A decisão de Talita

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Danton on

Naquela manhã, acordei cedo, como de costume, mas o peso das poucas horas de sono me lembrou que havia algo diferente pairando no ar. Passei a noite revirando cada detalhe da minha ideia de pedir Talita em namoro. Era uma decisão que eu não tomaria levianamente, e eu sabia que, com ela, nada poderia ser feito sem ser totalmente verdadeiro. Havia uma profundidade na nossa conexão que me fazia querer mais. Ela era reservada, controlada — talvez até um pouco difícil de ler — mas eu via algo ali, por trás de cada olhar cauteloso e cada sorriso discreto.

Escolhi um buquê de rosas em tons de rosa e branco, algo sutil, que combinasse com sua personalidade. Sem exageros. Afinal, Talita não era de se impressionar com gestos grandiosos. Em vez disso, ela valorizava a sinceridade. Saí do meu apartamento e desci até o andar dela, o buquê em mãos, e, por um momento, respirei fundo, permitindo que meus sentimentos ficassem à superfície antes de tocar a campainha.

Ela abriu a porta, e vi seu rosto expressar uma breve surpresa, como se ela realmente não esperasse me ver ali tão cedo. Mas, como sempre, rapidamente recuperou o controle e me olhou com aquele olhar firme, levemente curioso, que parecia ver através de mim.

— Posso entrar? — perguntei, tentando soar calmo e confiante. Ela me olhou por um segundo e, em seguida, abriu a porta um pouco mais para que eu pudesse passar.

Entramos na sala de estar dela, um espaço organizado, quase impessoal. Estendi o buquê, e ela o pegou com um leve sorriso, seus dedos longos tocando as flores com cuidado, mas sem deixar transparecer muita emoção. Era o jeito dela, pensei, quase sem querer. Aquela mistura entre gentileza e reserva me deixava intrigado, mas eu sabia que não podia esperar mais do que isso dela, pelo menos não de imediato.

Respirei fundo, focando no que eu sentia.

— Talita — comecei, cada palavra pesando na minha mente antes de sair. — Eu tenho pensado muito sobre nós dois e tudo o que vivemos até agora. E... a verdade é que você é importante para mim, de um jeito que nunca senti antes.

Ela escutava, séria e calma, mas a expressão no rosto dela era difícil de decifrar. Sabia que estava processando cada palavra, avaliando com cuidado. Mas isso não me desanimou — pelo contrário, só me fez querer abrir mais o que eu estava sentindo.

— Queria saber se você aceitaria namorar comigo.

O silêncio que se seguiu foi o mais longo da minha vida. Ela olhou para as flores por um instante, como se tentasse organizar os pensamentos, e, quando voltou a me olhar, seu rosto ainda era uma incógnita. Mas vi um breve sorriso surgindo, embora com um toque de dúvida.

— Danton... isso é muito especial para mim. Eu... — Ela parecia escolher as palavras com a mesma cautela com que sempre conduzia tudo. — Aprecio o que você sente, e… isso significa muito.

Por um momento, tive uma onda de esperança, mas logo percebi que ela ainda não tinha terminado. Talita não fazia nada por impulso; sua mente estava sempre ponderando, analisando.

— Mas eu preciso de um pouco de tempo — continuou. — Com tudo o que está acontecendo agora, preciso pensar com calma, entender o que tudo isso significa para mim.

Tentei sorrir, esconder a decepção, embora soubesse que era só questão de tempo. A Talita não era alguém que se entregava sem cautela. Estava sempre pensando nos próximos passos, em cada consequência.

— Claro, eu entendo, Talita — falei, tentando soar o mais compreensivo possível. — Vou esperar o tempo que for necessário.

Ela assentiu, agradecendo com um leve sorriso, e o silêncio pairou mais uma vez, como se ambos estivéssemos absorvendo o que acabara de acontecer. Entendi que aquele era o meu sinal para sair, então despedi-me e voltei para o meu apartamento.

Enquanto subia as escadas, uma determinação crescia em mim. Sabia que o que sentia por Talita não era uma coisa passageira. Era algo que eu estava disposto a lutar, mesmo que ela ainda não estivesse totalmente pronta para deixar suas barreiras caírem.



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