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- Bom, eu tenho algumas perguntas. - anunciei à Lyabelle quando voltamos a cavalgar rumo ao nosso destino.

Ela jogou as tranças para trás e suspirou fundo, antecipando a incomodação que eu lhe causaria por causa de minha curiosidade.

- O que quer saber, Lynk?

- Pra começar... O que é um Falcão de Sangue, e porque eles mudaram de maneira tão brusca quando viram a sua tatuagem?

Eu já havia percorrido muitas tavernas do Reino de Candória, e ouvido pelo menos uma centena de longas histórias contadas por homens que estavam aqui há muito mais tempo que eu, mas, pelo que conseguia me lembrar, nunca havia ouvido falar na existência e na aparente importância de um tal Falcão de Sangue.

- De maneira resumida, os Falcões de Sangue não são nada mais do que uma divisão discreta da Guarda Real. Mas ao contrário dos papagaios de mantos turquesa, atuam em prol do Reino esgueirando-se nas sombras, sem chamar atenção.

- Como uma organização secreta? - perguntei em um tom sereno, tentando ao máximo disfarçar minha empolgação.

- Se facilitar pra você.

- Pelos Libertadores, Lyabelle. E como eu devo trata-la de agora em diante?

Ela puxou as rédeas e virou a mula na minha direção.

- Se você fizer um estardalhaço por causa disso, eu vou lhe enfiar uma adaga na barriga. Além do mais... Eu não sou mais um Falcão de Sangue. Felizmente para nós, eles não sabiam disso, e pude usar o que restou de minha influência para manda-los embora.

Lyabelle bateu os calcanhares e voltou a colocar a mula em movimento.

- Por que você não é mais um Falcão de Sangue? - perguntei.

- Por um motivo que não posso lhe revelar agora, Lynk, pois em ouvidos errados ele poderia ser forte o suficiente para ser a causa de minha execução.

Eu assenti e permaneci em silêncio. Mas, enquanto cavalgava, fiquei me perguntando o que poderia ser tão grave a ponto de coloca-la em risco de execução. Teria ela vazado informações para inimigos da Coroa? Teria ela conspirado contra o trono? Ela não sabia, mas fosse algum motivo que buscasse prejudicar o reinado de Rei Brügg, minha admiração por ela apenas cresceria.

Lyabelle então é de Ametistareal, pensei, tentando juntar todas as informações que eu havia conseguido a seu respeito. Uma mulher da capital que pertencia a um grupo secreto chamado Falcões de Sangue - aí então onde ela aprendera a manusear uma espada com tamanha habilidade. Mas considerando a sua idade atual, o fato de ela ter ingressado tão jovem em uma equipe de tamanha importância poderia significar que ela não era uma pé rapada, como eu, mas sim alguém de sangue nobre que nascera dentro do conforto de uma fortaleza e desde muito cedo fora apresentada aos ensinamentos de guerra e combate. Por outro lado, sua cor de pele não era como a da maioria dos nobres de sua cidade. Seria ela, então, uma mestiça? Uma bastarda? Ou simplesmente a filha de alguém que ascendera socialmente por outros meios que não por influência do sangue? As respostas que eu havia conseguido pareceram servir apenas para abrir caminho para novos questionamentos. Sendo ela uma nobre, por que trajava uma armadura de couro e não uma cota de malha de aço de qualidade? E porque estava com tanta dificuldade para reunir espadas para ajuda-la em sua missão? Talvez estivesse querendo passar despercebida, sem atrair a atenção de grandes lordes ou de pessoas próximas à família real.

A voz dela interrompeu meus devaneios:

- Qual era mesmo o nome do velho que lhe consagrou cavaleiro?

- Sor Wallet - respondi. - De um pequeno condado chamado Sangafunda.

A Fortaleza dos Sonhos EsquecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora