Entre a Vida e a Morte

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A noite caiu pesada sobre a floresta, e a chuva havia parado, mas o ar ainda estava carregado com a umidade e o cheiro da terra molhada. O abrigo que Aruanã havia improvisado continuava firme, mas dentro dele, o clima era tenso. O silêncio profundo da floresta parecia amplificar cada pequeno som – o farfalhar de folhas, o cantar distante de uma coruja, o vento sussurrando pelos galhos.

Ibiraci estava imóvel, deitado ao lado de Aruanã. Seus olhos fechados e respiração irregular indicavam que sua recuperação ainda era incerta. Embora ele tivesse conseguido acordar brevemente, agora parecia mais fraco do que antes. Cada vez que sua respiração falhava ou se tornava mais pesada, o coração de Aruanã apertava de medo.

Aruanã se inclinou para perto, verificando mais uma vez a febre de Ibiraci, que parecia ter voltado. O corpo dele estava quente ao toque, e gotas de suor escorriam de sua testa. Aruanã mordeu o lábio, frustrado por não poder fazer mais. Ele estava desesperado para ajudar, mas sem medicamentos adequados, tudo que podia fazer era manter Ibiraci hidratado e esperar que a força do amigo resistisse.

Ele segurou a mão de Ibiraci com firmeza. "Você não vai me deixar," Aruanã sussurrou, mais para si mesmo do que para o outro. "Você prometeu."

A luz da lua entrava de leve pelas frestas entre as folhas que cobriam o abrigo, criando sombras dançantes no rosto de Ibiraci. Aruanã observava cada movimento sutil, cada respiração, procurando sinais de melhora, mas o medo crescia a cada segundo que passava.

Em meio ao desespero, Aruanã se levantou. Ele sabia que precisava fazer algo, qualquer coisa para ajudar Ibiraci. Decidiu sair do abrigo e procurar por alguma planta medicinal que pudesse aliviar a febre e fortalecer o corpo do amigo. Antes de partir, ele se abaixou e sussurrou no ouvido de Ibiraci: "Eu vou voltar logo, prometo. Fique forte por mim."

Aruanã correu pela floresta, sua mente fervilhando. Ele conhecia bem a flora ao redor, lembrando-se das histórias que seus anciãos contavam sobre as plantas curativas que cresciam nas profundezas da mata. Havia uma chance de que ele encontrasse o que precisava, mas sabia que o tempo estava contra ele.

Os minutos se arrastavam enquanto ele procurava com olhos atentos e mãos ágeis. O som das folhas sendo esmagadas sob seus pés ecoava pelo silêncio da floresta, mas sua mente estava focada apenas em um objetivo: salvar Ibiraci.

Após o que pareceram horas, Aruanã avistou uma pequena planta de folhas largas, com flores brancas e delicadas. Ele reconheceu imediatamente: era uma das plantas que os curandeiros usavam para tratar febre. Um misto de esperança e urgência o invadiu. Ele colheu as folhas rapidamente e correu de volta para o abrigo, sentindo o coração martelar contra o peito.

Quando chegou, o cenário não havia mudado muito, mas a respiração de Ibiraci estava ainda mais fraca. Aruanã sentiu um aperto no peito, como se o tempo estivesse se esgotando. Com mãos trêmulas, ele esmagou as folhas da planta e preparou uma infusão improvisada, derramando gotas da mistura nos lábios secos de Ibiraci.

"Por favor," ele sussurrou, quase em oração, "não me deixe sozinho."

Ele se sentou ao lado de Ibiraci, esperando ansiosamente por algum sinal de melhora. As horas passaram em um borrão de preocupação e vigília. O corpo de Ibiraci se mexia ocasionalmente, mas ele não acordava, e Aruanã sentia a dor crescente da incerteza corroendo sua esperança.

No meio da madrugada, Aruanã, exausto, acabou adormecendo por um breve momento, com a cabeça apoiada nas pernas de Ibiraci. Ele sonhou com eles dois quando eram mais jovens, correndo pela floresta, rindo, livres de todas as preocupações. No sonho, o sol brilhava intensamente, e tudo parecia perfeito.

De repente, ele foi despertado por um movimento. Ibiraci mexia-se, abrindo os olhos lentamente. Sua respiração ainda era fraca, mas seus olhos, pela primeira vez em horas, estavam focados.

"Aruanã..." Ibiraci murmurou, com a voz rouca, mas firme o suficiente para encher o peito de Aruanã de esperança.

"Ibiraci!" Aruanã segurou o rosto do amigo, seu coração batendo descompassado de alívio e emoção. "Você está acordado. Eu pensei que... pensei que fosse te perder."

Ibiraci deu um sorriso fraco, ainda visivelmente esgotado, mas vivo. "Você não vai se livrar de mim tão fácil," ele disse, tentando aliviar a tensão.

As palavras de Ibiraci acenderam uma chama no peito de Aruanã, que não conseguiu conter a emoção. Ele se inclinou para mais perto e, sem pensar duas vezes, selou seus lábios nos de Ibiraci em um beijo suave, mas cheio de tudo o que ele estava sentindo: medo, alívio, amor.

Ibiraci, mesmo fraco, retribuiu o gesto, sua mão subindo devagar até o rosto de Aruanã, como se quisesse garantir que aquilo não era um sonho.

Quando eles finalmente se separaram, os olhos de Ibiraci brilharam com algo novo, algo que ia além das palavras. "Eu sabia que você viria por mim," ele disse, a voz baixa, mas cheia de certeza. "Eu confio em você, Aruanã. Sempre."

Aruanã sentiu seu coração se encher de uma fé inabalável. Não importava o que o futuro trouxesse, ele sabia que, enquanto tivessem um ao outro, poderiam enfrentar qualquer coisa. Ele apertou a mão de Ibiraci com força e sorriu, dessa vez com uma esperança renovada. A escuridão da noite já não parecia tão opressiva, pois agora havia uma luz dentro deles que brilhava mais forte do que qualquer tempestade que viesse.


aiai n to mais sabendo escrever mas juro q vou melhorar

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⏰ Última atualização: 12 hours ago ⏰

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