𝐏𝐑𝐎𝐋𝐎𝐆𝐔𝐄 ✞

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Me segurai em teus braços Senhor, onde tua glória jorrará em minha alma; sou tua de corpo e espírito.

Charlotte pairava seus olhos ao redor da igreja que chamava de lar, era tranquila e acolhedora para todos que a pertenciam e a visitavam para ouvir a palavra de Deus. Suas irmãs se esgueiravam pela porta principal para conversarem no jardim com certa felicidade em seus corações e toda aquela movimentação deixou a jovem freira inquieta em seu interior, porém, ao olhar para cima e ver os olhos de Cristo em sua representação na cruz, se deu perdida em seus pensamentos e logo voltou a orar como se seus joelhos estivessem pregados no chão. Suas mãos estavam juntas ao crucifixo que estava na palma de sua mão, quente como todo o seu corpo e era um calor de amor, acolhimento e paz.

– Charlotte?...- Irmã Megan chamava a garota de forma que fosse suave e não a assustasse.- Charlotte, ele chegou.

Suas preces cessaram ao ouvir sua irmã favorita, haviam crescido juntas e se convertido juntas na igreja para que fossem prometidas ao amor de Deus. A jovem virou para observar Megan que não parecia muito animada mas que mantinha um sorriso decente em seu rosto, tentando ajeitar seus fios bagunçados no hábito.

– Já?...- Apoiou as mãos no chão e se levantou com cuidado para não sujar sua roupa e por puro costume, apertou suas mãos uma contra a outra.- Achei que o novo Padre viria amanhã.

Megan arqueou suas sobrancelhas levemente confusa com as irmãs que estavam lá fora e concordou com Charlotte, segurando sua mão.

– Tenho certeza que este irá abençoar nossas vidas com o poder do Senhor.

As palavras ecoaram aos arredores da mente de Charlotte, que sorria e olhava para a porta; onde já estava vazia. Os burburinhos continuavam e em um momento de curiosidade, a mesma permaneceu no canto da grande porta, segurando seu colar com o crucifixo para que pudesse ver o novo padre mas sem sucesso nenhum. Respirou fundo e deu a volta pela igreja até o pequeno jardim onde se sentou na grama e começou a colher flores para o jantar; cantava baixinho enquanto enrolava o caule das flores entre si pra que formassem pequenos buquês em suas mãos. O sol começou a desaparecer aos poucos entre as nuvens que se formavam no céu, o deixando nublado por completo.

Charlotte olhou para o céu e fez uma careta para o tempo feio que estava se formando e logo sentia falta do calor que o sol proporcionava mas algo estava errado. Sentia um arrepio percorrer por toda sua espinha, seu corpo ficava cada vez mais pesado com a sensação de mal estar que se formava em si mesma. A sensação não cessou após respirar fundo e tocar em seu próprio peito, onde seu coração permanecia inquieto e bem ali, uma sombra surgia de trás de si.

A mesma não ousou olhar por alguns segundos, se sentiu atônita e pela primeira vez em anos, com medo de que sua imaginação estivesse brincando consigo e logo olhou para trás mas para o chão. Havia uma figura masculina ali que ousou agachar para que pudesse se aproximar da mesma que logo levantou seus olhos para o homem.

Era alto, com um corpo forte e seus cabelos estavam para trás, a batina que vestia era claramente nova e seu rosto era angelical, pelo menos era o que pensava Charlotte. Sentia cheiro de menta e eucalipto do homem, agradável.

– Padre Charlie.- Charlotte deixou as flores de lado, ainda sentada em suas próprias pernas enquanto apertava suas mãos para que pudesse limpar de qualquer sujeira.- Seja bem-vindo.

O homem se manteve em silêncio por um tempo enquanto a observava de cima a baixo como se estivesse estudando a garota. Seus olhos fixaram em suas mãos e logo depois em seus olhos.

– Irmã Charlotte, correto? Um prazer enorme lhe conhecer.- Charlie sorriu para a jovem, um sorriso gentil pela superfície que causou a garota o mesmo arrepio que havia sentido minutos antes, era desconfortável.

A irmã se recompôs e se virou para agarrar a cesta de flores e não se atentou aos espinhos deixados de lado, que a agrediram em seus dedos; causando um leve sangramento em seu indicador. A mesma fechou os olhos com certa força e se curvou.

– Charlotte, olhe o que fez.- A voz do homem se esgueirou pelas suas costas e suas mãos tomaram os pulsos pequenos de Charlotte em questões de segundos, a olhando em seus olhos enquanto apertava o pequeno machucado dela com o polegar.- Deveria tomar cuidado, algo bonito também pode te machucar.

A pressão cessou até que o padre levasse o polegar da jovem até seus lábios, o pressionando contra o machucado que pouco sangrava mas que marcou presença nos lábios do padre que agora se encontravam em um tom de vermelho vivo. A situação cortou o ar da pequena Charlotte que parecia ter perdido o senso de respirar no momento; sua visão lhe traiu e seu corpo também e o ar parecia cada vez mais pesado.

O homem retirou um pequeno lenço e entregou para a jovem que ainda estava sentada na grama, no meio das flores vividas do jardim que cuidara tão bem com outras irmãs. Limpou seu lábio inferior com a língua em um movimento rápido e sorriu com delicadeza para ela.

– Foi um imenso prazer lhe conhecer, Charlotte.- Proferiu pequenas palavras caridosas e virou se para se retirar com tranquilidade do local.

A garota que estava atônita na grama sentiu seu corpo todo formigar, como se houvesse uma força maior ali, algo que a carregava de uma forma não sagrada, não era puro e não era amor, era outra coisa.

Era profano, que parecia querer lhe devorar.

———

Olá!!

Bem, esse foi o primeiro capítulo de Devour e digo com imensa alegria que estou feliz em começar essa história e lhe entregas pesadelos constantes e muitas noites de sono mal dormidas com as obscenidades ditas por aqui.

Até o próximo capítulo, um beijo enorme.

-Nani.

𝐃𝐄𝐕𝐎𝐔𝐑 ✞ 𝐂𝐡𝐚𝐫𝐥𝐢𝐞 𝐌𝐚𝐲𝐡𝐞𝐰 Onde histórias criam vida. Descubra agora