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Os olhos de Ramiro demoraram a identificar onde estavam. O teto não se parecia com o teto de seu quarto e até mesmo o cheiro era diferente.

Quando seus olhos pousaram em um relógio digital na parede, vendo que eram nove e vinte e quatro da manhã, sentiu seu corpo inteiro entrar em estado de alerta.

Ele havia dormido até mais tarde, o que nunca havia acontecido antes, além de não ter feito sua rotina da noite. Não escovou os dentes, nem passou o fio dental, não havia vestido seu pijama e nem lido alguns capítulos de algum livro antes de dormir.

Além do mais, sequer havia dormido em casa.

Olhou para os lados e se assustou quando a porta do banheiro se abriu, revelando um Kelvin só com uma toalha na cintura e cabelos molhados. Olhou o homem de cima a baixo e ao ser pego, desviou o olhar e se levantou, correndo para o banheiro.

Kelvin deu dois toquinhos na porta.

— Pedi para que trouxessem mais uma escova de dente descartável pra você, já que usei a que estava aí. Deixei na bancada mesmo, tá?

Ramiro não respondeu, mas pegou a escova, detestando perceber que não era a sua escova criteriosamente comprada e aprovada por sua dentista.

Escovou os dentes duas vezes, sentindo a falta de seu fio dental e lembrou que sua roupa estava do lado de fora do banheiro.

Abriu uma brechinha da porta para ver se Kelvin ainda estava ali e ao ver o acompanhante amarrando os cadarços, saiu rapidamente do cômodo.

— Precisamos conversar. — Ramiro falou, cruzando os braços para cobrir a nudez do tronco.

O jeito que Kelvin o olhou já deixou bem claro que não teria respostas positivas.

E logo Ramiro sentiu o corpo inteiro entrar em estado de alerta.

Tudo bem que a noite havia sido péssima, que tenha tido um ataque de pânico e tenha suado demais nos braços de Kelvin, também havia conseguido tirar a roupa, abraçar e até mesmo beijar!

Kelvin não podia deixar isso assim.

— Eu preciso ir.

— Iremos continuar com as aulas?

— Hum... não. Desculpa.

Ramiro se esqueceu no mesmo momento de como respirava e Kelvin o olhou com... pena?

Não! Ramiro odiava ser olhado daquela maneira. Não era nenhum coitado.

— Vou te dar uma boa avaliação no site. — informou sem conseguir olhar para Kelvin.

— Não, nem precisa. Não cumpri o que deveria e vou devolver seu dinheiro, ok? Preciso só que me passe sua chave pix.

— Não quero o dinheiro de volta, pode ficar. Você teve muito mais trabalho comigo do que costuma ter com os outros clientes.

— Até que não, sabia?

— Não quero reembolso. Gostaria de saber se tem algum colega que possa me recomendar.

— Não desistiu dessa coisa de aula?

— Não é uma coisa, é meu processo de aprendizado. Se pensar direito, talvez lembre de alguém que tenha a mesma paciência que você e não se importe muito com suor. Confio no seu julgamento.

— Ramiro, caras como você tem namorado, não precisam de um acompanhante. Esquece isso.

Ramiro negou com a cabeça, sentindo a paciência acabar. Estavam indo na ordem de uma conversa habitual, porque Kelvin não seguia?

Os Números do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora