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Deitado em minha cama, observava Hoseok dormir tranquilamente em meus braços. Seu suspiro sereno me fez recordar como tudo começou. Faz alguns meses que retornei a esta cidade da qual tanto tentei escapar. A luz do amanhecer filtrava-se pelas cortinas, iluminando parte do quarto, mas minha mente estava presa em lembranças.

Lembro-me da viagem e da relutância que me acompanhou a cada quilômetro. O peso das expectativas familiares e a pressão de um ano inteiro para tentar reconstruir laços que pareciam irremediavelmente quebrados. Mas nada poderia me preparar para o que aconteceu logo após minha chegada.

Era minha primeira noite nesta cidade, e acontecia um baile anual importante. No entanto, eu não queria participar; preferi ficar no jardim, fumando e perdido em pensamentos, tentando me acostumar com os rostos familiares e os sussurros do passado. Foi então que ouvi gritos de ajuda vindo do labirinto no meio do jardim. Desesperado, entrei no labirinto e senti o cheiro forte de um alfa no cio. Quando os encontrei, vi Hoseok sendo atacado. O medo em seus olhos era evidente, e algo dentro de mim se agitou. Sem pensar duas vezes, entrei na situação.

A luta foi intensa, mas consegui afastar o alfa. O olhar agradecido, mas ao mesmo tempo medroso de Hoseok ficou gravado na minha memória como um farol em meio à escuridão. Aquele momento mudou tudo: não apenas para ele, mas para mim também. A sensação de ter feito algo importante despertou em mim um propósito que eu não sabia que existia.

Desde então, minha vida na cidade tomou um rumo inesperado. A confusão começou quando a família do ômega chegou, preocupada e furiosa. Eles não entenderam o que realmente aconteceu e, em vez de gratidão, trouxeram acusações.

Com o pânico estampado em seus rostos, fui acusado de ter atacado seu filho. Minha própria família, com sua reputação manchada e uma história de desconfiança em relação a mim, não hesitou em acreditar nas palavras da família do ômega. No calor do momento, toda a minha luta para reconquistar o respeito deles foi por água abaixo.

O resultado daquela confusão foi surreal: fui obrigado a casar com Hoseok. A ideia de um casamento forçado era impensável para mim, mas as circunstâncias eram inescapáveis. Meu coração estava dividido entre o desejo de proteger aquele jovem vulnerável e o desespero de estar preso em uma situação que eu nunca quis.

Enquanto refletia sobre esses meses tumultuados, percebi que minha vida na cidade havia se transformado em um labirinto de obrigações e mal-entendidos. O retorno não era apenas sobre reparar relacionamentos; era também sobre enfrentar as consequências das minhas ações e encontrar uma nova forma de ser.

A única coisa boa que aconteceu nesta minha vinda para esta cidade foi ter conhecido Hoseok, mesmo que a nossa história tenha se desenrolado de um modo inusitado. Desde o primeiro momento em que nossos olhares se cruzaram, percebi que ele era diferente. Hoseok se tornou a única pessoa que realmente se importa comigo, algo que eu nunca pensei que pudesse acontecer.

Minha vida antes de conhecê-lo era marcada por um profundo sentimento de abandono. Quando descobri que não era filho legítimo de Kim Namjoon e Kim SeokJin, as bases da minha identidade ruíram. A forma como fui criado deixou marcas profundas; cresci sentindo que não era importante para ninguém. Essa sensação de desamparo me levou a uma rebeldia sem limites. Eu agia de forma impulsiva, buscando chamar a atenção e mostrar que eu existia, mas isso só piorou a situação. A cada ato de rebeldia, me afastava mais da aceitação e do amor que tanto desejava.

Depois de algum tempo, percebi que essa luta interna não valia a pena. Decidi deixar a rebeldia de lado e, em um ato de autoconhecimento, tomei a difícil decisão de ir embora da cidade. Encontrei um novo lugar onde o isolamento se tornou uma forma de proteção contra a dor emocional. A solidão parecia menos dolorosa do que enfrentar as constantes lembranças do meu passado.

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