A tentativa de retorno

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Talita on

O tempo no hospital parecia ter se estendido mais do que eu podia suportar.

As horas eram longas, e os dias passavam em uma monotonia constante, com médicos, enfermeiros e terapias que mais pareciam não ter fim.
Havia uma impaciência crescendo dentro de mim, uma urgência que quase chegava a doer. O vôlei era tudo o que eu conhecia, tudo o que eu amava, e estar ali, parada, enquanto o resto do mundo continuava a girar, era insuportável.

Danton vinha me visitar todos os dias, e, embora ele tentasse me manter positiva, eu via a preocupação em seu rosto. Ele sabia o quanto aquele afastamento me feria, mesmo que eu tentasse esconder. Mas finalmente, após dias de espera, o médico anunciou que eu estava pronta para ir para casa.

Mesmo que a alta fosse um alívio, as palavras do médico ecoavam em minha mente. "Seis meses, Talita. Se você realmente quiser se recuperar, precisa dar tempo ao seu corpo." Seis meses! Mas, honestamente, eu não sabia se conseguiria ficar longe das quadras por tanto tempo.

Assim que Danton apareceu para me buscar, ele sorria, com um olhar caloroso e cheio de carinho. Eu sabia que ele estava ali para me apoiar, que ele fazia de tudo para me dar força. E, ao lado dele, senti como se pudesse enfrentar qualquer coisa.

- Está pronta para finalmente ir para casa? - ele perguntou, me lançando um sorriso confiante.

- Mais do que nunca! - respondi com uma empolgação que eu não conseguia esconder, até às enfermeiras que me paravam no corredor notavam minha alegria.

Ao sair do hospital, o ar fresco me fez sentir viva novamente, e por um instante, todo o meu desejo de voltar à vida normal pareceu intensificar-se. Mas havia algo que eu não poderia contar a Danton e meu irmão: a verdade sobre os seis meses de recuperação. O médico havia sido claro sobre a seriedade da lesão, mas eu não conseguia suportar a ideia de ficar tanto tempo longe do vôlei. Sabia que isso quebraria seu coração se ele soubesse o quanto eu estava disposta a arriscar.

Assim que saímos do hospital, Danton insistiu em me acompanhar até minha casa. Ele era cuidadoso e atencioso, ajudando a carregar minhas coisas, garantindo que eu estivesse confortável e não exagerando nos movimentos. Em parte, eu apreciava sua preocupação, mas uma parte de mim também se sentia sufocada. Eu queria voltar a ser independente, a ser aquela Talita confiante e livre, que podia tomar suas próprias decisões.

Depois que ele se despediu, eu fiquei sozinha, finalmente sentindo a paz de estar em meu próprio espaço. Mas, ao mesmo tempo, a ansiedade retornou junto do medo. Eu precisava voltar para as quadras, precisava sentir a adrenalina do jogo, o peso da bola em minhas mãos, a emoção de cada ponto. Esse desejo era como uma chama crescendo dentro de mim, e quanto mais eu pensava nisso, mais sabia que não poderia esperar.

Sem perder tempo, vesti minha roupa de treino. Sentir aquele tecido familiar contra a pele fez meu coração disparar. Mesmo com o aviso do médico soando em minha mente, eu simplesmente não conseguia me segurar. Aquela era minha essência, e abrir mão dela seria como abrir mão de mim mesma.

Quando cheguei ao ginásio, fui recebida com sorrisos e abraços. As garotas estavam felizes em me ver de volta, e mesmo que eu tentasse ignorar os olhares de preocupação, sabia que elas também temiam que eu estivesse exagerando. Algumas tentaram sugerir que eu descansasse, que talvez fosse cedo demais. Mas minha determinação falava mais alto.

- Vamos começar devagar, tudo bem? - minha amiga Lara sugeriu, sua expressão denunciando o quanto estava preocupada.

Eu assenti, tentando esconder a dor que ainda sentia. Assim que a bola foi lançada, meu corpo respondeu automaticamente. Cada passe, cada toque, cada movimento despertava uma sensação familiar e confortante. Eu estava em casa, finalmente.

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