Talita on
O hospital estava mergulhado em silêncio, com um ar gelado e impessoal que sempre parecia intensificar a solidão. Mas, naquela manhã, isso não importava tanto. Danton estava comigo, segurando minha mão enquanto me observava acordar. Ao vê-lo ali, com os olhos brilhando de uma intensidade que aquecia o ambiente, me senti mais forte. Mesmo que o medo do que acontecera ainda estivesse presente, sua presença me dava a coragem que eu precisava.
Por um impulso que nem eu mesma conseguia explicar, me inclinei para ele e nossos lábios se encontraram. O beijo começou suave, um toque hesitante, como se ambos estivéssemos testando o que significava aquilo. Mas em segundos, o beijo se tornou intenso, urgente. Eu o puxava para mais perto, sentindo um calor que parecia se espalhar pelo corpo inteiro.
A sensação era de libertação. Por um breve instante, o hospital, os problemas, Gabriel… tudo desaparecia. Ali, com Danton, havia apenas o agora. Eu me entregava ao beijo, como se fosse a única coisa certa e segura que restava em meio a tudo o que havia acontecido. O toque de suas mãos no meu rosto, a suavidade e a firmeza ao mesmo tempo, faziam meu coração bater mais forte, enquanto uma coragem silenciosa crescia dentro de mim.
Quando finalmente nos afastamos, ofegantes, ele me olhou com uma intensidade que me fez corar.
— Talita… — Ele murmurou, como se quisesse dizer algo, mas sem saber exatamente como.
Eu sorri, tentando tranquilizá-lo. — Está tudo bem, Danton.
Ele sorriu de volta, e por um instante tudo parecia perfeito. O peso das preocupações se dissolvia, e eu me permitia imaginar que, talvez, as coisas realmente pudessem dar certo
Antes que pudéssemos dizer qualquer coisa, a porta do quarto se abriu e o médico entrou, com uma prancheta na mão e um sorriso profissional. Seu olhar analisou a situação rapidamente, como se percebesse que havia interrompido algo. Senti meu rosto esquentar, mas Danton manteve-se calmo, apenas me dando um aperto de mão antes de soltar minha mão.
— Danton, poderia nos dar um momento? Preciso conversar com Talita sobre os resultados dos exames — disse o médico, em um tom amigável..
Danton olhou para mim, como se quisesse se certificar de que eu estaria bem sozinha. Assenti com um leve sorriso, tentando transmitir confiança.
— Eu já volto — ele disse, lançando-me um último olhar antes de sair do quarto.
Assim que a porta se fechou, o médico assumiu um tom mais sério, folheando alguns papéis na prancheta antes de me olhar diretamente.
— Talita, temos os resultados dos seus exames — ele começou, e eu senti o coração acelerar. — Seus ligamentos ainda estão bastante fragilizados, e sua recuperação será longa. Precisaremos evitar qualquer atividade intensa nos próximos meses para que o processo de cicatrização seja completo.
Engoli em seco. Sabia que o acidente havia sido grave, mas não esperava algo tão definitivo. Ainda alimentava a esperança de poder voltar às quadras em breve, de retomar minha rotina no vôlei, algo que significava tanto para mim.
— E quanto tempo isso vai levar? — Perguntei com a voz trêmula, tentando me preparar para a resposta.
O médico suspirou antes de continuar.
— A recomendação é de seis meses de recuperação completa, sem qualquer prática esportiva de alto impacto. Isso permitirá que você volte em plena forma e minimize o risco de lesões permanentes mas eu pediria que você fizesse durante mais de 6 meses depois da sua alta.
Seis meses. Aquilo parecia uma eternidade. O vôlei não era apenas um esporte para mim; era meu alicerce, minha paixão. A ideia de ficar afastada por tanto tempo fazia o chão sumir sob meus pés.
— Eu… entendo — murmurei, sentindo uma pressão no peito, enquanto tentava manter a compostura.
O médico continuou falando sobre o acompanhamento e o plano de recuperação, mas minha mente já estava distante. O que significaria passar meio ano longe das quadras? E, pior ainda, como eu contaria isso a Danton? Ele sempre estivera ao meu lado, apoiando minha carreira e me incentivando, mas eu temia que a notícia de uma pausa tão longa o abalasse.
Antes de sair, o médico me deu um sorriso encorajador, garantindo que eu teria o suporte necessário durante todo o processo de recuperação. Quando ele deixou o quarto, fechei os olhos e respirei fundo, tentando digerir tudo aquilo. Uma parte de mim queria desabar, mas havia uma outra parte que se recusava a ceder, como se, de alguma forma, a presença de Danton ainda estivesse comigo, mesmo fora do quarto.
Não muito depois, a porta se abriu novamente e Danton entrou, com uma expressão curiosa e preocupada.
— Como foi? O que ele disse? — Ele perguntou, aproximando-se e tomando minha mão novamente.
Eu hesitei por um momento, tentando pensar em uma maneira de contar a verdade sem alarmá-lo, mas as palavras simplesmente não saíram. Decidi, então, omitir a duração completa e focar no que realmente importava agora.
— Ele disse que vou precisar de algum tempo para me recuperar completamente e provável que seja até o dia da minha alta. Preciso ir com calma e evitar qualquer atividade intensa… pelo menos por enquanto.
Danton assentiu, apertando minha mão em um gesto de apoio. Vi em seus olhos a confiança que ele depositava em mim, e isso me deu uma força inesperada. Não era fácil esconder algo dele, mas sentia que, naquele momento, ele não precisava do peso da realidade completa. Já havia pressão suficiente em sua vida com a seleção americana e o clube, e eu queria que ele continuasse focado em seus objetivos.
— Você vai superar isso, Talita — ele disse, com uma firmeza que aquecia meu coração. — Eu estarei ao seu lado em cada passo.
A intensidade de suas palavras fez com que meus olhos marejassem. Sabia que ele estava sendo sincero, e sua presença ali tornava tudo mais suportável.
— Obrigada, Danton. — Sorri, tentando segurar as lágrimas. Sua força era contagiante, e, por um breve instante, me senti confiante o suficiente para encarar os próximos meses, mesmo que ele não soubesse toda a verdade.
Ele me trouxe para um abraço apertado, e naquele momento tive a certeza de que, por mais difícil que fosse, eu encontraria forças para seguir em frente.
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caminhos cruzados
FanfictionAos 27 anos, Danton Ezra busca se reinventar após deixar uma carreira de sucesso no vôlei nos Estados Unidos, retornando ao Brasil em busca de novas oportunidades e respostas sobre si mesmo. Em meio à sua jornada de autoconhecimento, ele cruza o cam...