47| FOI TUDO UM SONHO?

90 3 0
                                    

Lex.

Tudo que eu estava pensando antes daquele momento — qualquer medo, qualquer angústia, qualquer merda — tinha sido completamente esquecido. A dor no meu peito foi diminuindo rapidamente, até deixar de existir. Era como ter recebido uma dose de morfina que gradativamente fazia efeito.

Continuei na mesma posição, sem mover um único músculo, respirando como se aquilo precisasse de concentração. Estava quase silencioso: A respiração dele estava alta demais para não ser ouvida. Ele continuava de joelhos à minha frente, segurando debilmente a caixa com a aliança encaixada ali. O álcool o fazia bambear um pouco para os lados e piscar de maneira lenta, mas ele ainda me encarava com um certo medo no olhar.

Não sei por que fiquei em silêncio tanto tempo. Talvez porque não conseguia falar. Talvez porque não visse necessidade em responder. Ele sentou em seus calcanhares, parecendo desapontado enquanto se apoiava nas minhas pernas.

— Você pode pensar a respeito... — Ele começou, e o som triste da sua voz me fez piscar depois de muito tempo.

Eu poderia pensar a respeito, mas o fato é que não havia um único motivo para que eu devesse pensar. A proposta era muito simples: Eu poderia casar com o homem que amava feito uma louca, formar uma família com ele, viver o resto da vida ao seu lado e ser feliz para sempre. Ou, poderia dizer "não".

Não foi uma decisão muito difícil.

— Pensar a respeito? — Perguntei de maneira simples, em uma voz fraca — Vinnie... Você realmente... REALMENTE acha que eu tenho alguma outra resposta além de "sim"?

Ele pareceu se iluminar, fazendo uma cara de surpresa tão inocente e verdadeira que era difícil acreditar no fato de que sim, ele duvidava da minha resposta.

— Isso foi um "sim"? — Sua voz saiu um pouco trêmula, mostrando uma incerteza incrivelmente idiota.

— Óbvio. Isso foi um "óbvio". — Respondi no mesmo tom baixo e neutro, com medo de acabar em prantos caso adotasse uma outra postura.

Ele deu o maior sorriso que eu já havia visto, me fazendo esquecer da sua insegurança, do teor alcoólico em seu sangue ou do seu nariz quebrado. Tudo que ele fez foi dar aquele sorriso, e meu coração simplesmente parou de bater por um momento. Em uma fração de segundos, tive uma vontade impulsiva de gritar tão alto que estranhei não tê-lo feito. Mas meu corpo, incluindo minhas cordas vocais, ainda estava anestesiado.

Vinnie segurou suavemente minha mão esquerda, trazendo-a mais para perto de si. Ainda sorrindo abobalhado, ele retirou com delicadeza a antiga aliança que eu mantinha no anelar há tanto tempo, e com a outra mão, encaixou ali a aliança de noivado. Encarei-o, tentando controlar a vontade de simplesmente me jogar em cima dele e chorar feito uma pamonha. Ele beijou demoradamente minha mão, e quando se afastou, deixou um rastro de sangue nela.

— Merda! — Vinnie falou, tentando limpar a sujeira com a outra mão.

Sem pensar, puxei de qualquer jeito a echarpe que ainda estava no meu pescoço e, com cuidado, limpei o rosto dele. Inclinou sua cabeça para trás, tentando fazer com que o sangue parasse de escorrer. Ele não disse nada, mas me encarava como uma criança obediente e sonolenta.

Ele parecia indefeso, e vê-lo daquela forma me deixou tão apaixonada que quando a vontade de tomá-lo nos meus braços veio, não hesitei. Me aproximei dele e, segurando seu rosto, beijei-o carinhosamente nos lábios. Era como se o amor que eu sentia não coubesse dentro de mim e transbordasse.

Os resquícios de sangue deixaram um gosto salgado nos lábios dele, mas ignorei. Aprofundei o beijo, forçando minha língua contra a dele. Joguei a pele suja de sangue em qualquer lugar e prendi meus dedos em seus cabelos, deslizando para baixo e indo parar no colo dele, no chão.

Entrelaçados ᵛⁱⁿⁿⁱᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora