Sinais

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                             "Sinais de que não temos culpa
                    De ficarmos assim
                              Como simples mortais
                              Sinais de que não conhecemos
                              O valor dessa vida voraz"
                                                        — Zé Ramalho.







Capítulo I

Ao crepúsculo, no final do túnel, uma luz irradiava intensamente, na mesma proporção que o coração do homem batia descompassadamente. De certa forma, ele estava consciente de que aquilo não passava de um mero sonho, mas parecia tão vívido que ele não conseguia se conter. Cobriu os olhos enquanto se aproximava do enorme clarão, ouvia uma voz no vento e sentia um cheiro doce, como o de lírios. Aos poucos, um sorriso surgia ao fundo.

Logo em seguida, o homem se sentou na cama com a sensação de que sua "alma" voltava ao corpo. Sua testa estava suada, e a respiração ofegante, como se tivesse acabado de fazer um exercício intenso. Seu olhar, assustado e avermelhado, perambulava pelo quarto até que, gradualmente, ele voltou a si.

Levantou-se da cama aos poucos, notando o próprio reflexo no espelho que estará próximo de seu leito, não podia negar, a sensação de como um sonho poderia exceder os limites do que ele conhecia como realidade ainda o intrigava. Seus dedos tocaram o espelho, buscando uma confirmação tátil de que estava desperto, que o mundo à sua volta era sólido e não uma continuação daquela experiência etérea. O reflexo o devolveu um olhar que não parecia inteiramente seu, como se algo tivesse mudado dentro dele, algo profundo e imensurável.

Ele suspirou, tentando desacelerar o coração, ainda acelerado pelo sonho ou, talvez, por algo mais. As imagens e sensações permaneciam vivas em sua mente – o brilho intenso, o perfume de lírios, a voz ao vento – como se tivessem sido impressas não apenas em sua memória, mas em sua alma.

Por que aquele sonho o afetava tanto? O que significava o sorriso distante e a luz no fim do túnel? O homem sabia que, de alguma forma, precisava encontrar essas respostas, mesmo que isso o levasse a explorar os recessos mais profundos de sua própria mente ou, quem sabe, a alguma verdade além dela.

Em uma tentativa desesperada de reencontrar-se, Pietro despiu-se e foi ao banheiro tomar uma ducha. A água gelada despertava seu corpo. Ele mantinha o hábito diário de banhar-se com água fria, pois sentia-se mais disposto para começar o dia. No entanto, parecia que dessa vez isso não lhe trouxe o alívio esperado. Desligou o chuveiro, secou-se com uma toalha e saiu lentamente do box.

Sem demora, vestiu-se como de costume: uma calça jeans desgastada, uma camisa de manga longa marrom com botões e um par de tênis brancos, levemente empoeirados. Em seguida, esquentou o café no micro-ondas e o bebeu rapidamente, enquanto olhava o relógio, que já anunciava seu atraso para o trabalho. Pietro estava habituado a receber algumas broncas do chefe, afinal, isso não era novidade para ele.

Com pressa, pegou o capacete e caminhou em direção à sua moto, estacionada em frente à casa. Subiu no veículo e, sem hesitar, deu partida, dirigindo-se ao local de trabalho, a apenas três quilômetros de distância.

Ao chegar ao trabalho, Pietro estacionou sua moto no local habitual, próximo à entrada do prédio da redação. O rugido do motor silenciou assim que ele o desligou, e, com um gesto rápido, retirou o capacete, revelando seus cabelos loiros um tanto bagunçados pela viagem apressada. Ele soltou um suspiro, ajeitou a camisa e, com passos rápidos, dirigiu-se para o hall de entrada.

As portas de vidro se abriram automaticamente, revelando o ambiente movimentado da redação. O som dos teclados, as conversas apressadas e o zumbido constante dos telefones criavam o cenário familiar. Mesmo atrasado, Pietro manteve uma expressão de quem já estava acostumado com a rotina caótica daquele lugar.

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