Capítulo 32

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Camila Cabello P.O.V

“Parada aí!”, exclama uma voz estridente, assim que me apresso em direção ao meu quarto. “Aonde você pensa que vai, mocinha?”
Faço meia-volta, atônita ao encontrar Ally deitada no sofá da área comum,
equilibrando um de seus copos de suco nojento no joelho. Na pressa, não tinha
notado sua presença.
“O que você tá fazendo em casa?”
, pergunto, surpresa. “Pensei que tivesse aula de economia às quartas.”
“Foi cancelada. O professor pegou ebola.”
Solto um arquejo. “Caramba! Jura?”
Ela ri. “Bom, não. Quero dizer, talvez. Mandou um e-mail dizendo que tá com
uma doença…” , ela desenha aspas no ar,
“só que não disse que doença era. Mas
gosto de imaginar que seja algo ruim. Porque aí ele não vai poder dar aula até o final do semestre, e automaticamente todo mundo vai tirar dez.”
“Você é má” , informo. “E um dia essa macumba vai se voltar contra você. Sério, não adianta vir rastejando pra mim quando pegar ebola. De qualquer forma, tenho que ir. Só passei para deixar minhas coisas antes de ir pro ensaio.”
“De jeito nenhum, Mila. Você vai sentar sua bunda bonita aí no sofá,
porque precisamos ter uma conversinha.”
“Mas realmente não posso me atrasar pro ensaio.”
“Quantas vezes Cass se atrasou?”
, indaga ela.
Tem razão.
Com um suspiro, ando até o sofá e me deixo cair. “Certo. O que foi? Direto ao
ponto.”
“Direto ao ponto? Tudo bem. Que tal assim: o que, neste mundão de meu Deus, está acontecendo entre você e Lorenzo?”
Minha boca se fecha. Droga. Fui pega. Quer dizer, eu tinha mandado uma
mensagem para ela ontem à noite, dizendo “Na casa do Lorenzo — vou chegar tarde”, mas Ally passa a maior parte do tempo em sua própria bolha em torno de Sean que achei que não fosse tocar no assunto. “Não tem nada acontecendo”, respondo.
Rá, por “nada”
, leia-se: “Fui até a casa dele, e nós dois ficamos nus, e nos
masturbamos na frente um do outro, e aí eu gozei, e ele também, e foi a melhor
sensação do mundo”.

Ally enxerga direitinho através da minha fraca tentativa de mentir. “Vou
perguntar isso uma vez, e vai ser a única. Karla Camila Cabello, você está
namorando Lorenzo Jauregui?”
“Não.”
Ally estreita os olhos. “Certo. Vou perguntar uma segunda vez. Você está
namorando…”
“Não estou.” Suspiro. “Mas a gente tá se divertindo.”

Ela fica boquiaberta. Um segundo se passa, depois outro, e, em seguida, seus
olhos castanhos se acendem, vitoriosos. “Rá! Sabia que você tava a fim dele! Ai, meu Deus! Segura o meu suco… Acho que preciso fazer uma dancinha feliz! Você sabe fazer a dança do homem correndo? Me ensina?”
Rio. “Ai, Deus, não precisa fazer uma dancinha feliz. Não é nada demais, tá
legal? Provavelmente vai esfriar logo.”
Quando sair com Alan.

Droga… É a primeira vez desde o aniversário de Dean que Alan passa pela
minha cabeça. Fiquei totalmente concentrada em Lorenzo, no jeito como me excita, as coisas que quero fazer com ele. Mas, agora que me lembro do encontro chegando, sinto uma pontada de culpa.
Posso mesmo sair com outra pessoa depois do que Lorenzo e eu fizemos na noite passada?

Mas… A gente não está ficando nem nada. Ele não é meu namorado e
obviamente não me considera sua namorada, então… por que não?
Ainda assim, a vontade de desmarcar com Alan se recusa a ir embora, mas
deixo-a de lado, enquanto Ally continua a tagarelar sobre como o nosso lance é o
máximo.

“Você dormiu com ele? Ah, por favor, diz que sim! E, por favor, diz que foi
bom! Sei que você e Devon não tinham uma química nível Brangelina, mas, pelo
que ouvi, Lorenzo Jauregui sabe uma coisa ou outra.”
Sabe. Ah, se sabe.
“Não dormi com ele.”
Ela parece decepcionada. “Por que não?”
“Porque… não sei. Porque não aconteceu. Fizemos outras coisas.” Meu rosto fica
mais quente. “E isso é tudo que vou dizer sobre o assunto, tá bom?”“Não, de jeito nenhum. Melhores amigas devem contar tudo uma para a outra.
Você sabe tudo sobre a minha vida sexual. Sabe sobre quando Sean e eu tentamos anal, sabe até qual é o tamanho do pau de Sean.”
“São muito mais detalhes do que eu gostaria de saber”, interrompo. “Eu te amo pra sempre, mas nunca, nunca quis saber sobre o sexo anal e definitivamente poderia ter vivido sem ter que ver você com uma régua mostrando o tamanho do
pênis do seu namorado!”
Ally faz beicinho. “Você não presta. Mas não se preocupe, vou acabar
descobrindo todos os detalhes sórdidos. Sou muito boa em arrancar informação.”
É verdade. Ela é. Mas não vai conseguir nada agora.
Revirando os olhos, me levanto. “Certo, estamos conversadas? Porque preciso
mesmo sair.”
“Tudo bem, pode ir. E não, não estamos conversadas.” Ela sorri para mim. “E
não estaremos até você pegar aquela régua e acabar com o mistério: qual é o
tamanho do pau de Lorenzo Jauregui?”
“Tchauzinho, pervertida.”
Quinze minutos depois, a primeira coisa que vejo quando entro na sala do coro
é um violoncelista.
Pergunta: Como você sabe quando as coisas saíram do controle?
Resposta: Quando encontra um violoncelista na sua sala de ensaio sem mais nem menos.
Desde que M.J. aceitou a ideia de Cass de ter um coral, desisti de discutir com
qualquer um deles. A essa altura, podem fazer o que bem entenderem — ou
melhor, o que Cass bem entender —, porque simplesmente não tenho mais forças para entrar no jogo dele.

