8:O Padre Ulisses

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  Na manhã do domingo, eu decidi que iria até a igreja. Talvez esses problemas que estou passando seja falta de "Deus", meu avô diria isso. Puxo o meu único vestido bom o suficiente para ir a uma igreja e visto. Faço uma trança embutida em meus cabelos e saio de casa tendo tomado um pouco de café.

No caminho, tudo é silencioso, agradeço internamente, afinal, odeio barulhos cedo. Não sabia se estava tendo missa, mas se não tivesse era melhor, talvez eu pudesse me confessar ou melhor, tentar rezar.

Quando chego, agradeço internamente por estar vazia e entro, vendo alguém estranhamente jovem organizando algumas coisas pela igreja. Imaginei, inicialmente, ser um coroinha, mas logo percebi que era velho demais para isso.

"Bom dia," eu disse me aproximando. O homem se virou e pude ver um par de olhos azuis e muitas, muitas, tatuagens.

"Bom dia! Posso ajudar? Não lembro de te conhecer..." Ele disse me encarando.

"Eu sou Verônica Smirnov, a bibliotecária."

"Ah sim! Seja bem vinda a Igreja Santa Edwiges. Eu sou o padre Ulisses, um prazer te conhecer," ele apertou minha mão e eu me repreendi internamente por achar um jeito padre atraente, "mas afinal, o que te trás até aqui num domingo tão cedo?"

"É que andam acontecendo... Coisas estranhas," eu disse.

"Estranhas?"

"Ontem um cara apareceu na minha porta falando que era autorizado pelo Vaticano pra brincar de caça fantasma."

"Ah, você conheceu o Léo," ele disse com uma risada, "ele é mesmo autorizado pelo Vaticano pra isso, mas se ele te falou que foi autorizado a realizar exorcismos, é mentira, ele é jovem demais para isso."

"Jovem? Existe idade pra realizar isso?"

"Não, mas existem anos de estudo, ele é graduado em demonologia há apenas dois anos, é novo demais para isso."

"Entendo," disse por não saber mais o que responder. Ele deixou uma bacia de ferro em um lugar e eu entendi que aquilo era água benta.

"Se você estiver mesmo sendo assombrada por espíritos ou algo assim, eu posso ir rezar na sua casa ou fazer um amuleto benzido para você. Não é algo difícil," Ulisses disse se encostando numa mesa, virado para mim e valorizando de um jeito bastante profano os músculos que eu não sabia que padres tinham. Talvez apenas Fábio de Melo, mas ele não conta.

"Não precisa se preocupar, acho que eu consigo lidar com isso," eu disse com um sorriso, mas precisava sair dali. Que pecado um padre desses!

"Não confie no mundo dos espíritos, Verônica, especialmente se não tiver certeza que são espíritos," ele disse pegando minha mão e me fazendo sentir seus anéis gelados sobre meus dedos, me fazendo estremecer. Esse era o padre mais estranho que eu já vi na vida.

"Sem querer ofender, mas padre pode ter tatuagem?" Perguntei curiosa.

"Na bíblia não há nada que incentive nem que abomine isso, mas eu as fiz antes de me tornar padre, você sabe que adolescentes fazem coisas idiotas e se arrependem disso depois," eu sabia bem daquilo.

"Hem-hem," tossi,"isso é um fato. Eu vou precisar ir embora, vou até o mercado, passei aqui só para tentar conhecer o padre e descobrir se aquele maluco era de fato medium," eu ri.

"Sim, ele é de fato medium, ignore suas esquisitices e ele é engraçado, tenha um bom dia," ele disse, voltando aos seus afazeres enquanto eu me afastava da igreja.

Quando eu pus o pé fora da igreja, um pensamento me ocorreu: por que tudo nessa cidade era tão estranho? O padre jovem e tatuado, um par de irmãos malucos envolvidos com organizações diferentes, um provável sociopata obcecado por mim, uma garota com a boca completamente fodida com um ex pior que ela e um monte de mistérios sobre meu bisavô. Onde eu fui me meter?!

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