A noite era fria e densa, o céu coberto de nuvens escuras, como se o próprio universo estivesse ciente do que estava prestes a acontecer. Eu vivia numa pequena vila na região rural da França, cercada por campos que se estendiam até onde a vista alcançava. Era uma vida simples, marcada pelo trabalho árduo e pela união da família, mas tudo isso se desfez em um piscar de olhos.Os Antigos chegaram como sombras, invadindo nossas casas e levando tudo que era precioso. Os gritos dos meus vizinhos ecoavam na escuridão, e eu me lembrei da risada da minha mãe e do olhar protetor do meu pai. Eles não podiam saber que seus dias estavam contados. No calor da batalha, tentei me esconder, mas quando as lâminas reluzentes cortaram o ar, tudo que conhecia se desmoronou. Uma onda de dor e desespero me consumiu enquanto via minha família ser devorada pela crueldade.
E então, eu fui escolhido.
O líder dos Antigos me viu, não como um menino assustado, mas como um possível recruta. Eu era apenas um corpo, uma casca que poderia ser preenchida com a escuridão que eles adoravam. O último resquício de humanidade em mim gritou por liberdade, mas minha voz era engolida pelo desespero e pela morte.
A transformação foi uma experiência horrenda, uma viagem sem volta. Senti a dor de mil agulhas atravessando meu corpo, a sensação de estar sendo despedaçado e reconstruído ao mesmo tempo. Quando finalmente acordei, o mundo parecia mais vívido, mais intenso. Mas, ao mesmo tempo, estava perdido em uma escuridão que nunca imaginei que existisse. Eu era um vampiro agora, um monstro que precisava se alimentar, e a carne humana era um chamado irresistível.
Nos primeiros anos, sucumbi ao instinto. As noites eram uma caçada, uma dança macabra entre vida e morte. Mas, à medida que o tempo passava, a memória da minha família e a culpa começaram a me assombrar. Eu me vi refletindo sobre cada vida que tirei, cada grito que ecoou na minha mente. Eu queria gritar, queria chorar, mas tudo que podia fazer era ficar em silêncio, observando a mancha de sangue na minha alma se espalhar.
Com o tempo, comecei a me afastar. Queria me desvincular dos Antigos, daqueles que me transformaram. Mas a liberdade não vinha sem preço. A pressão deles era constante, como um punho ao redor da minha garganta. Cada passo que dava em direção à redenção era bloqueado por eles, os mesmos que tinham me ensinado a matar. Eles não podiam aceitar que eu quisesse sair do clã. Eu era deles, e sempre seria.
Agora, sozinho nas trevas, eu enfrentava um dilema eterno: a raiva e o ódio por aqueles que me fizeram isso, e o medo de me perder completamente na mesma escuridão que me abraçou. Quando a lua cheia iluminava o céu, eu me lembrava do garoto que fui. E no fundo da minha alma, uma batalha se desenrolava entre o homem que desejava ser e o monstro que tinha me tornado.
Nos anos que se seguiram à minha transformação, a solidão tornou-se minha única companheira. A dor da perda ainda doía profundamente. Minha família, inocente e amorosa, havia sido cruelmente arrancada de mim pelos Antigos. Eles invadiram a vila onde vivi, transformando um lar em um campo de destruição. O som dos gritos e o cheiro do sangue fresco permaneceram gravados na minha memória, um eco do horror que se repetia a cada noite.
Cresci em uma família humilde. O terror se alastrou como um incêndio, consumindo tudo ao meu redor. E quando a carnificina terminou, a única coisa que restou fui eu, um garoto perdido em meio às sombras do que um dia fora um lar.
Após minha transformação em vampiro, os sentimentos de culpa e ódio por mim mesmo tornaram-se insuportáveis. Não havia como escapar do que havia me tornado. Com o passar do tempo, aprendi a controlar a necessidade de sangue, mas a tentação permanecia. Cada vez que me via obrigado a sucumbir à sede, a raiva e a dor me consumiam. Como eu poderia ser responsável por vidas inocentes, assim como os Antigos haviam sido responsáveis pela minha própria tragédia?
Os primeiros anos foram um pesadelo de autocomiseração e arrependimento. A cada vítima que eu tomava, o peso da culpa aumentava, tornando-se uma âncora que me puxava para baixo. A raiva se transformou em desespero, e eu me vi em um ciclo vicioso, alimentando uma besta dentro de mim que não parecia querer ser domada. Eu sabia que os Antigos estavam observando, aguardando o momento certo para me trazer de volta ao clã. E enquanto me distanciava, a sensação de que estavam à espreita tornava-se mais real a cada dia.
Fugir para Nova Iorque foi uma tentativa de escapar desse passado sombrio. A cidade pulsante, com suas luzes brilhantes e o constante movimento das pessoas, oferecia um tipo de anonimato que eu desesperadamente desejava. Mas mesmo na vastidão da cidade, a sombra dos Antigos me seguia, e cada esquina que eu virava parecia ter um eco do que havia perdido. A vida era barulhenta, mas eu era um espectador solitário, incapaz de participar.
Enquanto tentava reconstruir minha vida, fundei a Valmont Enterprises, uma fachada perfeita que ocultava o peso de meu passado. O trabalho tornou-se uma distração, uma forma de evitar o que eu realmente era. Mas a verdade era que não havia sucesso ou riqueza que pudesse preencher o vazio que se instalara em meu ser. No fundo, eu ainda era um garoto que tinha perdido tudo, que carregava a culpa de um destino imposto por outros.
Com o passar do tempo, comecei a sentir que poderia me distanciar dos Antigos, mas o que realmente significava essa liberdade? Eu era um vampiro, e parte de mim sempre estaria ligado a eles. A luta interna entre quem eu era e quem desejava ser tornava-se cada vez mais intensa. E, enquanto a cidade brilhava sob a luz da lua, as memórias do meu passado ecoavam em minha mente, uma lembrança constante do que eu não poderia esquecer.
Certa noite, enquanto observava o horizonte da cidade, percebi que precisava enfrentar meus demônios. Não poderia continuar fugindo da verdade. A necessidade de entender meu passado, de confrontar os horrores que havia experimentado, se tornara urgente. Era hora de desvendar a história que me moldou e, talvez, encontrar uma forma de redimir a alma perdida dentro de mim.
O que eu realmente precisava era descobrir quem eu era, não apenas como um vampiro, mas como Sebastián Valmont, o homem que tentava escapar de um legado de dor e desespero.
Continua...
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Atração Perigosa
VampireCelina Morrow é uma jovem talentosa que vive sozinha em Nova Iorque, onde trabalha em uma das maiores corporações da cidade, a Valmont Enterprises. A empresa, controlada pelo enigmático Sebastián Valmont, é rodeada de mistérios que despertam a curio...