Um beijo no diabo - Nicholas Chavez

★ 8 . 1 - Ligações.

Nicholas saiu do carro, o som da porta se fechando ecoando pelo lugar. Ele olhou para a casa de Morgath, pequena, cercada pelas árvores altas da floresta ao fundo. Havia algo de misterioso naquele lugar que sempre o intrigava, como se a casa carregasse consigo uma história que ninguém havia contado. As cortinas permaneciam fechadas, e a única luz visível vinha de um poste distante, cuja claridade fraca apenas acentuava o ar enigmático do ambiente. Nicholas hesitou por um momento, se perguntando se deveria mesmo bater à porta ou, quem sabe, voltar para o carro e esperar.

Subindo os degraus da varanda com cuidado, ele bateu duas vezes na porta, o som seco ressoando pelo silêncio ao redor. Quando ninguém respondeu.

— Morgath... tem alguém lá fora — disse Merlin, cutucando o ombro dela com delicadeza.

— Hm? — murmurou Morgath, ainda meio adormecida, puxando o cobertor para mais perto.

— Alguém está batendo na porta.

— Então abra... — ela respondeu, a voz abafada pelo travesseiro.

— Tem certeza que posso?

— Merlin, pelo amor... vai logo, são seis da manhã... — Ela virou para o outro lado, tentando ignorar o incômodo.

Merlin foi até a porta da frente, ainda um pouco hesitante. Não era comum visitas tão cedo, e isso o deixava desconfiado. Ao abrir a porta, encontrou um rapaz parado ali, alto, com cabelos desarrumados e uma expressão que oscilava entre nervosismo e determinação. Nicholas parecia deslocado naquele cenário — o silêncio quase sobrenatural da floresta ao redor e a casa simples, cercada por mistérios, contrastavam com a energia inquieta que ele transmitia. Nicholas, por sua vez, hesitou ao ver o jovem que havia atendido, claramente não era quem ele esperava. Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, como se estivessem avaliando um ao outro em um duelo mudo.

Merlin olhou Nicholas com uma expressão que oscilava entre curiosidade e cautela. Por um momento, parecia que ele estava tentando avaliar o que estava acontecendo ali, o que aquele encontro significava.

— Eu te conheço? — Merlin perguntou, os olhos estreitando levemente, como se  a aparência de Nicholas não fosse totalmente nova para ele, porque realmente não era.

Nicholas, sem perder a compostura, sorriu de forma amigável, como se quisesse dissipar qualquer tensão.

— Me chamo Nicholas. — Ele fez uma pausa, ainda sorrindo. — A Morgath está?

Merlin hesitou por um momento, sua mão ainda sobre a maçaneta da porta.

— Está dormindo. — Merlin respondeu com uma voz calma, tentando fechar a porta, mas Nicholas, percebendo a intenção de Merlin, rapidamente impediu.

— Combinamos de sair, avise ela que estou esperando. — Nicholas falou, a confiança em sua voz agora mais evidente.

Merlin estreitou os olhos, claramente irritado, mas não demonstrou mais do que o necessário.

— Me dê um momento. — Ele fechou a porta com firmeza e caminhou até o quarto de Morgath, batendo na porta com mais força do que o necessário antes de entrar.

Morgath ainda estava deitada, o cabelo bagunçado, os olhos semicerrados pelo sono.

— Tem um idiota querendo sair com você. — anunciou Merlin, cruzando os braços.

Ela gemeu baixinho, enfiando o rosto no travesseiro.

— Merlin, são seis da manhã... quem faz planos a essa hora?

Ele ignorou o comentário.

— Quem é aquele garoto?

— Que garoto? — Morgath ergueu a cabeça, confusa.