O silêncio entre nós era quase insuportável. Eu observava Sebastián, sentada ao seu lado no sofá, enquanto meu coração parecia uma batida descontrolada no peito. Ele havia prometido me contar tudo, e agora eu estava prestes a ouvir as verdades que temia. O clima estava tenso, e a única coisa que quebrava aquele silêncio de merda era o fogo crepitando na lareira.— Vou te contar tudo. — A voz dele era baixa, quase um sussurro, mas o peso por trás daquelas palavras era imenso. — Mas você precisa entender... o que eu fui não é quem eu sou agora.
Ele fez uma pausa, seus olhos fixos no chão, e eu sentia uma sensação fria subindo pela minha espinha. Eu sabia que a conversa seria difícil, mas ouvir aquilo diretamente dele? Meu Deus, não estava preparada. Um nó se formava no meu estômago.
— Há muitos anos... eu fui transformado à força. — Ele começou, sua voz rouca. — Minha vila, minha família... tudo que eu amava foi destruído. Os desgraçados dos Antigos me deram duas opções: morrer ou ser como eles.
Meu coração apertou ao ouvi-lo falar daquilo. A dor que carregava em cada palavra me atingia como um soco no estômago, mas eu permaneci quieta, tentando absorver cada detalhe.
— Eles não apenas me transformaram em um vampiro. Me fizeram virar uma porra de uma arma. — Ele levantou o olhar, os olhos dele queimando em um misto de dor e culpa. — Um assassino, Celina. Eu matei. Caçava como um animal, sem controle. Eles me manipularam, quebraram minha vontade até que eu fosse só mais um monstro.
Senti o ar ficando preso nos pulmões. Era muita coisa pra processar. A imagem de Sebastián, o homem misterioso que eu admirava e pelo qual me sentia absurdamente atraída, estava se desfazendo diante de mim. Agora, tudo parecia terrivelmente errado.
— Eu lutei contra isso o máximo que pude, mas chegou um ponto em que... eu desisti. — Ele abaixou a cabeça, e a voz dele vacilou. — Fiz coisas, Celina. Coisas que me atormentam até hoje. Merda que eu nunca vou conseguir apagar.
A dor e o arrependimento estavam estampados no rosto dele, mas eu? Eu não conseguia dizer nada. Como eu deveria reagir depois de ouvir isso? Um lado de mim queria acreditar que ele havia mudado, mas, caramba, o outro lado estava apavorado.
— Isso foi há muito tempo. — Ele continuou, tentando recuperar algum controle. — Desde então, eu luto contra isso. Contra minha sede, contra tudo. Me afastei dos Antigos, mas eles nunca me deixam em paz.
Eu o encarava, mas minha cabeça estava uma bagunça. Não conseguia parar de pensar nas palavras de Adrian, nas dúvidas que ele havia plantado. O quanto realmente eu conhecia Sebastián? Como ele esperava que eu confiasse nele depois de tudo isso?
— Você me prometeu que me contaria tudo. — Minha voz saiu baixa, mas firme. — Isso é tudo mesmo? Você não tá escondendo mais nenhuma porra de coisa?
Ele hesitou. Aquele segundo de silêncio foi como um tiro no meu peito. Meu coração afundou no mesmo instante.
— Eu não estou escondendo mais nada. — Ele respondeu, mas a hesitação em sua voz me fez duvidar. Porra, ele estava mentindo de novo?
Me levantei de repente, com uma mistura de raiva e medo me consumindo. Como ele podia esperar que eu simplesmente aceitasse tudo isso e continuasse? O que me garantia que ele não fosse me foder da mesma forma que fez com tantas outras pessoas?
— Como você espera que eu acredite em você depois de tudo isso? — As palavras saíram antes que eu pudesse me conter. — Como eu sei que você não vai me machucar também?
Sebastián se levantou e veio até mim, seus dedos segurando meus braços, o toque dele quente e ao mesmo tempo frio como gelo. Os olhos dele estavam fixos nos meus, cheios de intensidade, de paixão, mas também de algo que me assustava.
— Eu jamais faria isso com você. — A voz dele tremeu, e eu senti a sinceridade, mas era o suficiente? — Celina, você é o único motivo pelo qual eu ainda consigo me controlar. Não posso te perder. Não você.
Aquilo me atingiu com força. Eu sabia que ele estava falando a verdade, mas também havia algo perigoso naquilo, uma obsessão que começava a me fazer questionar tudo.
— Eu preciso de tempo. — Murmurei, afastando-me dele. — Preciso pensar. Isso tudo... é demais pra mim.
Peguei minha bolsa e fui em direção à porta, sem olhar diretamente para ele. O peso de tudo que ele havia dito parecia uma pedra no meu peito.
— Eu vou te dar o tempo que precisar. — Ele disse, sua voz baixa, quase um sussurro.
Dias depois...
O frio de Nova Iorque parecia refletir exatamente como eu me sentia por dentro. As palavras de Sebastián ecoavam na minha mente o tempo todo, me sufocando. Mesmo depois de me encontrar várias vezes com Clara e despejar tudo, nada parecia fazer sentido. Era tudo tão complicado.
E Adrian... Ele estava sempre lá, me deixando ainda mais confusa, plantando dúvidas na minha cabeça. Cada vez que eu começava a acreditar em Sebastián, Adrian surgia com mais uma porra de revelação que me fazia questionar tudo de novo.
Cheguei em casa depois de um longo dia tentando evitar pensar nele. Mas quando entrei no apartamento, algo na mesa de centro chamou minha atenção. Um objeto pequeno, antigo, coberto de pó. Tinha símbolos estranhos gravados, algo que eu nunca tinha visto antes, mas que, de algum jeito, parecia familiar.
Peguei o objeto com os dedos trêmulos, e uma sensação estranha percorreu meu corpo. Algo dentro de mim reconhecia aquilo. Era como se uma memória há muito esquecida estivesse prestes a emergir.
Porra... o que está acontecendo?
Sabia que aquilo não era apenas um objeto qualquer. E sabia também que o que quer que viesse a seguir, mudaria tudo. Eu estava no meio de algo muito maior, e não fazia ideia se estava preparada para enfrentar.
Continua...
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Atração Perigosa
VampirCelina Morrow é uma jovem talentosa que vive sozinha em Nova Iorque, onde trabalha em uma das maiores corporações da cidade, a Valmont Enterprises. A empresa, controlada pelo enigmático Sebastián Valmont, é rodeada de mistérios que despertam a curio...