Sintra 2020
Lá vou eu de novo começar outra etapa da minha vida.
Fui aceite numa empresa de arquitectura e hoje é meu primeiro dia.
Deixem apresentar-me:
Juliette Áurea Correia de Castro, 32 anos, licenciada em design e decoradora de interiores de momento. Nasci e sempre vivi aqui em Sintra e é por aqui que quero terminar meus dias.
Cheguei cedo à empresa. Na recepção foi-me dito para aguardar e foi isso que fiz. Sentei-me num sofá e entretive-me com um jogo de cores no meu telemóvel.
Uma voz grave entrou porta a dentro e eu levantei a cabeça olhando o casal que acabara de chegar.
Pestanegei duas vezes. Aqueles olhos... eu conhecia aqueles olhos, só não lembrava de onde.
Fui tirada deste pensamento com uma voz a chamar-me.
- Juliette, venha comigo. - disse a mulher.
Segui os dois. Ele entrou numa das salas e eu segui para outra.
- Sou Andreia, uma das arquitectas. De momento vai ficar aqui na sala ao lado da minha. Não é muito grande, mas confortável.
Aqui neste gabinete projectamos e apresentamos a obra completa ao cliente. Esperamos contar consigo agora que decidimos avançar também na decoração e paisagismo.
- Eu estarei agradecida pela oportunidade e espero não desiludir.
- O senhor Rodolffo D'Ávila - aquele que entrou comigo, não é muito sociável, mas é boa pessoa. Ele é o chefe de todos nós. Há 3 coisas que precisas saber a era dele.
- Não falar com ele se ele não te dirigir a palavra.
- Se ele pedir café é sempre sem açúcar.
- Não gosta de ver ajuntamentos nem pessoas a falar da vida alheia- Mas café também é minha responsabilidade?
- É se ele pedir.
- Vai para a tua sala e vê tudo o que tens lá. Se precjsares de algo pede que deve chegar rápido.
Juliette ficou sentada na cadeira atrás da sua secretário e olhava para o tecto. Só tinha um pensamento que era onde ela tinha visto aquele homem.
Puxou o arquivo na sua memória mas não conseguiu saber nada. Uma coisa sabia. - aquele olhar não estava ali por acaso.Na sua sala Rodolffo teve a mesma situação de Juliette. Ele já a conhecia. E disso tinha certeza.
Foi interrompido por Afonso que acabara de chegar com uma pasta na mão.
- Temos que analisar esta situação do parque das nogueiras.
- O que tem? A câmara não aceitou as nossas ideias?
- Sim, mas parece que a população não foi ouvida e está em protesto.
- Não entendo esta gente que não aceitam a mudança. O parque está sujo e degradado, tem anos que ninguém faz manutenção e são contra?
Este parque já foi muito bonito quando da minha infância e hoje eu quero que as crianças tenham aqui um espaço condigno.Espera aí "infância".... bingo, achei.
Rodolffo tratou o que tinha a tratar e recostou-se na cadeira. Agora eram nítidas as memórias daquela manhã fria de Outubro quando regressava da escola.