caminhos cruzados

Encontros e desencontros

Narrador on

Talita apressou-se ao entrar no pequeno apartamento que dividia com sua colega de faculdade, Vitória. A rotina era sempre corrida, mas naquele dia, ela estava especialmente animada. Após o último treino na faculdade, Beatriz a convidara para passar a noite em sua casa e descansar antes do jogo do dia seguinte. Além disso, o convite incluía uma partida de vôlei amistosa com as amigas de Beatriz, e Talita sabia que seria uma ótima oportunidade para relaxar.

Ela começou a organizar suas coisas rapidamente, jogando o material de estudo na mochila ao lado do uniforme de vôlei e o tênis que usaria mais tarde. Estava ansiosa para sair de casa, como se algo, talvez uma intuição, lhe dissesse que aquela noite traria mais do que uma simples partida de vôlei.

Quando finalmente saiu do apartamento, o vento fresco da noite bateu em seu rosto, fazendo-a fechar o casaco de leve. O prédio estava tranquilo, mas ao descer as escadas, ela deu de cara com três homens que conversavam do lado de fora. Entre eles, Gabriel, seu ex-namorado. Ela sentiu um aperto no estômago.

Ele estava acompanhado de dois amigos desconhecidos. No entanto, seus olhos se prenderam a um deles, um rapaz que estava ligeiramente afastado, observando a cena em silêncio. Ele tinha uma expressão serena, quase distante, mas seus olhos a captaram por um breve instante, como se estudassem seus movimentos.

Gabriel, como sempre, foi o primeiro a falar.

_Talita! Quanto tempo..._ Ele sorriu, mas ela conhecia aquele sorriso. Falso, provocador. _ Vai sair?

Ela assentiu, tentando manter a calma. Não queria problemas, muito menos uma conversa com ele.

_Vou para a casa de uma amiga_. Respondeu secamente, sentindo os olhos do estranho fixos nela.

_Ah, claro..._ Gabriel passou a língua pelos lábios, dando um passo à frente, mas Talita permaneceu firme. _A gente podia conversar qualquer hora, sabe?

Antes que ela pudesse responder, o homem silencioso que a observava deu um passo à frente, cortando o momento. Ele parecia diferente dos outros dois amigos de Gabriel, mais educado, mais calmo.

_Desculpa interromper, mas você é Talita Belmonte, certo? A voz dele era grave, mas suave, com um toque de curiosidade genuína.

Ela arqueou as sobrancelhas, surpresa.

_Sou... e você é?

_Danton Ezra._ Ele sorriu de leve. _Eu vi você jogando pela faculdade. Na verdade, estava pensando em falar com você há algum tempo. Tenho alguns contatos nos Estados Unidos, e parece que estão interessados em uma jogadora promissora como você. Você já pensou em jogar profissionalmente lá?

O coração de Talita bateu mais forte. Ela não sabia se estava mais surpresa com a proposta ou com o fato de Gabriel ter se calado subitamente, sua expressão endurecendo à medida que a conversa se desviava dele.

Ela abriu a boca para responder, mas as palavras não vieram de imediato. O que aquilo significava? Por que Danton a abordava justo agora, e por que parecia tão interessado nela?

_Eu... não sei o que dizer._ Talita finalmente respondeu, desconcertada. Você está falando sério?

_Estou. E acho que você deveria considerar a proposta._ Danton deu um passo à frente, ignorando completamente Gabriel, que agora os observava com raiva mal disfarçada. _ Podemos conversar melhor depois, se você quiser.

Talita sentiu o clima tenso, mas algo na maneira como Danton falava a tranquilizava. Ele era direto, mas educado, sem a agressividade ou manipulação que ela conhecia bem em Gabriel.

Ela deu um passo para trás, sentindo a tensão entre os dois homens ao seu redor, mas decidiu que não queria estender aquela conversa ali. O sorriso de Danton e a raiva latente de Gabriel a deixaram desconfortável.

_Vou pensar nisso, Danton. Agora preciso ir _Ela sorriu brevemente, tentando encerrar o assunto.

Danton assentiu, ainda com o olhar atento sobre ela. E então, com uma última troca de olhares, Talita passou pelos três e saiu.

( Quebra de tempo)

Horas depois, quando voltou ao apartamento, sentiu algo estranho. A porta estava entreaberta. Seu coração acelerou, e um arrepio percorreu sua espinha. Gabriel.

Ela entrou lentamente, sentindo o estômago revirar. E então, viu Gabriel de pé no meio da sala, sua expressão distorcida pela raiva.

_Você achou mesmo que podia me ignorar?_ Ele cuspiu as palavras, avançando em sua direção. _O que pensa que está fazendo com aquele cara?

Talita deu um passo atrás, assustada.

_Gabriel, sai daqui! Você não pode entrar na minha casa assim!

Mas antes que ela pudesse reagir, Gabriel já estava sobre ela. A primeira pancada foi rápida, inesperada. O segundo golpe a fez cair no chão. Ela tentou se defender, mas a raiva de Gabriel era avassaladora. Ele a espancava, seus gritos ecoando pelas paredes do pequeno apartamento.