“Está atrasada.” Cass resmunga em desaprovação enquanto tiro o casaco.
“Eu sei.”
Espera que eu me desculpe.
Não peço desculpas.
“Camila, este é Kim Jae Woo”
, diz M.J., com um sorriso hesitante. “Ele vai acompanhar vocês durante a segunda estrofe.”

Aham. Claro que vai.
Não me incomodo em perguntar quando essa decisão foi tomada. Apenas aceno
e murmuro: “Parece bom”.
Durante a hora seguinte, nós nos concentramos apenas na parte central da
música. Em geral, Cass pararia a cada dois segundos para reclamar de algo que fiz, mas hoje o peso de sua crítica recai no pobre Kim Jae Woo. O calouro coreano me lança um olhar de pânico toda vez que Cass o maltrata, mas tudo o que posso fazer é dar de ombros e oferecer um sorriso simpático.
É triste. Perdi todo o entusiasmo por essa música. A única coisa que dá alento
agora é saber que se não ganhar a bolsa de estudos graças à produção exagerada de Cass, vou ter uma segunda chance em abril, no festival da primavera.
Às duas, Cass encerra o ensaio, e solto um suspiro de alívio quando visto o
casaco. Ao sair para o corredor, levo um susto ao encontrar Lorenzo parado lá. Está usando seu casaco da Briar, segurando dois copos de café e me cumprimenta com um sorriso torto que faz meu coração acelerar.

“Oi!” Franzo a testa. “O que tá fazendo aqui?”
“Passei no seu quarto, mas Ally disse que estava ensaiando, então pensei em vir
aqui e esperar você terminar.”
“Você tava aí o tempo todo?”
“Não, peguei um café e dei uma volta. Acabei de chegar.” Ele olha por cima do
meu ombro para a sala de música. “O ensaio acabou?”
“Acabou.” Pego o copo que me oferece e abro a tampa de plástico. “Temos um
violoncelista agora.”
Lorenzo franze os lábios. “Aham. Aposto que você está totalmente empolgada com
a ideia.”
“Indiferente, eu diria.”
Uma voz estridente reclama atrás de mim. “Você está bloqueando a porta,
Hannah. Algumas pessoas têm mais o que fazer.”
Revirando os olhos, me afasto da porta e deixo Cass e Mary Jane saírem. Cass
nem se digna a olhar para mim, mas quando percebe com quem estou falando, seus olhos azuis voam na minha direção.
“Cass, você conhece Lorenzo?”
, pergunto, educada.
Ele se volta cautelosamente para o jogador de hóquei alto e forte ao meu lado.
“Não. Prazer em conhecê-lo, cara.”
“Você também, Chazz.”
Meu parceiro de dueto se contrai. “É Cass.”
Lorenzo pisca inocentemente. “Ah, desculpa… Não foi isso que eu disse?”
As narinas de Cass se inflam.
“Então, ouvi dizer que você vai cantar um dueto com a minha menina”
, acrescenta Lorenzo. “Espero que não esteja criando problemas pra ela. Não sei se você sabe disso, mas a minha Camz tem um péssimo hábito de deixar as
pessoas pisarem nela.” Ele arqueia uma sobrancelha escura. “Mas você não faria isso, certo, Chazz?”
Apesar da pontada de constrangimento que suas palavras provocam em mim,
também estou segurando o riso.
“É. Cass.”
“Foi o que eu disse, não?”
Os dois se encaram de cima a baixo numa pose bastante viril por um bom
tempo. Como eu esperava, Cass é o primeiro a quebrar o contato visual.
“Que seja” , resmunga. “Vamos, M.J., estamos atrasados.”

Enquanto ele arrasta a loura gentil como uma mala, volto-me para Lorenzo com
um suspiro. “Precisava fazer essa cena?”
“Claro que sim.”
“Tudo bem. Só confirmando.”
Nossos olhos se cruzam, e uma explosão de calor surge dentro de mim. Ai, meu
pai. Sei exatamente o que ele está pensando agora. Ou melhor, o que está
pensando em fazer.
Me comer.
E estou pensando a mesma coisa.
Posso ter dito a Ally que a coisa toda vai esfriar logo, mas, no momento, as
chamas estão ainda mais quentes do que na noite passada.

“Minha casa?” , murmura.
As duas palavras, roucas e graves, fazem minhas coxas se contraírem tanto que é
uma surpresa eu não distender um músculo.
Em vez de responder — minha garganta está seca de tanto desejo —, pego o café
de sua mão e jogo os dois copos no lixo atrás dele.
Lorenzo ri. “Vou entender isso como um sim.”

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