A noite está quente e grudenta, como marshmallows na fogueira. Os cachos que ficaram solto do meu coque improvisado, estão grudados em minha cabeça pelo suor. Estou sentada na areia branca que fica perto do lago. Com os pensamentos tão longe, que nem sei ao certo aonde estava indo.
Ouvi o som de algo se mexer no arbusto, algo grande demais para ser um coelho, e pequeno demais para ser um monstro.
— An.. oi— era a voz de Peter— Desculpe atrapalhar seu an.. momento pensativo? Mas me falaram de monstros com garras que ficam no acampamento, não é verdade, é?
Me virei para o garoto. Ele está coçando os cachos loiros enquanto sorri minimamente. Ele é tão patético.
— Perdeu a noção do tempo do toque de recolher Jhonson?— perguntei.
— É Jackson— ele revirou os olhos— E sim, acabei perdendo. Pode.. me ajudar?
— O que eu disse sobre pedir a minha ajuda?— hergui a sombrancelha.
O garoto fez uma careta, e murmurou:
— Não pensei que fosse mesmo.
Soltei uma pequena risada.
— Senta aqui garoto. Quando eu for, eu te levo— sinalizei uma lugar na areia ao meu lado, e dei batidinhas.
Demorou um pouco, mas Peter se sentou ao meu lado. Ele ficou olhando para o lago por um tempo, e eu aproveitei esse tempo para observá-lo. Nos últimos dias, o garoto tem se saído bem, pareceu está se acostumando. Mas agora, ele parece perdido.
— Ei.. me desculpa por te chamar de orfão tá— falei— Normalmente é o que falo para todos os novos campistas. Os mantenho alertados. Meu pai chama de choque de realidade necessário.
O garoto me olhou por um tempo, e depois se concentrou de volta no lago.
— Tudo bem. Não é mentira mesmo— ele murmurou.
Me sentir ainda mais culpada. Me deitei na areia, e Peter logo fez o mesmo. Ficamos encarando as estrelas e as suas constelações.
— Dizem.. que quando alguém importante morre, os deuses os transforma em constelações— comecei a contar uma história que nunca tinha contado antes, apenas ouvido— Para viverem após a morte, com honra e guiando aqueles que querem um destino igualmente glorioso.
— Gloria— murmurou o garoto— É para isso que existimos, os semi-deuses? Para morrer em nome da glória?
Eu sorri. Tinha feito uma pergunta parecia a alguns anos atrás.
— Não exatamente... mas sim. Os heróis servem para serem lendas, e lendas só são lendas porquê morrem— declarei.
Peter se levantou em um rompante, e me encarou, seus olhos perdidos em busca de respostas, em busca de algum sentido. Por alguns segundos, eu vi a mim mesmo de cinco anos atrás.
— E você acha isso certo?! Acha certo morrermos para sermos constelações, e nome de deuses que nem mesmo vão ver os próprios filhos?!
— Não garoto!— bufei enquanto me sentava novamente— Não acho certo, e não é certo. Mas é assim.
Ele me encarou por alguns segundos. E depois murchou lentamente voltando a se sentar na areia.
— Eu não ligo pros deuses, não ligo para glória. Eu queria a minha mãe— fungou— Eu só queria a minha mãe.
Contive a minha vontade de abraçá-lo. Primeiro, porque não nos conhecemos, e segundo, porque não sou uma grande fã de abraços. Não abraço ninguém a não ser os meus irmãos. E é até mesmo estranho, que eu tenha vontade de fazer isso com esse garoto agora.
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Vinho E Sangue: O Filho Proibido
FanfictionMadisson Salvatore viveu bons anos no acampamento meio sangue. Mesmo com lembranças de dias terríveis invadindo a sua mente todas as vezes que ela olha a colina, e os pesadelos com o passado. A filha de Dionísio tem tido uma vida calma para os parâm...