Ela nunca ira te perdoar

240 37 14
                                    

POV GIZELLY


Tomo um café preto na cantina perto do hospital e volto rapidamente para o meu posto. Passei a noite inteira sentada em uma poltrona perto do leito de Rafaella, os olhos secos, meu coração pesado, enquanto velava o seu sono. A enfermeira de plantão passou algumas vezes para checá-la, sempre me oferecendo um sorriso solidário e me dizendo para dormir que minha esposa estava reagindo bem e logo iria para casa. Ela não sabia, não, ela não tinha ideia do que eu tinha feito com a mulher deitada naquela cama. Que eu não era digna da sua pena.


Estou em um misto de ansiedade para que Rafaella acorde, mas receosa de como irei encará-la depois de tudo. Não me julguem, mas vi o celular dela e ouvi as ligações gravadas, bem como as mensagens, e um ódio descomunal cresceu em mim por Gabrielle e a maldita madrasta. As duas mulheres estavam importunando Rafa há algum tempo. Gabi usa palavras tão ofensivas, que me faz sentir a pior das mulheres por ter me deixado levar por suas tramoias. Ficou claro como água que a mulher me manipulou. Como pude ser tão burra? Não há desculpas para mim, sei disso, e por isso estou morrendo de remorso. No momento certo, as mulheres irão pagar por terem machucado Rafaella. Vou me encarregar disso pessoalmente.


Ter lido as emoções de Rafa escancaradas, tão cruas, naquele diário também foi como um soco certeiro em meu intestino. Deus, como gostaria de poder voltar atrás e retirar cada palavra cruel proferida, cada ação egoísta direcionada a ela. Mas não posso. Não é assim que funciona. Somos os únicos responsáveis pelas nossas ações e chegou a hora de eu responder pelas minhas. Respiro fundo quando chego à porta e a empurro, o médico está lá, examinando-a. Entro, avançando devagar. Em um primeiro momento, penso que Rafaella está dormindo ainda. Meu coração salta quando ela vira o rosto ao sentir a minha presença e nossos olhares se encontram. Um flash de dor passa nos olhos verdes e ela ofega baixinho, então vira o rosto para a parede, me dispensando sumariamente.


-Ainda está sentindo dor, senhora? —o médico inquire, tomando a sua pressão arterial.

-Não. — a voz dela é tão baixa, tão sem vida, que faz um arrepio frio me percorrer.


-Isso é muito bom. — o doutor diz em uma voz entusiasmada, obviamente percebendo o estado catatônico da sua paciente. — O sangramento está bem fraco. Se continuar sem dores, poderá ir para casa amanhã.


-O que eu tenho? — sua pergunta ainda é baixa, ela nem mesmo se dá ao trabalho de encarar o médico. Pelo seu tom, parece que a resposta não é importante.


O homem me olha brevemente. Acho que pensou que ela sabia da gravidez. Também cheguei a pensar que sim, porém não há nada sobre o bebê no diário. Ela não sabia.


-Pensamos que já soubesse, afinal, são quase três meses... — A voz do homem suaviza um pouco. —Está grávida de aproximadamente onze semanas. Está carregando um bebê forte e um tanto teimoso, pela forma como resistiu ontem. — completa com leve diversão.


-Oh, meu Deus! — há pânico na voz dela e seu rosto vira de volta. Seus olhos cravam nos meus, uma expressão de ódio e desprezo vai se espalhando em suas feições pálidas. Seus olhos se fecham e inspira com força. —Meu Jesus... Estou grávida... — geme tremulamente.


O médico conclui a rotina de exames e franze o cenho ao ver lágrimas silenciosas escorrendo nas laterais do rosto de Rafaella.


-Ele está reagindo bem, não se preocupe. —confunde as lágrimas dela com preocupação. — Tem fome? Vou pedir que tragam um desjejum leve. Sente enjôos?


-Sim. — Rafaella abre os olhos, encarando o médico. — Estou sentindo muito enjôo. Nada para no meu estômago.

-Mais algum sintoma? — ele continua no tom ameno, anotando em sua prancheta.

A bailarina Onde histórias criam vida. Descubra agora