Dois meses depois...
POV RAFA
Eu entro no quarto que vovó Madalena me ofereceu desde que deixei o hospital, há dois meses, e me sento no banco junto à janela. Pego meu diário, abandonado, antes de sair para o meu compromisso. Suspiro tremulamente, meus olhos ardendo, porém, secos. Já não tenho mais lágrimas. Apenas uma dor crônica que nunca sara dentro do peito. A imagem devastada, embora linda de Gizelly, ainda permanece em minha mente. Acabo de voltar do escritório de Valentina. Assinamos o divórcio. Sou livre de novo. Eu devia estar feliz, não é? Contudo, não estou e isso me enfurece. Mostra que a menina tola ainda vive dentro de mim, em algum lugar. Encontrar Gizelly depois de dois meses inteiros sem vê-la não foi fácil. Na verdade, foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha curta vida. Meu cérebro havia bloqueado as lembranças dela e de como é linda, talvez para me proteger da dor.
Quando ela entrou no escritório e nossos olhares se encontraram, não pude me manter tão indiferente quanto gostaria. Meu coração saltou, apressado, tão forte que doeu. Minhas mãos ficaram suadas e frias. Meu corpo tremeu por inteiro, se agitando em reconhecimento à sua presença poderosa. Em reconhecimento a única mulher que amei e que me possuiu completamente. Os olhos castanhos se fixaram nos meus e ficamos ali, presas em uma espécie de feitiço desleal. Odeio ainda me sentir dessa forma por uma mulher que me machucou tanto. Depois de um tempo, seu olhar correu por mim, parando em meu ventre já bem estufado sob o macacão do meu novo guarda-roupa de grávida. Presente da sua avó. Ela puxou o ar com força e quanto voltou a me encarar, seus olhos estavam quentes, brilhantes. Odiosamente suaves e lindos. Suspiro, repassando cada momento.
-Rafa. — eu choraria, se ainda tivesse lágrimas, ao ouvir a voz profunda chamando meu nome depois de tanto tempo.
-Gizelly. — disse com desprezo. Tive uma boa professora. Pensei ter visto um flash doloroso em suas profundezas castanhas. —Vamos terminar logo com isso.Valentina estava observando a nossa interação com o cenho franzido quando a olhei, descartando a causadora de toda a minha dor, decidida a não me deixar encantar pela sua casca bonita nunca mais. A advogada limpou a garganta, pegando os papéis e colocando-os sobre a ampla mesa. Puxou uma cadeira para mim, indicando para Gizelly se acomodar na outra.
-Como advogada, tenho que fazer a pergunta. — ela nos disse, parecendo meio incomodada. — O divórcio é consensual?
-Sim.
-Não.
Gizelly e eu falamos ao mesmo tempo.
-Gizelly... — A voz de Valentina foi tensa. Com um longo suspiro, Gizelly se sentou na cadeira e disse tão baixo que quase não ouvimos:
-Sim. Se é isso que a fará se sentir bem, então, sim.
Seu tom soou tão magoado, doído, mas não a olhei. Não, eu não podia mostrar fraqueza perto dela ou seria destruída novamente. Jamais lhe darei poder para me ferir de novo. Quero-a bem longe de mim. Então nos pusemos a assinar tudo em um silêncio sepulcral. Meu coração batia apressado, minhas mãos suavam. Agradeci formalmente a Valentina e me levantei, querendo ir embora o quanto antes. Precisava ficar longe daquela mulher. Sim, podem me chamar de covarde, não me importo. Melhor me esconder do que passar vergonha em sua presença.
-Valen, pode nos dar uns minutos a sós, por favor? — a voz de Gizelly me sobressaltou.-Não, eu não tenho nada para falar com essa mulher, Valentina. — disse em tom afiado, ainda não olhando para a minha recente ex-esposa.
-Permita-me discordar, você está carregando o meu filho na barriga. — sua voz denotou uma raiva contida. — E me obrigou a assinar esse divórcio do caralho, mas não pode se negar a conversar comigo sobre o nosso bebê.
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A bailarina
FanfictionGizelly Bicalho é uma CEO implacável, conhecida por sua frieza e calculismo no mundo corporativo. No auge de seu sucesso, ela tem uma única obsessão: vingar-se de Sebastião Castro, um funcionário que, estava lhe roubando bem embaixo do seu nariz. S...