7: O Beijo

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Eu observei o teto por mais alguns minutos depois de fazer... Aquilo. Não tive força para levantar no começo, tratei do ferimento com agilidade e saí do banheiro praticamente renovada, mesmo que arrependida. Liguei a televisão e deixei que tocasse uma música qualquer, mas me arrependi nas primeiras falas enquanto caminhei até a cozinha.

"Amou daquela vez como se fosse a última"

Porra, até isso quer me foder agora. Música triste em momentos tristes, oba. Eu fui interrompida da minha depressão momentânea por alguém batendo à porta. Vou até lá e abro com cuidado, vendo um rapaz baixo de aparência andrógina usando um par de óculos semelhantes aos de Lenny.

"Verônica Smirnov, presumo? Boa noite, meu nome é Léo," ele disse estendendo a mão, "eu vim aqui por causa de uma missão. Me foi informado que há atividade paranormal em sua casa, está correto?"

"Uh... Acho que não está não," eu respondi estranhando.

"Então explique a presença de espíritos presos neste ambiente. Eu senti isso no segundo em que abriu a porta," ele disse quase arrogante.

"Quem é você hein?! É essa tal O.I.I?"

"O.I.I? Vejo que conheceu um dos malucos que acreditam de verdade que o mundo vai acabar por causa de um demônio. Não, não sou da O.I.I, eu sou demonologista, formado oficialmente pelo Vaticano e medium autorizado a investigar atividades paranormais, além de ter a devida autorização de realizar um exorcismo, desde que seja pequeno," ele respondeu pomposo.

"Tá, agora pode sair da minha casa? Não tem nada de assombrado aqui!"

"Bem, foi detectada atividade paranormal nesta cidade, quando cheguei, perguntei se havia algum rumor sobre casas assombradas e olha só que coincidência: disseram que a casa da família Smirnov, que agora era de Verônica Smirnov. Relataram que enquanto estava fechada, algumas pessoas ouviram o piano tocar, e barulhos no quarto do canto esquerdo, agora dizem que a luz deste quarto é a única que não ascende. Como pode rebater isso, senhorita Verônica?"

"Já te falaram que você é um porre?" Eu disse honestamente e fechando a porta na cara desse chato. Voltei meu caminho até a cozinha e quando cheguei lá, algo que eu de fato não esperava aconteceu.

O homem mascarado estava ali, parado, encostado no balcão segurando uma faca, estranhamente desleixada. Ele olhava para o objeto enquanto eu pulava de susto, seus olhos escuros subiram para me encarar e suas mãos deixaram a faca de lado, como se tivessem encontrado um brinquedo mais divertido. Eu era esse brinquedo.

Com passos rápidos eu corri até a porta, mas ele veio atrás de mim e segurou com seus braços fortes antes que eu pudesse abrir e eu me afastei do trinco enquanto ele não desviava aqueles intensos olhos castanhos de mim. Continuei tentando me afastar e tropecei por cima do sofá, o virando comigo junto, e me arrastei pelo chão até alcançar a escada, onde me levantei e subi os degraus com passos rápidos, o cara vindo atrás de mim.

Meu coração estava a mil. Eu ofegava tanto de adrenalina, quanto de medo, eu tentava formular um plano para escapar, mas nada parecia útil, o pânico causa erros e eu estava desastrada correndo até meu quarto enquanto o homem vinha atrás de mim, seus passos agora mais lentos, como um gato que caça um rato e sabe que ele nunca terá onde se esconder. Abro a porta do quarto desesperada e a velocidade e peso dos passos aumentam até a porta, tento fechar mas ele empurra aquela peça de madeira com toda a força, meu desespero fica cada vez maior e finalmente ele me vence, abrindo a porta com violência e me derrubando no chão.

Me arrasto para trás cada vez mais aterrorizada imaginando todos os piores cenários do que esse cara poderia fazer comigo, mas foi quando eu encostei minhas costas na parede, quando as luzes começaram a piscar e a cada segundo o homem mascarado estava mais próximo, quando a lâmpada explodiu e tudo ficou escuro, que eu senti lábios tocarem os meus.

Estática. Era assim que eu me encontrava enquanto ele pressionava seus lábios nos meus, logo envolvendo sua língua no beijo salgado de minhas lágrimas. A última vez que eu havia beijado alguém foi ano passado, com uma pessoa que já foi muito importante para mim, mas que teve um fim trágico.

Eu sempre sentiria falta dela, até mesmo na diferença de sensações que tive.

Beijar aquela pessoa tinha sido maravilhoso por que eu amava ela. Eu amava seus olhos, lábios, tudo nela, mas com esse homem, era diferente, mas ainda sim era incrível. Fosse a sensação de prazer que eu senti ou o sentimento avassalador da culpa. Deveria esperar mais antes de seguir em frente? É covardia? Ninguém está aqui pra me julgar, além de mim. Foi naquele momento que percebi: afinal, o que eu tinha a perder? Se isso é inevitável, eu posso me aproveitar disso, certo? E dessa forma, eu apenas aceitei aquele beijo, pelo menos por enquanto, já que eu não tinha muito o que fazer sobre aquilo.

Mas, tirando a mim e ao homem desse estupor, alguém entrou no quarto e mandou ele sair de cima de mim, o homem se afastou e eu o vi pular a janela, dando uma última olhada em mim.

"Verônica, pelo amor! O que foi isso?! Tá querendo morrer sua maluca?!" Disse Lenny e mais atrás, Léo vinha com um esquipamento estranho, com fones e luzes piscando.

"Cale a boca, irmãzinha, está atrapalhando o meu detector."

"Cala a boca você, minha amiga tá no chão aqui!"

"Pelo menos eu tenho equipamento," ele disse voltando a andar pelo quarto, "nesse quarto não tem nada."

"O-o que está acontecendo?" Eu perguntei.

"Esse cara chato é meu irmão gêmeo prodígio, Léo," explicou Lenny.

"Eu também te amo, sua bestinha," ele disse tirando os fones, "tem três espíritos nessa casa, um no quarto da menina, que é de fato Marie, um no quarto trancado e um que eu ainda não localizei. O terceiro não se move."

"Não tem espírito porra nenhuma," eu disse, "vocês são um par de malucos! Tem um estuprador atrás de mim, não um fantasma, vão embora, por favor!"

A contragosto, eles foram embora da minha casa e eu tranquei tudo assim que saíram. Decidi que esse dia tinha sido cheio demais para ficar pensando muito, eu pretendia tomar um banho longo, mas alguém mais uma vez bateu à porta.

"Eu juro por Deus que se for mais um lunático falando de espíritos eu me mato!" Disse estressada, mas ao abrir a porta, eu vi Nina, "NINA!" Abracei ela que retribuiu com um sorriso.

"Que saudade! Desculpa ter sumido, sabe como é, viagem de família! Como você está?" Ela disse alegre.

"Cara... Eu tenho tanta coisa para te contar!" Puxei ela para o sofá, "se prepara que a história é grande."

"Pode falar, quero saber a fofoca do começo!"

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