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Por causa da cirurgia, Juliette perdeu boa parte dos seus longos cabelos e só se deu conta hoje quando regressou ao hospital para retirar as ligaduras.

- Cabelo cresce, amor. -   dizia-lhe Rodolffo tentando animá-la.

- Eu sei, mas não posso ficar assim.  Vou precisar cortar mais um pouco e disfarçar isto.

- Vem. Vou levar-te a um salão de um conhecido meu.  Ele é óptimo.

Rodolffo e Juliette entraram no salão e depois de conversarem, Jorge perguntou se confiavam nele.

- Claro. - respondeu Rodolffo.

Os longos cabelos de Juliette estavam agora atados num molho para doação.  Espalhados na chão marmoreado e brilhante estavam cabelos de tamanho mais pequeno resultantes da finalização. Ela não  tinha acesso a espelhos e olhava desconfiada para Rodolffo que mantinha um enorme sorriso.

- Estás linda. - e deu-lhe um beijo quando Jorge finalmente rodou a cadeira deixando uma Juliette boquiaberta e de olhos arregalados.

- Meu Deus!  Eu estou mesmo linda.  Nunca me vi assim de cabelo curto, mas eu amei.  Acho que nunca mais deixo crescer.

- Ah não amor!  Estás muito linda, mas eu amo o teu cabelão.   Vai crescer sim.

Agradecemos ao Jorge e saímos  indo comemorar num restaurante.

- Já posso voltar ao trabalho, Rodolffo.

- Já sabemos quem sabotou o teu carro.

- Quem?  Eu quero essa gente na prisão.

- Sabes o tipo do centro de inspecções?  Bom.  É primo da Andreia.  As câmaras mostraram quando ele sabotou o carro.

- A mando dela com certeza.

- Sim.  Também desconfiamos disso.
O meu amigo policial ligou-me ontem e diz que vão buscar a Andreia ainda esta tarde.

- Eu preciso ir ao escritório.   Por favor Rodolffo, eu preciso ter uma prosa com ela antes de a levarem.

- Não é boa ideia.  Deixa a polícia atuar.

- Eu quero ir, Rodolffo.   Se não me levares vou sózinha.

Não teve outro jeito. Deixaram o restaurante e dirigiram-se para a empresa.

Juliette cumprimentou todos os que viu.  Confirmou a presença  de Andreia e foi até à sua sala.  Rodolffo abriu-lhe a porta.

- Rodolffo,  vai para a tua sala.  O assunto é entre mim e ela.

- Não quero que as coisas saíam de controle.

- Prometo que não.   Confia em mim.

Juliette esperou Rodolffo sair, abriu uma gaveta e retirou de lá uma tesoura.  Escondeu-a no bolso traseiro das jeans e saiu.

Toc toc

- Entre.

- Olá Andreia.  Como estás?

- Muito bem.  Finalmente deste as caras.

- É verdade.  Voltei e voltei com muita vontade de trabalhar.

- Mas nós demos muito bem conta do serviço sem ti.

- Eu sei.  Já fui informada dos grandes acontecimentos.

- Vejo que cortaste o cabelo.   Que pena.

- Foi necessário, assim como também é necessário cortar o teu.

Num passe de mágica,  Juliette colocou-se atrás de cadeira de Andreia e empurrando-a prensou-a de encontro à secretária.

Andreia não era muito mais possante que Juliette e apanhada de surpresa não teve tempo de reagir.

- Coloca as mãozinhas sobre a secretária.  Se ousares mexê-las para me atacares espeto está tesoura no teu pescoço.

- O que vais fazer?  Eu vou gritar.

- Experimenta - disse pressionando a tesoura contra o pescoço provocando-lhe dor.

- Essa tesoura é para quê?  O que eu te fiz?

- Sabes onde eu estive?  No hospital a lutar pela vida.  Sabes porquê?
Porque tu e o teu querido primo armaram para mim e quase me mataram.
Quase, Andreia.  Estou aqui vivinha e pronta para dar o troco.  Vais arrepender-te muito de não teres conseguido acabar comigo.

- Eu devia ter feito com as minhas mãos.  Que inúteis são os homens.  Não tens provas de que foi tudo armado por mim.  Sou mais inteligente que tu.  Não deixei as minhas impressões.   Um bom advogado vai livrar-me de todas as acusações.

- Ainda não entendi porque me odeias tanto, mas sabes?  Está conversa está a ser gravada.

- Porque roubaste-me o Rodolffo.

- E ele era teu?

- Ia ser.

Juliette começou a cortar os longos cabelos de Andreia num tamanho bem mais curto que o seu.

- Os cabelos não  Juliette!  Eu faço o que quiseres mas não me cortes o cabelo.

- Olho por olho, dente por dente.

Andreia chorava.   Queria gritar, mas tinha medo que ela cumprisse a ameaça de cravar a tesoura no seu pescoço.

Do lado de fora Rodolffo e Afonso ouviam parte da conversa delas.  Pensando que fosse apenas uma conversa deixaram estar assim. Foi quando os policiais chegaram que Rodolffo rodou a maçaneta da porta e entraram todos deparando-se com uma Andreia submissa e Juliette de tesoura na mão.

Espalhado por toda a sala havia tufos de cabelo que ela jogava ao ar à medida que cortava.

Andreia parecia um soldado prestes a ir à tropa de cabeça quase raspada. Ao ver os policiais tomou-se de valentia e disse que Juliette a agredira.

- Senhora Andreia!  Está presa por tentativa de homicídio da senhora Juliette.  Vamos conduzi-la à delegacia.

- Eu é que foi agredida.  Vocês são testemunhas.   Ela ainda tem a tesoura.

A tesoura desaparecera num passe de mágica.  Andreia saiu acompanhada da polícia e Afonso dava altas gargalhadas.  Rodolffo por seu lado estava um pouco mais sério,  talvez por temer o que Juliette viria a passar.

ELAOnde histórias criam vida. Descubra agora