Ela é minha

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POV GIZELLY

Eu olho mais uma vez à minha volta. O som agitado tocando alto na casa noturna. É o meu aniversário hoje. Trinta e cinco anos. Minha avó queria fazer uma de suas festas de gala, mas eu não quis. Entretanto, não consegui me livrar das artimanhas de Eusébio, que me arrastou para uma das casas noturnas em que é sócio para comemorarmos esta noite. Ele me garantiu que convidou Rafa também, no entanto, estou receosa de que ela não venha.

Embora estejamos mais próximas desde o nascimento de Theo, ainda me trata com frieza velada. Só me deixou chegar perto por causa do nosso filho. A morte de Sebastião a afetou, fragilizando-a, fazendo-a passar por cima do seu orgulho e mágoa, enxergando que Theo precisa de mim também. Dou graças a Deus por isso, porque não sei como seria se não pudesse pegar o meu filho nos braços sempre que eu quisesse.

Um pequeno sorriso orgulhoso se abre em minha boca ao pensar no meu filho. Eu me preparei para recebê-lo, cuidar dele em todos os sentidos, sem essa frescura de que não iria trocar fraldas, não dá banho e etc. Isso surpreendeu a Rafa positivamente. Vejo em seu rosto, cada vez que a ajudo nessas tarefas, que ganhei pontos. Não fiz para agradá-la, no entanto. Fiz cursos para poder me aproximar e criar um vínculo forte com meu filho desde o seu nascimento. A exemplo de Rafa, tive pais de merda. No que depender de mim, Theo irá sentir o meu amor todos os dias, o tempo todo. Não vou negar, que tenho usado cada momento com ele para mostrar à sua mãe que sou uma nova mulher. Que ainda sou louca por ela. Que sempre serei completamente apaixonada, desvairada por ela. Só ela. Vivo desesperada pela sua atenção, para que perceba que pode confiar em mim de novo. Só que não tem sido fácil. Rafa se mantém firme em sua resolução de não acreditar no meu amor. Na verdade, nem mesmo aceita conversar sobre a nossa situação. Para ela, está tudo resolvido, encerrado. Nos divorciamos, não há mais nenhuma ligação carnal entre nós.

Mas há. Nossa ligação, nossa conexão ainda está viva, pulsando entre nós a cada momento em que chegamos perto. Cada vez que nossos olhares se encontram, falam coisas que ela não quer verbalizar porque fui uma cretina, uma covarde, e a afastei de mim. O tempo em que ficamos longe só colaborou para inflamar a química sempre potente que experimentamos desde o primeiro encontro. Pelo menos da minha parte. Eu a observo como uma leoa faminta.

Ela está ainda mais linda depois que deu à luz ao nosso filho. Embora sua aparência seja jovem, carregando certa inocência, a menina se foi e em seu lugar nasceu uma mulher estonteante.
Seu corpo adquiriu curvas assassinas e sua boa forma voltou, mas os quadris estão mais largos, destacando a cintura fina. Os seios, antes pequenos, agora estão mais cheios, derramando sobre os decotes, deliciosos. Meu corpo inflama só de ver. A falta dilacerante que sinto dela, do seu corpo, seu cheiro, sua pele na minha. Estou definhando sem ela, morrendo lentamente.

Eu a estou perdendo e esse sentimento tem se intensificado desconfortavelmente nesses dias.
Enquanto não me deixava chegar perto e não havia ameaça de alguma pessoa, eu estava relativamente tranquila. Só que agora a ameaça é real. Muito real. Pensei que fosse morrer pela dor absurda em meu coração quando Rafaella me disse que aceitou o pedido de namoro do fodido médico, há dois dias, depois do nosso beijo no quarto do Theo.

Ela se sentiu assim quando na minha total arrogância eu a deixei sozinha? Eu era uma completa de uma fodida, porra. Eu a machuquei demais. E como uma vingança, tudo está voltando contra mim, para que sinta na pele como eu a feri. Para piorar, fiquei sabendo pela minha avó que o tal Antônio recebeu uma proposta de trabalho irrecusável no Rio e vai se mudar dentro de duas semanas. Não tenho um bom pressentimento sobre isso. Eu não suportaria se Rafa decidisse se mudar com o talzinho, levando meu filho junto. Não, não. Isso me destruiria. Abano a cabeça para afastar esses pensamentos de agouro.

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