Red Blossom
Minha cabeça lateja como se estivesse prestes a explodir. O gosto amargo de cerveja velha ainda está na minha boca, e quando me mexo, percebo que estou largado no sofá da minha sala. As garrafas vazias espalhadas pelo chão são apenas lembretes de quanto eu afundei na noite passada. Eu teria bebido até o último gole de qualquer merda se isso significasse que Clary poderia me perdoar. Mas não adianta. Não consigo me livrar da porra desse vazio. Sem ela, estou à beira do colapso. Nem me lembro da última vez que comi direito, e dormir? Isso virou um luxo que minha mente fodida não me permite faz dias. Eu não sei mais o que é paz.
Eu podia ter feito qualquer coisa, qualquer coisa, menos machucar ela. Porque a dor dela... caralho, é como se arrancassem a minha pele, pedaço por pedaço, e meu coração sangra com essa merda toda. Estou perdendo a sanidade. A ideia de ela me odiar me destrói, despedaça o pouco que restou de mim. E o pior de tudo? Eu fiz isso com ela. Eu fui o responsável pela porra da dor nos olhos dela, aquela dor que ela não merecia sentir.
Mas eu era só um moleque. Caralho, eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Se eu soubesse o que Kamila ia fazer... se eu soubesse que isso destruiria tudo que tínhamos, eu nunca teria deixado nada acontecer. Jamais teria permitido.
Levanto com dificuldade, o corpo pesado como se tivesse sido atropelado por um caminhão, e volto a me sentar no sofá. Passo as mãos pelo rosto, tentando clarear a mente que ainda está enevoada pela ressaca. Ao lado, vejo Thor, meu rottweiler, dormindo tranquilamente, totalmente alheio ao caos que é minha vida agora. Ele parece tão calmo, enquanto eu estou um desastre ambulante.
O arrependimento me sufoca. Cada batida do meu coração é um lembrete da merda colossal que eu fiz. O som da voz dela, o jeito como ela me olhou antes de ir embora, ainda ecoa na minha cabeça, como uma faca que não para de me cortar por dentro. Eu não sei como vou viver com isso. Não sei se posso viver sabendo que a perdi.
Eu não posso viver sem ela. Não consigo. Eu a quero, porra, eu preciso dela. Ela é minha, sempre foi. E ela vai me perdoar. Ela tem que me perdoar! Não consigo suportar a ideia de que o ódio dela pode me afastar para sempre. A última vez que fui na casa da amiga dela, deixei uma tulipa branca com aquela mensagem. Eu sabia que ela entenderia, sabia que perceberia que era minha tentativa desesperada de mostrar o quanto estou arrependido. Mas já faz um mês... Um mês que não a vejo. Ela está trancada naquela casa, não sai, não fala com ninguém. E isso me apavora.
O medo corrói cada pedaço de mim. Eu sei o que acontece quando ela se afunda nesse silêncio. Sei o que a escuridão dentro dela pode fazer. E se Clary... Caralho, só de pensar nisso meu peito aperta. Eu tenho medo que ela entre em outra depressão, que tente acabar com tudo de novo. Se ela fizer isso... se ela... Eu me mataria logo em seguida, porque não teria forças para viver sabendo que fui eu, que fui a causa da destruição da pessoa que mais amei. A culpa me consumiria até o último resquício de sanidade. Porra, eu preciso de um cigarro. Agora.
Levanto com a cabeça latejando, pego minha camisa e visto rápido, quase tropeçando na bagunça. Preciso sair. Preciso do alívio que só a nicotina me traz. Acendo o cigarro assim que saio de casa, e a primeira tragada alivia um pouco da tensão presa nos meus músculos. Mas, claro, a merda do Carlos aparece, vindo na minha direção com aquela cara de quem não dorme faz dias. Trago fundo, tentando não socar esse idiota na hora que ele abre a boca.
- Red... eu não aguento mais - ele diz, a voz carregada de desespero - Eu preciso saber onde ela está!
Eu sinto o ódio fervendo dentro de mim. Esse desgraçado tem a audácia de aparecer aqui, como se a culpa não fosse dele. Tomo mais uma tragada, deixando a fumaça preencher meus pulmões, antes de soltar a resposta que estava entalada.
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LIBERTADOS
RomanceDepois de descobrir toda a verdade que estava escondida em sua vida, Clary sente como se o chão tivesse sido arrancado debaixo de seus pés. A traição e a mentira a esmagam, corroendo suas esperanças e deixando cicatrizes profundas. Mas, por mais que...