Sob a Superfície

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A noite caía sobre a cidade, e enquanto as ruas se enchiam de música e risadas, Brasil e Rússia caminhavam lado a lado em silêncio. O contraste entre os dois era visível. Brasil irradiava calor, seus passos eram soltos, seu sorriso fácil. Já Rússia, caminhava em linha reta, seus olhos atentos a tudo, mas com uma expressão que se mantinha impassível, quase intocável.

"Então, o que te trouxe aqui?" Brasil perguntou, finalmente quebrando o silêncio enquanto cruzavam uma praça iluminada por luzes coloridas.

Rússia não respondeu de imediato, mantendo os olhos fixos em frente. Ele não era de compartilhar facilmente. No entanto, havia algo em Brasil que o fazia querer falar, mesmo que a contragosto. "Negócios," respondeu secamente.

Brasil deu uma risadinha, balançando a cabeça. "Você é uma fortaleza, hein? Parece que estou falando com um bloco de gelo. Custa tanto se abrir um pouquinho?"

Rússia parou de repente, seu olhar gélido se fixando em Brasil. "Você acha que tudo é fácil, não é? Que as coisas simplesmente fluem como a água em um rio. Mas o mundo não funciona assim para todo mundo."

Brasil deu de ombros, sem perder o ânimo. "Eu sei que o mundo não é fácil. Mas por que complicar mais? Você pode viver a vida se escondendo atrás de uma muralha, mas, honestamente, qual a graça nisso?"

Rússia se surpreendeu com a resposta. Brasil parecia superficial à primeira vista, mas suas palavras carregavam mais verdade do que ele imaginava. Por mais que quisesse rebater, ele sabia que havia uma ponta de razão ali. Ele sempre viveu no controle, na disciplina, distante. Era assim que mantinha tudo em ordem, mas... talvez essa ordem fosse uma forma de se proteger do caos que sempre sentia à espreita.

Caminharam mais um pouco até chegarem à beira de uma praia, onde o som das ondas acalmava o ambiente. Brasil chutou as sandálias e pisou na areia. "Vamos, sente a areia nos pés. Relaxa um pouco, Rússia."

Rússia olhou para a areia como se fosse uma armadilha, hesitando. "Não vejo como isso vai mudar algo."

Brasil sorriu, já com os pés enterrados na areia quente. "Você nunca vai saber se não tentar."

Rússia, contra seu instinto inicial, tirou os sapatos e sentiu a areia fria contra a pele. A sensação era estranha, mas de alguma forma, revigorante. Os dois ficaram ali, lado a lado, olhando o horizonte. O vento brincava com os cabelos de Brasil, enquanto os pensamentos de Rússia começavam a se desenrolar como uma tempestade prestes a acontecer.

"Você é diferente," Rússia murmurou, como se falasse consigo mesmo.

Brasil virou o rosto, surpreso. "Eu? Como assim?"

Rússia permaneceu em silêncio por um tempo, escolhendo cuidadosamente suas palavras. "Você não se preocupa em esconder quem é. Eu... não estou acostumado com isso."

Brasil deu um sorriso calmo, como se já soubesse disso desde o começo. "Talvez você só precise de um pouco de calor pra derreter esse gelo todo." Ele olhou para o mar, pensativo, antes de completar: "Eu sou assim porque quero viver tudo intensamente, sabe? Acho que a vida é curta demais para não ser verdadeira."

Rússia ficou em silêncio, absorvendo aquilo. Sentia-se atraído por esse calor, essa espontaneidade que era tão diferente do seu mundo calculado e frio. Por baixo da máscara de controle, havia um desejo por algo mais... algo que Brasil, com sua leveza e despreocupação, parecia oferecer.

Ali, naquela praia, no encontro entre as águas mornas e as correntes gélidas de suas personalidades, algo começou a se transformar entre eles. O gelo não derretia de uma vez, mas Brasil havia conseguido fazer a primeira rachadura na fortaleza de Rússia. E, no fundo, talvez Rússia não quisesse mais tanto controle quanto acreditava.

O céu estrelado acima, os sons do oceano e a presença mútua eram os únicos testemunhos do início dessa mudança silenciosa.

Notas: de novo to escrevendo na sala enfim🫶🏻essa é uma fic de caps mais curtos porém pretendo soltar um por dia

Entre o FOGO e o GELOOnde histórias criam vida. Descubra agora