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Abri os olhos com alguma dificuldade, deixando que aos poucos a luz tênue de uma chama penetrasse minha visão ainda embaçada. O que havia acontecido? Um lampejo de pânico me invadiu a mente ainda confusa quando identifiquei o rosto adormecido de Lyabelle afundado em meu peito. Tentei mover os braços, mas fui impedido pela resistência firme do que imaginei, pela textura, tratar-se de uma corda de cânhamo ao redor dos meus pulsos. Levei alguns instantes para acordar completamente, mas quando isso aconteceu, percebi que Lyabelle e eu havíamos sido amarrados um de frente para o outro, o corpo dela firmemente pressionado contra o meu. Como ela permanecia perfumada mesmo depois de cavalgar horas sob o sol escaldante?

— Lyabelle – sussurrei, mas ela não atendeu. Ainda estava adormecida, e eu podia sentir a sua respiração quente na altura do meu peito. Seus cabelos estavam um pouco desgrenhados, mas permaneciam firme em suas tranças, apesar de tudo.

Olhei para os lados para tentar entender onde estávamos, mas tudo o que avistei foram algumas paredes rochosas iluminadas pela luz febril de uma fogueira. Alguns pelegos estavam espalhados pelo chão úmido e gelado, e algumas canecas de barro repousavam próximas ao fogo. O vento soprava lá fora.

— Lyabelle – chamei novamente, dessa vez um pouco mais alto e balançando o corpo para tentar acordá-la.

Ela finalmente despertou, e vi seus olhos grandes serem tomados por medo e confusão ao perceberem que estava amarrada a mim. Ela começou a se mexer, desesperada, lutando para se livrar das cordas.

— Pare com isso! – falei – Não vai adiantar, você está apenas me machucando.

Ela tentou mais uma vez, teimosa como de costume, forçando a corda contra os meus braços, e então desistiu. As cordas estavam mesmo muito apertadas. Ela inclinou a cabeça para tentar olhar ao redor.

— Onde estamos?

— Não sei. Algum tipo de caverna. E julgando pelo número de copos ali, estão em um grupo de quatro pessoas.

Lyabelle assentiu, confirmando que também podia ver os copos. Depois acrescentou:

— Há uma pequena mochila, ali, perto dos pelegos. Se conseguirmos chegar até ela, talvez possamos encontrar uma faca ou algo assim.

Eu não conseguia avistar a mochila da posição em que estava, mas concordei com o plano. Em um momento de possibilidades tão limitadas, não havia mais muito que poderíamos fazer.

— E como faremos isso? – perguntei.

Ela hesitou por alguns segundos, pensativa, e então tentou se soltar mais uma vez, balançando os ombros. A corda nem se moveu. E para ser plenamente sincero, aquilo machucou um pouco os meus sentimentos. Quero dizer, eu também estava desconfortável por estar amarrado no chão úmido de uma caverna desconhecida, mas ela parecia desesperada. De muitas formas, pensei, a situação poderia ser ainda pior. Ela poderia estar amarrada à alguém fedorento, por exemplo.

— Vou rolar por cima de você – ela disse.

Franzi as sobrancelhas.

— Rolar?

— Tem uma ideia melhor?

Tentei pensar em alguma outra alternativa, mas a única que surgiu em minha mente era ainda pior do que a sugerida por ela: rastejar, e isto além de ser mais difícil, também nos demandaria mais tempo.

— Certo – concordei finalmente. – Então no três?

Ela assentiu. Estava com o rosto virado para o lado, evitando o meu peito. Fiz a contagem de maneira progressiva:

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⏰ Última atualização: Oct 25 ⏰

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