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Eu estava demasiado ansioso.  O médico começou a retirar alguns aparelhos. 

- A respiração está óptima.  Deve demorar um pouco para acordar, mas parece-me que foi um sucesso.

Ele saiu.  No quarto apenas fiquei eu e uma enfermeira sentada distante de nós atenta à evolução do  despertar de Juliette.

Aos poucos ela foi-se mexendo até abrir os olhos.  O médico regressou atestando que tudo estava normal.

- Bem-vinda meu amor.  Que susto me pregaste!

Juliette quis falar, mas tinha dificuldade.

- Não fales.  Precisas de descanso e o médico diz para ires com calma.

Duas lágrimas caíram na face dela que ele limpou imediatamente.

- Não sei o que aconteceu.  Foi rápido.

- Tiveste um acidente no teu carro.

- Lembro que não tinha freio, mas não lembro de bater.

- Já passou.  Agora descansa.

- A minha cabeça?

- Dói?

- Não.   Porque está ligada?

- Bateste e o médico precisou operar.

- Estás com cara de cansado.

- Eu estou bem.  Dormi pouco, foi isso, mas o importante é tu estares bem.

Juliette foi medicada e voltou a dormir.  Eu aproveitei que agora a pressão era menor e encostei-me na poltrona fechando os olhos.

Mesmo desconfortável dormi bem.  Acordei com o barulho das enfermeiras a entrar no quarto.

- Bom dia casal bonito. - disse uma enfermeira de meia idade.
Como está a nossa doente?

- Com fome. - respondeu Juliette,  tirando um sorriso de todos.

- Pois está, mas ainda não pode comer.  Vou levá-la para fazer exames e depois trago-lhe o café da manhã.

- Ela vai demorar muito nos exames?  perguntou Rodolffo.

- Umas duas horas mais ou menos.

- Amor, eu vou rapidinho a casa, tomo um banho, passo no escritório e volto.

- Vai descansado Rodolffo.   Não é necessário correr porque eu não vou sair daqui.

- É isso.  Vá nas calmas, sem pressa.  Ela agora fica por conta da equipe médica. - disse a enfermeira.

Deu-lhe beijo e viu-a sair.  Fez o mesmo e pouco depois estava debaixo do chuveiro.  A tensão das últimas horas descarregou-a ali.  Chorou sentado no chão da box com a àgua a cair-lhe sobre a cabeça.

Era preciso renovar forças e tomou o café da manhã na pastelaria perto do escritório.  Ligou ao Afonso e ele foi ter com ele.

- Bom dia.   Como está a Juliette?

- Acordou e parece bem.  Chamei-te porque no escritório podemos ser ouvidos.   A Ju disse-me que não tinha freio, mas não se lembra de ter batido.

- Tu desconfias de alguém Rodolffo?

- Desconfio, mas não quero acusar ninguém sem ter a certeza.

- Amanhã já temos o resultado da peritagem.  Pedi as gravações das câmaras da garagem do prédio, mas não tem nada de anormal.

- É.  Eu acho que se houve sabotagem foi no centro de inspecção.

- Como assim?  Não é possível.

- É possível.  O carro foi inspeccionado na véspera.

- Deixa vir o relatório.  Aí tiramos dúvidas.   Vais ao escritório?

- Estou aqui para isso.  Não vou demorar.  Quero estar com a Ju quando ela terminar os exames que tinha que fazer esta manhã.  Preciso contar-lhe uma coisa antes que ela saiba por terceiros.

- Então vamos.

Andreia ouviu a voz de Rodolffo e Afonso e logo apareceu junto deles.

- Rodolffo, preciso conversar contigo. - disse toda sorridente.

Estava vestida com uma saia lápis e camisa com os 3 botões de cima desabotoados o que deixava ver a renda do soutien.

- Dá-me 5 minutos.

Ela aproveitou para lhe ir buscar um café e logo entrou.

- Trouxe um café.

- Obrigado, mas já tomei com o Afonso, e desculpa Andreia, mas fecha os botões da camisa.  Isto é um local decente.

- Ah.!  Desculpa, não tinha reparado,  acho que preciso dar um jeito nestas casas.  Estão sempre a desabotoar.

- O que querias falar comigo?

- Queria dizer que se a Juliette demorar para regressar eu posso fazer o trabalho dela nem que precise  fazer horas extra.

- Não é necessário.   Logo ela estará de volta.  Era só isso?

- Também queria dizer que eu vou estar sempre aqui para dar o meu melhor e que podes contar comigo para tudo.  Tudo mesmo, percebes?
Eu acho-te tão abatido nestes últimos dias.

- São só noites mal dormidas.  Agora por favor sai que eu preciso de trabalhar.

- Estou ali ao lado se precisares.

- Ela fechou a porta e ele encostou-se na cadeira cerrando os punhos.

- Não sei o que faço se descobrir que tem o teu dedo no acidente da Ju. - murmurou.

Fez alguns telefonemas, agendou reuniões e saiu fechando a porta do seu gabinete à chave.

ELAOnde histórias criam vida. Descubra agora