1. Harvard.

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Oie!

Já é manhã quando me dou conta que virei a noite com a cara enfiada nos livros

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Já é manhã quando me dou conta que virei a noite com a cara enfiada nos livros. Não tive tempo de dormir, passei a noite inteira estudando para as provas de hoje. A semana de provas termina hoje, não posso decepcionar nas notas, quero ser a melhor como sempre fui, e sempre pretendo ser. Afinal de contas a minha faculdade não vai ser paga sozinha, preciso de uma bolsa de estudos se quiser ser alguém na vida, não tenho a mínima condição de arcar com os estudos de um curso tão careiro.

Medicina é meu sonho desde pequena, sempre gostei de brincar de cuidar das minhas bonecas com suturas, curativos, remedinhos... sempre gostei desse tipo de brincadeira, mesmo sendo incompreendida por meus pais que nunca ligaram para estudos e essas coisas. Nenhum deles me apoia a respeito da faculdade, mas não quero acabar trabalhando em um café para o resto da vida, não há nada de ruim nisso, mas não quero isto para o meu futuro. Sempre sonhei em ter minha própria família, seguir carreira e comprar minha própria casa... quem sabe até meu próprio carro.

Levanto-me da cadeira de madeira de minha pequena escrivaninha e começo a juntar os materiais dentro da mochila, rezando baixinho para que tudo dê certo como nos dias anteriores. Coloco a mochila em cima da cama e parto para o banho, preciso me desfazer da inhaca de uma noite inteira encolhida numa cadeira de madeira, curvada, evitando piscar para não dormir.

Eu me sinto exausta pra caramba, tudo o que queria era me enfiar debaixo dos cobertores e desmaiar até amanhã de manhã, mas não tenho essa opção, não sou filhinha de papai para ter minhas notas aumentadas com uma gorjeta no fim do ano. Meus pais não apoiam nem que eu esteja na escola, que dirá se tiverem que pagar alguma coisa.

Só estou nessa escola porque ganhei uma bolsa de cem por cento depois da minha redação impecável sobre racismo e desigualdade social, dei um show de argumentação já que eu mesma vivo a desigualdade todo santo dia. Não sou de expor minha vida pra todo mundo, mas é óbvio que só de olharem as minhas vestimentas os alunos já sabem que não sou como eles, não esbanjo riqueza.

No último ano do colégio tem a prova final onde eles selecionam três alunos com as melhores notas para uma bolsa definitiva em Harvard, Massachusetts. Tem sido meu objetivo de vida desde que entrei no colégio, meus olhos brilham a cada vez que passo no corredor e vejo foto dos alunos que foram selecionados nos anos anteriores, todos muito ricos. Eu quero ser a primeira aluna bolsista a conquistar esse título tão importante, esse marco fenomenal, e tenho fé que conseguirei, mesmo que dependa de todo meu esforço.

Junto meus pertences e visto meu moletom ao sair do banho, juntamente com a camisa do uniforme por cima. O uniforme em si é muito bonito, mas gosto de dar uma variada para me diferenciar dos demais.

Coloco a mochila nas costas, pego meu celular e desço em silêncio, andando na ponta dos pés para não acordar meus pais antes de seus devidos horários. Minha mãe acorda às onze da manhã para ir trabalhar na biblioteca nacional com reposição dos livros. Já meu pai acorda às duas da tarde, que é quando geralmente algum cliente desesperado liga avisando que o carro deu problema. Meu pai é mecânico, mas raramente está fazendo algo que preste, sempre que chego em casa ele está com os pés pra cima e uma latinha de cerveja na mão como se seu dia tivesse sido super cansativo e produtivo.

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