10: O Suicídio dos Gêmeos Fontenelle

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GATILHOS

Acordei alguns minutos depois, confusa por o que quer que tivesse acontecido. Eu estava no chão, ouvia um ruído alto e um som de algo balançando. Tentei olhar ao redor, mas a tontura e a dor de cabeça me atingiu, optei por levantar e olhar para baixo até a tontura passar.

Fui andando com passos largos até o som, consegui levantar a cabeça e vi que a porta estava escancarada. Notei que o som vinha do lado de fora, então continuei seguindo. Senti sangue escorrer pelo meu nariz e limpei, estranhando a situação. Olhei para a árvore de onde vinha o barulho e dei um grito audível. Lágrimas rapidamente se formaram em meus olhos e eu dei dois passos para trás.

Ali, balançando e pendurados por duas cordas, jaziam os corpos de Lenny e Léo.

Caí de joelhos, ainda em choque, as lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos e minha respiração ficou descompassada, não sentia mais minhas pernas e meus pensamentos estavam a mil. As palavras de Lory continuavam a voltar para mim, as carícias, os sorrisos, as piadas, os assassinatos... Cada segundo que eu passava ali, eu me afogava ainda mais na sensação de desespero. Uma voz na minha cabeça continuava repetindo "ele vai matar todos até que só reste você, igual Lory" e "a culpa é sua". A última se repetia como um mantra, até que comecei a tentar contar de um a dez. Depois de algum tempo, eu me acalmei, mas não conseguiria olhar para aqueles corpos por enquanto. Entrei em casa e disquei o número da polícia no telefone fixo, já que meu celular ainda estava destruído.

Mais algum tempo depois, a polícia chegou até minha casa e uma policial pediu para ficar comigo a sós para fazer perguntas. Nos sentamos na mesa grande enquanto eu segurava um copo de água com açúcar para tentar me acalmar, mas minha mãos ainda tremiam.

"Pode dizer seu nome completo?" Ela perguntou.

"Verônica Silva Smirnov," eu respondi.

"Ótimo. Eu sou a Delegada Helloise, é um prazer te conhecer. Qual sua relação com as vítimas?"

"Lenny era uma das minhas melhores amigas," eu comecei e meus olhos encheram de lágrimas novamente, "ela foi a primeira pessoa que alugou um livro na biblioteca, a gente ficou próxima bem rápido."

"Ela tinha tendências suicidas?"

"Não... Eu nunca percebi nada assim, quer dizer, ela mencionou ter sofrido bullying na antiga escola, mas não imaginei que chegaria num nível assim," eu expliquei tentando segurar as lágrimas teimosas.

"E o garoto?"

"Léo? Eu não o conheci muito bem, ele causou uma má impressão quando o conheci, então não me aproximei muito," respondi.

"Má impressão? Pode falar sobre isso?"

"Ele chegou aqui em casa falando que era autorizado pelo Vaticano pra caçar fantasmas, eu não acreditei nele, mas depois eu confirmei com o Padre Ulisses," eu expliquei, ainda nervosa, "mas eu duvido que minha casa seja assombrada."

"Entendo. O que estava fazendo na hora que isso aconteceu?"

"Eu... Não sei, quando as crianças pararam de pedir doces, eu ia guardar as coisas, mas eles bateram na porta me chamando para uma festa, no começo eu recusei, mas a Lenny me ofereceu vinte reais e eu tinha ido ali," apontei o local, mais uma vez as lágrimas voltaram, "e apareceu um cara, daí ele cobriu meus olhos e eu desmaiei..."

"Espera, tinha mais alguém aqui?"

"Sim, era um cara alto, usando um óculos, terno preto, cabelos meio claros e mãos estranhas," a mulher anotou.

"Você conhecia ele? Já tinha visto?"

"Uma vez eu vi ele na biblioteca depois de Tim convulsionar," eu lembrei do episódio.

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