𝐓𝐇𝐄 𝐁𝐈𝐆 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐌 ✞︎

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A chuva incessante e a escuridão havia tomado conta da cidade; raios abafados eram escutados de todos os caminhos como um presságio, para crentes, um castigo e para as irmãs, um aviso. Se organizavam para que pudessem organizar a igreja naquela tempestade que se alertava se aproximar do local, a correria era tanta que se escutava passos ecoando pelo piso fino do local.

– Charlotte! Me ajude com a janela.- Uma irmã gritava desesperadamente enquanto seu corpo era quase empurrado pra trás com o vento, que logo teve assistência da jovem irmã que empurrava a janela com força o bastante para que trancassem a última janela aberta do local.

Charlotte andava de um lado para o outro, abafada e cansada com tanta movimentação por conta da tempestade, seus olhos giravam para todos os cantos do seu pequeno mundo, observando irmãs assustadas e outras apressadas com seus afazeres. Seu corpo foi segurado por uma mão, que a puxava com cuidado até um lugar mais calmo e antes que relutasse com seu corpo cansado, se virou para observar a figura.

– Irmã Megan!?.- Seu rosto se franziu pela situação, puxando seu braço novamente em um movimento assustado. Ainda estava incomodada, por algum motivo, que Megan passava muito tempo com Padre Charlie, saindo para comer, conversar e seja lá outras coisas que Charlotte não gostaria de saber.

Sentia falta de sua irmã ou talvez fosse outra coisa, emaranhada em seus pensamentos.

– Vá descansar um pouco na sala central, olhe seu estado! Já está me preocupando e outras irmãs mais velhas também.- Megan com muito cuidado voltou a segurar a mão de Charlotte, a guiando com calma até um local mais afastado de toda a movimentação.

Manteve a jovem sentada em um sofá de frente para uma grande porta de vidro que se conectava com o jardim principal do convento, sabia que sua irmã adorava aquele lugar, logo a mesma não se relutou uma vez em negar sua ajuda.

– Fique aqui, vou procurar os outros para que nos juntemos aqui até que essa situação acalme o coração das irmãs por um tempo.- Mencionou enquanto passava as mãos em suas vestes.- Não consigo achar Padre Charlie e algumas irmãs que estão perambulando por aqui.- Finalizou e saiu com pressa da sala, deixando a jovem ainda sentada enquanto tomava seu fôlego de volta.

Pela primeira vez em muito tempo, pode ver a situação como algo assustador para outras irmãs e para si mesma. Se virou para a porta e conseguia ver as flores se mexendo violentamente contra o chão, como se a chuva e o vento pudessem arrancar suas pétalas em qualquer momento ou que voassem para longe. Se sentia tão imersa com a bagunça que o clima se encontrava que nem sentiu o calor que se instaurava em suas costas, como se estivesse sendo observada por suas costas.

Não era um pressentimento.

E da escuridão entre os livros e próximo ao corredor, uma figura tão familiar para ela, tanto pelo cheiro, tanto pela presença que lhe sufocava se tornou mais presente a cada passo. O mesmo mantinha suas mãos atrás de suas costas, caminhando pacificamente até a mulher que o observava do canto de seu olho, como se fosse uma assombração que não pudesse ver completamente.

– Lotte, se abrigando da tempestade? Vejo que ainda parece assustada.

– Fique longe de mim.- Disse firme, se levantando e o encarando de frente, com todo o fôlego e coragem que continha; observando Charlie levemente atordoado ao inclinar sua cabeça lentamente para o lado, sorrindo de escárnio.

– Algo aconteceu? Por que está tão desnorteada? Eu lhe entendo caso tenha medo da tempestade e não esteja se senti-

– Eu não preciso da sua ajuda, vá ajudar irmã Megan e as outras irmãs que realmente precisam de você.- Balburdiou por algum tempo, olhando para qualquer canto que não fosse o rosto do homem, que parecia se aproximar cada vez mais.- Talvez irmã Megan tenha notícias novas de seu jornal para lhe apresentar.

O comentário arrancou do homem uma risada baixa, era grave e parecia atingir cada canto sensível do corpo de pequena Charlotte, que se encolhia ao que o mesmo se aproximava cada vez mais.

– Essa rebeldia tem haver com irmã Megan? Não diria que soa gentil de sua parte tanto com sua irmã, tanto comigo.– Assim que a mesma conseguiu levantar seu rosto, se deparou com a figura alta em sua frente agora, com seus corpos poucos centímetros de problemas maiores.– Vamos lá Lotte, não diga que está com...ciúmes?

Ciúmes?

– Isso é nojento, pecado, impuro e impróprio. Eu nunca teria ciúmes de você.- Lhe encarou quase dentro de seus olhos; quase como uma atitude de enfrentamento pessoal.- Você não é iluminado, veio para trazer destruição à nossa comunidade.

– Não diga tolices, Charlotte. Sabe que estou aqui para lhe ajudar...- As mãos do maior se encontraram com os ombros pequenos de Charlotte, deslizando seus dedos para seus braços e até as mãos da mesma. Seus olhos fixados na moça enquanto se abaixava minimamente até o machucado de sua mão, o apertando entre os dentes; para que sangrasse mais ainda. O susto causou um grunhido baixo da mesma, que se manteve imóvel naquele momento, tentando organizar seus pensamentos.

Era torturante, ser machucada era deliciosamente torturante.

Por alguns segundos reclamou da dor e assim que voltou a sua sanidade, empurrou o homem para trás com ambas as mãos com o máximo de força que podia, fazendo com que o mesmo se sentasse no sofá, chocado e perdido. Seus olhos se encontravam por um tempo e durante esse tempo, Charlotte pode perceber que ele estava lhe dando tempo.

Tempo de correr.

Em um movimento brusco, se virou de costas para que abrisse a grande porta da sala, que quase a empurrou para trás com o vento violento que vinha de fora, a chuva parecia cortar seu rosto e não poderia ver nada naquela escuridão além das árvores da floresta próxima se mexendo com violência. Se virou para trás por um último instante, percebendo que o homem havia se levantado; a observando como se fosse um pedaço de carne e em um movimento rápido, Charlotte se encontrava correndo pela escuridão do jardim, em direção a floresta.

Padre Charlie se curvou minimamente para limpar sua boca com o sangue fresco de Charlotte que tinha entre os lábios e logo se virou para a porta, caminhando tranquilamente para fora, se misturando com as sombras da tempestade como se fizesse parte dela.

– Não há para onde fugir Charlotte, eu sempre vou te encontrar.

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Nossa, que vibes Haunting Adeline né?
🤭

𝐃𝐄𝐕𝐎𝐔𝐑 ✞ 𝐂𝐡𝐚𝐫𝐥𝐢𝐞 𝐌𝐚𝐲𝐡𝐞𝐰 Onde histórias criam vida. Descubra agora