Capitulo 02

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No fim, minha mãe sorriu, inocente, sem ter ideia da guerra silenciosa que acontecia na mesa. "Foi uma noite maravilhosa, não foi?"

Jin, claro, concordou. "Sim, foi... incrível."

Eu me levantei, ignorando o olhar satisfeito que ele me lançou, e fui direto para o meu quarto, torcendo para que esse fosse o último jantar que teríamos juntos. Mas lá no fundo, sabia que as coisas iam piorar antes de melhorar.

E que aquele era apenas o começo.

Deitei na cama e tentei, em vão, afastar da mente a cena patética daquele jantar. A raiva ainda borbulhava no meu estômago, e eu me sentia como uma panela de pressão prestes a explodir. Jin, na minha casa, no meu jantar de família? Como minha vida tinha chegado a esse ponto?

Enterrei a cabeça no travesseiro, apertando os olhos, tentando ignorar o fato de que, a partir de agora, ele poderia aparecer aqui a qualquer momento. Como se já não fosse ruim o suficiente lidar com ele na escola.

Estava quase conseguindo acalmar meus pensamentos quando ouvi o trinco da porta se mexer. Meu corpo imediatamente ficou tenso. A porta se abriu lentamente, e, antes mesmo de olhar, eu já sabia quem era.

Jin.

Ele entrou no meu quarto como se fosse a coisa mais natural do mundo, com aquela expressão despreocupada que me dava nos nervos.

"Meu pai insistiu que eu viesse me despedir de você, bravinha." Ele se encostou no batente da porta, os braços cruzados, claramente se divertindo.

"Se despediu. Agora pode ir embora," respondi sem nem levantar a cabeça do travesseiro.

Ele soltou uma risadinha. "Nossa, você é bem mais engraçada quando tá irritada."

Eu me virei na cama e me sentei, encarando-o. "O que você quer, Jin? Não foi suficiente me infernizar no jantar? Agora vai começar a invadir meu quarto também?"

Ele deu de ombros, como se não se importasse com minha indignação. "Relaxa, eu tô indo embora. Só achei que devia... sei lá, tentar limpar o ar depois daquele show todo."

"Limpar o ar?" Eu não consegui segurar a risada sarcástica. "Você passou o jantar inteiro me provocando, e agora quer limpar o ar?"

Jin me olhou com um sorriso de lado. "Olha, eu só tava me divertindo. Não sabia que você levava tudo tão a sério."

Eu me levantei da cama e fui até ele, parando a poucos centímetros de distância. "Eu levo a sério quando você faz piada de mim na escola, quando espalha coisas pelas minhas costas. E agora eu tenho que aturar você entrando na minha casa, no meu quarto, e fingindo que está tudo bem?"

Por um segundo, o sorriso de Jin vacilou, como se minhas palavras tivessem atingido alguma coisa. Mas logo ele voltou a sorrir, daquela forma irritante de sempre. "Talvez eu esteja aqui porque, de alguma forma, é divertido te ver tão brava."

Eu cerrei os punhos. "Você é um idiota."

"E você tá exagerando." Ele descruzou os braços e deu um passo à frente, invadindo ainda mais meu espaço pessoal. "Sei que você não me suporta, mas agora a gente vai ter que se acostumar um com o outro. Nossos pais estão juntos, quer você goste ou não."

Eu respirei fundo, tentando não explodir. Ele estava certo, e isso me irritava ainda mais. Nossos pais estavam juntos, e isso significava que Jin ia estar mais presente na minha vida do que nunca.

"Ótimo. Mas você não precisa gostar disso mais do que eu," retruquei, cruzando os braços.

Ele me observou por um momento, como se estivesse tentando decifrar alguma coisa. Então deu um pequeno sorriso, dessa vez um pouco menos zombeteiro, quase... desafiador.

"Talvez eu goste justamente porque você odeia tanto."

Eu não sabia o que responder a isso. Por um instante, ficamos ali em silêncio, nos encarando, até que ele deu um passo para trás e se virou para sair do quarto.

"Boa noite, bravinha," ele disse, enquanto saía, fechando a porta atrás de si.

Eu me joguei de volta na cama, sentindo o sangue ainda fervendo nas veias. "Idiota," murmurei, mais para mim mesma do que para ele. Mas, lá no fundo, uma parte de mim sabia que ele tinha conseguido exatamente o que queria: me deixar mexida.

E isso só tornava as coisas ainda piores.

Na manhã de sexta-feira, acordei com a sensação de que o fim de semana seria, no mínimo, estranho. Minha mãe estava radiante, o que já era um mau sinal. Ela e Rodrigo planejavam uma viagem rápida para passar o fim de semana fora, um "momento a dois", como ela adorava dizer. Eu estava mais do que disposta a ficar sozinha, aproveitando o silêncio e, principalmente, a distância de Jin.

Mas, claro, minha mãe tinha outros planos.

"Querida, eu tive uma ideia ótima!" ela começou, enquanto ajeitava a mala na sala. "Acho que seria legal se o Jin ficasse aqui com você enquanto estamos fora. Vocês podem fazer companhia um ao outro."

Eu parei no meio do caminho para a cozinha, meus olhos se arregalando instantaneamente. "O quê? Mãe, não precisa. Eu fico bem sozinha, sério. Não precisa se preocupar."

Ela me olhou, um sorriso suave nos lábios, como se estivesse ignorando completamente o pânico na minha voz. "Eu sei que você pode ficar bem, mas não custa nada ter companhia, né? Vai ser divertido. Vocês vão se conhecer melhor, talvez até acabar gostando de passar o tempo juntos!"

Eu ri, incrédula. "Duvido muito."

Ela deu de ombros, sem se abalar. "De qualquer forma, já falei com o Rodrigo, e ele achou a ideia ótima. Ah, e parece que o Jin já está vindo."

Antes que eu pudesse protestar ou, quem sabe, correr para trancar a porta, a campainha tocou. Não, não. Não podia ser. Mas, claro, quando abri a porta, lá estava Jin, com aquela expressão presunçosa de sempre, e uma mala enorme ao seu lado.

"Oi, bravinha," ele disse, entrando na casa como se fosse o dono do lugar, sem nem esperar ser convidado. "Pronto para o melhor fim de semana da sua vida?"

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