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Depois de recebermos mais alguns cumprimentos dos camponeses agradecidos que se preparavam para iniciar um longo dia de trabalho, nos despedimos de Tayrenne e deixamos a campina da lagoa em direção ao Castelo de Alvacácia. Eu sabia como chegar lá através de um caminho secundário que afluía da estrada real, mas como era Lyabelle quem estava liderando o nosso grupo de duas pessoas, deixei-a nos guiar por um atalho que cruzava as Terras Ermas e que, de acordo com ela, nos pouparia umas duas horas de cavalgada. O tempo estava abafado, e ao leste, bem distante, o sol vermelho surgia da névoa que pairava sobre o mundo. A direção escolhida nos levou para longe das colinas, e logo descobri que por ali a vegetação baixa era gradualmente substituída por árvores maiores, até culminar em um bosque de eucaliptos altos por onde uma trilha quase imperceptível cruzava de maneira sorrateira. Eu estava prestando atenção ao som de um córrego próximo quando Lyabelle diminuiu a passada de seu animal e virou o rosto na minha direção, para anunciar que estava ouvindo vozes mais à frente. Ela estava certa. Ouvi os cavalos primeiro, e, então, o som metálico de armaduras tinindo cada vez mais alto. Dois cavaleiros surgiram do declive no bosque, trajando os mantos azuis da família real e deixando atrás de si nada além de uma pequena nuvem de fumaça. Quando nos avistaram, puxaram as rédeas de suas montarias.

— Alto lá – disse um deles, franzindo o semblante. – Quem são vocês e porque estão desviando da estrada principal?

— Estamos apenas pegando um atalho, sor – Lyabelle respondeu. – Pelo que sei, cortar caminho ainda não é um crime no Reino de Candória.

O cavaleiro riu com algum escárnio.

— Não é um crime, mas somos cavaleiros da Guarda Turquesa e treinados para identificar comportamentos suspeitos. Está carregando algo que não devia? Evitando alguém na estrada real?

— Como eu disse, estamos apenas cortando caminho.

— Entendo. Bom, que sorte à nossa. Desta forma, não se importarão se Aleck revistá-los.

Ouvindo aquilo, Aleck, o outro cavaleiro, desmontou e caminhou na direção de Lyabelle. Tinha um sorriso quase imperceptível nos lábios e era claro que estava se divertindo com a situação, embora se esforçasse para demonstrar o contrário. Não parecia algo isolado, mas um comportamento recorrente, e me perguntei quantas pessoas mais eles deveriam ter importunado desde que entraram para a guarda e começaram a gozar da autoridade que aquilo lhes conferia.

— Desmonte e levante as mãos – ordenou ele.

Ela hesitou um pouco, mas obedeceu, contrariada. Aleck começou a revista-la, e quando olhei na direção dela, nossos olhares se encontraram por alguns instantes. Indiquei o cabo da espada, silenciosamente perguntando se deveria intervir, mas ela meneou a cabeça em um sinal negativo.

— Esta é a espada mais feia que eu já vi – Aleck comentou, e ambos os cavaleiros riram. – Onde a conseguiu?

— Foi um presente. Do povo da lagoa.

— Do povo da lagoa? – ele riu novamente, de maneira exagerada. – Acho melhor eles se aterem à luta contra a fome. Que espada horrível.

— Cuidado. Ela corta.

Ao perceber que ela estava falando sério, Aleck parou de rir. Uma expressão carrancuda tomou o seu rosto e ele se afastou, taciturno. Lyabelle abaixou os braços.

— Não há nada escondido, Kleian.

— O garoto agora – Kleian instruiu. — E não se esqueça da sela.

Eu já havia desmontado, e ele caminhou até mim me encarando no fundo dos olhos, tentando me intimidar ou procurar algum vestígio de fraqueza que não o permiti encontrar. Era um homem baixo e atarracado, com o rosto marcado por cicatrizes profundas decorrentes de uma doença já superada e mal escondida por baixo de uma barba rala. Levantei as mãos, e ele me revistou. Como não encontrou nada, logo passou para a sela.

A Fortaleza dos Sonhos EsquecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora