Quer ir lá pra casa?

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Naquela noite, Moedas conversou com uma garota sem ser xingado, ironizado ou criticado. Ele também não serviu como fetiche de ninguém. Ele sentia como se estivesse em um sonho. 

- É muito ruim você sair do Brasil assim e voltar depois de tanto tempo. - falou a loira, prendendo o cabelo em um coque bagunçado - Na verdade, parece que é muito tempo, mas não é. São só as coisas e pessoas que mudam muito rápido. - falava, enquanto os dois caminhavam na calçada daquela rua incrivelmente calma para um sábado à noite.

- Você cresceu lá fora, digamos assim. Boa parte do início da sua juventude e adolescência foi lá. Deve ser complicado passar de 20 pra 25 e voltar assim. 

Naquele momento, uma bicicleta estava passando por eles e Chico, por instinto, puxou Ana para perto de si, deixando espaço suficiente para o ciclista não a atropelar.

- Opa! - disse ele, notando que ela parou de caminhar. Ela parecia um pouco surpresa com o ato repentino.

Chico engoliu em seco e parou seus passos. Suas mãos estavam firmes e quentes em ambos os braços de Ana. Ele tinha parte do corpo da moça em frente ao seu e seu rosto acabava por ficar muito próximo ao ombro e pescoço dela. O perfume doce o embriagou novamente. Era difícil para ele se sentir dessa forma com uma garota ou em um encontro. Ele é sempre cheio de si, um super atacante. Mas sentia como se seu lado dengoso e conquistador estivesse tomando conta.

- Tá tudo bem? - perguntou.

Ele notou um suspiro sôfrego sair da boca da loira no mesmo instante em que sua voz chegou aos pés do ouvido dela. Muito rouca, baixa, quente.

- Faz... - ela se soltou e começou a caminhar um pouco na frente do moreno - Faz algum tempo desde que saí com alguém. E você é o primeiro cara brasileiro em... - ela parou de caminhar e se virou para ele, olhando-o nos olhos - Em 5 anos. - completou, sorrindo levemente.

Ele deu mais um passo e parou, notando que havia ficado muito próximo dela. Ela não era da mesma altura, mas poucos centímetros mais baixa. Chico retribuiu o sorriso e fitou ambos os olhos escuros de Ana. Ela parecia um pouco nervosa com a aproximação.

Ele ergueu a mão e a levou para o rosto delicado da garota, acariciando sua bochecha lentamente. Os olhos continuavam firmes nos dela.

- Você não precisa se preocupar, loirinha. - disse ele, baixo, já que a distância era quase nula entre eles - E nem ficar nervosa assim. - ele riu levemente, colocando o cabelo atrás da orelha dela antes de deslizar a mão até a lateral do pescoço dela e a deixando ali por alguns segundos.

Ela pensou em muitas coisas para dizer, mas nada saía de sua garganta. Então, Chico continuou.

- Quer dar uma volta na praia? - pausou - É um ótimo lugar pra ficar confortável. - ele escorregou a mão para o meio de seus corpos, pegando a dela - Não tem como não ficar relaxado com o barulho do mar. - sorriu.

Ela apenas assentiu, antes de Francisco a puxar pela mão para atravessar a rua. Nada foi dito, mas Ana deixou-se levar. Ela não sentiu maldade nenhuma naquele homem. 

- Tá escuro, mas tá lindo, papai! - exclamou Chico, abrindo os braços pro céu e respirando fundo. Fechando os olhos por um momento. Como ele amava aquele lugar!

Ana o encarou e, por um momento, sorriu. Ele era tão espontâneo.

Francisco tirou os tênis e as meias, deixando os pés livres na areia. Ana fez o mesmo. Ambos os tênis estavam encostados um no outro. O moreno então se sentou na areia, em uma distância considerável do mar, e ela fez o mesmo. As luzes dos postes e da vida noturna na calçada deixavam a cena com uma meia luz confortável.

Fingir sem FugirOnde histórias criam vida. Descubra agora