora me sinto ridícula por ter escolhido esse sapato.

Allan, por outro lado, é pura perfeição. A calça jeans escura abraça suas pernas
compridas e musculosas, e o suéter preto se estica sobre os ombros largos de um
jeito que me faz tremer nas bases.
Meu coração bate mais rápido à medida que me aproximo. Estou tentando
decidir se deveria dizer “oi” ou só cumprimentar com um aceno, mas ele resolve o dilema, falando primeiro.

“Oi.” Seus lábios se curvam num meio-sorriso. “Belas galochas.”
Suspiro. “Ia chover.”

“Não foi sarcasmo. Gosto de galochas. Me fazem lembrar de casa.” Ele percebe
meu olhar interrogativo e explica depressa: “Sou de Seattle”.
“Ah. Foi de lá que você pediu transferência?”
“Foi. E, vai por mim, se não estiver chovendo em Seattle, é porque tem alguma coisa errada. Botas de chuva são um item de sobrevivência quando se vive em Seattle.” Ele enfia o smartphone no bolso, adotando um tom casual.

“Então, o que aconteceu com você na quarta-feira?”
Franzo o cenho. “Como assim?”
“A festa. Procurei por você depois da sinuca, mas já tinha ido.”
Ai, meu Deus. Ele me procurou?
“É, saí cedo” , respondo, torcendo para parecer casual também. “Tinha aula às
nove no dia seguinte.”

Allan deita a cabeça de lado. “Ouvi dizer que foi embora com Lorenzo Jauregui.”
Isso me pega desprevenida. Não achei que alguém nos tivesse visto saindo
juntos, mas é claro que estava enganada. Aparentemente, os boatos circulam mais
rápido que a velocidade da luz, na Briar.

“Ele me deu uma carona para casa”
, respondo, dando de ombros.
“Ah. Não sabia que eram amigos.”
Abro um sorriso travesso. “Tem muita coisa ao meu respeito que você não sabe.”
Deus do céu. Estou flertando com ele.

Ele também sorri, e a covinha mais sensual que já vi aparece em seu queixo.
“Acho que você tem razão.” Faz uma pausa significativa. “Talvez devêssemos
mudar isso.”
Deus do céu. Ele está flertando de volta.
Por mais que odeie admitir, estou começando a achar que a teoria de Lorenzo de dar uma de difícil realmente faz sentido. Allan parece curiosamente fixado no fato de que saí da festa com Lorenzo.

“Então…” Seus olhos brilham, alegres. “O que você vai fazer depois da…”

“Cabello!”

Engulo um gemido exasperado diante da interrupção alegre de — quem mais?
— Lorenzo. Ele caminha na nossa direção, e Allan fecha o rosto ligeiramente, mas logo em seguida sorri e cumprimenta o intruso indesejável com a cabeça.
Lorenzo está trazendo dois copos de isopor e passa um para mim com um
sorriso no rosto. “Trouxe um café. Achei que estaria precisando.”

Não deixo de notar o olhar estranho que Allan lança em nossa direção, ou o
brilho de desagrado em seus olhos, mas aceito o café com gratidão e abro a tampa, soprando o líquido quente, antes de dar um pequeno gole. “Salvou minha vida” suspiro.

Lorenzo acena para Allan e o cumprimenta: “Kohl”.
Os dois trocam uma espécie de tapa viril, que não chega a ser um aperto de
mãos, mas também não é bem um soco com os punhos.

“Jauregui”, devolve Allan. “Ouvi dizer que vocês destruíram o St. Anthony. Bela
vitória.”
“Obrigado.” Lorenzo ri. “Ouvi dizer que vocês foram destruídos pelo Brown. Que
merda.”
“Lá se vai nossa temporada perfeita, né?”
, lamenta-se Allan.
Lorenzo dá de ombros. “Vocês vão se recuperar. Maxwell tem um braço do outro mundo.”
“Nem me fale.”

Como considero que conversas sobre esportes estão no mesmo grau de chatice
das de política e jardinagem, dou um passo em direção à porta. “Vou entrar.
Obrigada pelo café, Lorenzo.”
Meus batimentos cardíacos continuam acelerando enquanto caminho pelo
auditório. É engraçado, mas minha vida de repente parece estar se movendo na
velocidade da luz. Antes da festa, o máximo de contato que tive com Allan foi um aceno a míseros três metros de distância — e isso em dois meses. Agora, em menos de uma semana, tivemos duas conversas, e, a menos que esteja imaginando coisas, ele estava prestes a me convidar para sair, antes de Lorenzo interromper.
Sento na cadeira de sempre, ao lado de Nell, que me cumprimenta com um
sorriso. “Oi”, diz ela.
“Oi.” Abro a bolsa e pego um caderno e uma caneta. “Como foi o fim de
semana?”
“Um inferno. Tive uma prova de química bizarra hoje de manhã e virei a noite
estudando.”
“E como foi?”
“Ah, moleza.” Ela sorri feliz, mas a alegria desaparece depressa. “Agora só
preciso me sair melhor na segunda chamada de sexta, e tudo vai ficar bem no mundo de novo.”
“Você recebeu meu e-mail, não recebeu?” Tinha mandado uma cópia da minha
prova para ela, no início da semana, mas Nell não chegou a responder.
“Recebi. Desculpa não ter escrito, precisava me concentrar em química. Estou pensando em dar uma olhada nas suas respostas hoje à noite.”
Uma sombra cai sobre nós, e quando me dou conta, Lorenzo ocupa a cadeira ao
meu lado. “Cabello, tem uma caneta sobrando?”
As sobrancelhas de Nell quase batem no teto, e ela me encara como se, nos
últimos três segundos, tivesse brotado um cavanhaque na minha cara. Não a
culpo. Sentamos uma do lado da outra desde o início do semestre, e não lancei
um olhar sequer na direção de Lorenzo Jauregui, muito menos falei com ele.

Nell não é a única que está fascinada por esta nova disposição dos lugares.
Quando olho pelo corredor, noto Allan nos observando com uma expressão
indecifrável no rosto.

“Cabello? Caneta?”
Volto-me para Lorenzo. “Você veio para a aula despreparado? Que surpresa.”
Abro a bolsa de novo e procuro uma caneta; em seguida, enfio-a em sua mão.
“Obrigado.” Ele me oferece aquele sorriso arrogante antes de abrir seu caderno numa página limpa. Em seguida, inclina-se para a frente e dirige-se a Nell.
“Prazer, Lorenzo.”
Ela fita, boquiaberta, a mão estendida dele e, enfim, a aperta. “Nell”, responde.
“Prazer.”
Gilbert chega logo em seguida, e, enquanto Lorenzo volta sua atenção para o tablado, Nell me lança outro olhar de “o que foi isso”. Levo os lábios bem perto
de seu ouvido e sussurro: “Somos meio que amigos agora”. “Ouvi isso”
, se intromete Lorenzo. “E não tem nada de ‘meio’ nessa história.

Somos melhores amigos, Nelly. Não deixe a Cabello dizer o contrário.”
Nell ri baixinho.
Só consigo deixar escapar um suspiro.

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