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Os dias corriam soltos.  Juliette e Andreia mantinham aquele clima de animosidade que não  passava despercebido a ninguém.

Com mais uma entrega de café, Juliette desabafava com Rodolffo.

- Não posso fazer nada se ela mantém aquela postura.

- Mas incomoda-te?

- Não.   É para o lado que durmo melhor.

- Amor, esta tarde tenho uma reunião fora do Concelho.  Se puder mais tarde passo lá em casa.

- Está bem.  Amanhã é sábado, podemos fazer um programinha de final de semana.

- Eu ligo depois.

- Tchau.  Bom trabalho.

Juliette deixou a sala de Rodolffo e encontrou Andreia no corredor dirigindo-se à sala do café.  Foi na mesma direcção,  lavou a chávena e regressou ao seu posto.

Andreia deitou-lhe um olhar de ódio quando ela virou costas.

19 horas

- A moça está desacordada.  Rápido para a sala de raio X.

- Que aconteceu? - perguntava um profissional de saúde.

- Acidente rodoviário.   O carro dela bateu num muro.  O airbag foi accionado mas ela deve ter batido com a cabeça.  Foi preciso recorrer ao desencarceramento.

Juliette dera entrada naquela unidade de saúde.  Aparentemente não tinha lesões externas mas era necessário checar se havia lesões internas.

Os médicos desdobravam-se em exames.

- Tem um traumatismo craniano.  É necessário operar para desobstruir esta parte. - explicava o chefe de equipa. 
Preparem a sala de cirurgia e contactem algum familiar.

Uma enfermeira vasculhou a bolsa de Juliette à procura de alguma informação.   Restou-lhe ligar o telemóvel e ligar para a pessoa do ultimo telefonema.

- Olá amor. - disseram do outro lado.

- Desculpe senhor.  Aqui fala do hospital Amadora Sintra.  A dona do telefone está aqui no hospital pois sofreu um acidente.  Precisamos de alguém que dê autorização para a cirurgia necessária.

- Como ela está?  Corre risco de vida?

- Se não operar sim.

- Chego aí em 15 minutos.

Rodolffo correu o quanto pode e entrou no hospital sem fôlego.   Foi conduzido ao gabinete do chefe de cirurgia que lhe explicou a situação.

- A situação mudou senhor Rodolffo.  Chegaram agora todos os resultados dos exames feitos e descobrimos que a sua noiva está grávida de 10 semanas.
Foi um milagre ela não ter perdido o bébé, mas com a cirurgia o risco é grande.  Precisamos que decida o que fazer uma vez que ela continua desacordada.

O médico explicou a situação sem esconder nada.  Juliette corria risco de abortar, mas não fazendo a cirurgia o risco era para ela.  As consequências poderiam ser devastadoras.

- Pode operar doutor.   Eu quero a minha noiva curada.

- É uma decisão sensata.  Assine este documento e vamos começar imediatamente.

Foram mais de seis horas.  Rodolffo estava na sala de espera e andava pra lá e pra cá.  A cada enfermeira que cruzava a porta do centro cirúrgico ele perguntava:

- Já acabou?  Como ela está? - e sempre a mesma resposta.

- Ainda não.   Tenha calma.

Calma ele até tinha.  No peito uma angústia.  A certeza de ter feito o correcto, mas a dúvida do que ela iria pensar se eventualmente perdesse o bébé. 
Uma coisa ele sabia.  Depois daquele dia nada mais seria igual.

ELAOnde histórias criam vida. Descubra agora