9: Thriller

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Na sexta da mesma semana, cheguei em casa um pouco mais alegre que o normal. Tinha passado a tarde lendo um livro muito interessante sobre halloween, que por sinal, é hoje. Pelo que Lenny me falou, a cidade tem o mesmo costume norte-americano de pedir doces, o que parece muito legal. Arrumei uma fantasia de vampira gótica e estava mais que feliz em usá-la. Deixei uma playlist aleatória de halloween tocando e preparei o suco com corante vermelho para dar às crianças como se fosse sangue. Eu amo halloween!

Michael Jackson tocava na televisão quando a primeira criança tocou na campainha. Pulei do sofá e atendi a porta, vendo uma garotinha de olhos verdes e vestido rosa segurando um ursinho, tinha sangue falso escorrido em sua testa. Ao seu lado, um garoto um pouco mais velho e loiro estava fantasiado de Link, do jogo Zelda.

"Doces ou travessuras!" Eles disseram juntos.

"Boa noite, jovem fantasma e senhor Herói! Eu sou Verônica, a vampira!" Eu disse, "tomem alguns doces e sangue para beberem," eu disse colocando chocolates nas cestas e entregando o suco em copos descartáveis.

"É sangue de verdade?!" A menininha perguntou.

"Esse é especial!" A menina provou e seus olhos se iluminaram.

"É suco de limão! Prova Ben," ela disse para o amigo, que provou.

"Nossa! Tá bem gostoso!" Ele disse, "obrigado, dona Verônica."

"Não é nada, tenham uma boa noite!"

Eles se afastaram com passos saltitantes e alegres enquanto falavam como agora eram vampiros já que beberam sangue. Eu ri enquanto fechava a porta, mas algo me impediu. Um homem usando... Aquela máscara. Estremeci e vi o casaco bege.

"Você de novo?" Perguntei.

"Calma, princesa, não é tão ruim assim, vim apenas provar do seu sangue," eu tive medo que essa piada não fosse sobre vampiros, mas estranhei ainda mais quando ele fechou a porta atrás de si e me guiou até o sofá, me jogando ali com suavidade e violência ao mesmo tempo. Ele e abaixou diante de mim, as luzes piscaram antes de apagar completamente, Michael Jackson ainda tocando Thriller e ele disse numa voz grave.

"Abra as pernas," estremeci e não fiz o que ele pediu, ele repetiu com mais força e com um leve tom de ameaça na voz.

"Eu não posso!" Eu disse.

"And no one's gonna save you
From the beast about to strike"

Cala a boca Michael Jackson!

"Eu não perguntei isso, eu mandei abrir as pernas," ele respondeu e as abriu sem pena, tirou minha calcinha com agilidade e eu fechei as pernas instintivamente, lembrando em que período do mês eu estava, "abra logo, não me importo com um pouco de sangue."

"Cara, isso é surreal, tipo, não, meio que é meu útero se desfazendo!" Eu disse aterrorizada.

"Girl, but all the while
You hear a creature creepin' up behind
You're out of time"

"E quem disse que eu ligo?" Ele disse abrindo minhas pernas mais uma vez e enfiando a cara ali, removendo a máscara antes que eu pudesse ver seu rosto. Gemi alto automaticamente, nunca tendo experimentado algo tão... profano. Aquilo era profano e gostoso ao mesmo tempo. Aquela língua, aqueles olhos, aquelas mãos...

Alguns minutos depois, gemi alto com o orgasmo e vi o homem se afastar de mim, limpando sua boca manchada de sangue... Meu sangue... Ele se levantou e sentou do meu lado ao sofá, arrumando a máscara e colocando sua mão sobre minha coxa.

"Espero que tenha sido bom, querida, por que seu gosto é ótimo," ele disse depois de alguns segundos, levantando-se e mais uma vez indo embora pela janela.

"Cause I can thrill you more
Than any ghost would ever dare try"

Pedófilo imundo, eu te abomino Michael Jackson. Agora eu vou ser fã do Puff Daddy.

A campainha toca mais uma vez e eu troco a música, sem condições de continuar ouvindo a voz de Michael Jackson depois dessa situação. Passa a tocar Goo Goo Muck do The Cramps e eu abro a porta.

"Doce ou travessura!" Dizem dois meninos morenos, um fantasiado de Pânico e outro de Drácula, que sorriu muito ao ver a minha fantasia.

"Olá, crianças, tomem aqui, é sangue para vocês ficarem mais refrescados," entreguei a bebida vermelha e eles tomaram curiosos.

"É suco! Tá muito bom moça," o garoto vestido de pânico disse.

"Que bom, tomem aqui uns chocolates por conseguir tomar do sangue! Agora são vampiros!" Eu disse entregando os doces e bagunçando os cabelos deles. Depois que saíram eu comecei a surtar silenciosamente, quer dizer, um cara que tentou me afogar outro dia estava me chupando na porra do meu sofá, isso literalmente nunca aconteceu comigo. Pelo menos não nessa ordem.

A noite seguiu assim, até pelo menos uma da manhã quando acabaram os doces e não haviam crianças pedindo doces nas ruas. Eu decidi que parecia uma boa idéia ir dormir naquele momento, mas meus planos foram interrompidos por alguém batendo na porta.

"Que não seja mais crianças," murmurei, mas quando abri, vi Lenny e Léo, que parecia irritado vestido de Luigi enquanto sua irmã estava vestida de Mário, "preferia as crianças."

"Oi, Verônica, viemos te chamar pra uma festa!" Lenny disse alegre.

"Festa? Já está bem tarde, não vou não," eu respondi.

"Ah, vamos por favoooor," ela pediu, "até o Léo vai!"

"Eu não sei, amanhã eu tenho trabalho," eu disse, mesmo sendo mentira. O meu patrão me deu folga.

"Vai, por favor, você precisa sair mais de casa," ela disse.

"Eu sei, mas festas me dão preguiça."

"Então você não gosta?"

"Pelo contrário, eu adoro, mas morro de preguiça. Deixa eu ficar aqui mesmo, Lenny," eu disse por fim fechando a porta, mas Lenny era persistente. Colocou o pé ali e disse:

"Se você for, eu te pago vinte reais."

"Afinal, eu adoro sair de casa, deixa eu só pegar uma bolsa pra colocar o dinheiro e o sangue falso," eu respondi, ela finalmente tendo me convencido.

Coloco tudo que eu ia precisar dentro da bolsa e ouço passos atrás de mim.

"Já vou, Lenny," eu disse, mas quando me virei, quem estava ali era o homem de óculos que vi na biblioteca outro dia, "quem é você?!" Eu disse num salto.

"Não vá a essa festa," ele disse e seu rosto começou a se desfigurar, transformando-se em algo estranho e medonho. Horror tomou minha face e eu congelei de medo. Com suas mãos finas e não-humanas, ele cobriu meus olhos como se fosse um lençol, mas ardeu como se aquilo fosse aquecido em rubro. Vento passou a nos circular e bateres de asas, como se fossem muitas mariposas, "veja," o homem disse, "abra seus olhos."

E eu caí.

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