As Águas do Rio Branco

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O céu, agora limpo após a tempestade, exibia um azul profundo que contrastava com o verde denso da floresta. As gotas de chuva ainda pendiam nas folhas, refletindo a luz do sol como pequenos cristais. Aruanã e Ibiraci caminhavam juntos, o silêncio entre eles preenchido pelos sons da mata desperta. O canto dos pássaros voltava a ressoar, e o som suave de um rio ao longe os convidava a parar um pouco.

Aruanã foi o primeiro a notar o Rio Branco. Suas águas mansas, tão claras que se podia ver o fundo, serpenteavam tranquilamente entre as pedras. Era um dos afluentes mais conhecidos na região, não só por sua beleza, mas pelas histórias que o cercavam. Aruanã olhou para o amigo com os olhos brilhando de animação, como se já soubesse o que queria fazer.

"Vamos dar um mergulho?" ele sugeriu, já indo na direção da margem, seus pés batendo levemente nas folhas molhadas do chão.

Ibiraci hesitou, observando as águas com uma expressão tensa. "Esse rio não é como os outros," ele disse, a voz baixa e séria, enquanto seus olhos escureciam em lembranças. "Minha mãe sempre me alertou sobre ele. Dizem que as águas do Rio Branco guardam os espíritos daqueles que morreram tentando atravessar."

Aruanã parou, virando-se para encarar Ibiraci, com um sorriso de descrença no rosto. "Você realmente acredita em todas essas histórias? As lendas são bonitas, mas... são só lendas."

Ibiraci balançou a cabeça, desviando o olhar para as águas tranquilas que pareciam escondidas atrás de algo que só ele via. "Pode ser. Mas minha avó contava que o rio tem uma alma. Às vezes, ele te acolhe e te dá forças, mas em outras, ele pode te puxar para suas profundezas. Ninguém que o desrespeita sai ileso."

Um silêncio denso caiu entre eles. Aruanã ainda sentia o desejo de entrar naquelas águas, mas o respeito por Ibiraci e por suas palavras o fez parar por um momento. Ele observou o amigo, notando como suas mãos estavam inquietas, mexendo nos pequenos galhos que encontrava perto da margem, um sinal claro de que ele não estava à vontade.

"Tá bom, a gente pode só molhar os pés. Assim você não precisa se preocupar," Aruanã sugeriu, a voz mais suave agora, tentando aliviar a tensão. "E, se o rio der algum sinal, a gente corre."

Ibiraci riu, embora a preocupação ainda pairasse sobre seu rosto. "Você acha que tudo é fácil, não é?"

Mesmo hesitando, Ibiraci se aproximou da margem junto com Aruanã, sentindo o cheiro fresco da mata ao redor e a umidade no ar, enquanto o som da água correndo os rodeava com calma. Aruanã tirou suas sandálias simples e afundou os pés na água fria. Sentiu um leve arrepio subir por suas pernas enquanto a correnteza suave passava ao redor de seus tornozelos. Fechou os olhos por um momento, apenas ouvindo o som do rio e o pulsar da floresta ao redor.

"Vem cá, Ibiraci! Só sente a água. Não tem perigo nenhum." Sua voz soava mais confiante, como se o rio estivesse, de alguma forma, acolhendo sua presença.

Ibiraci, ainda relutante, sentou-se ao lado de Aruanã na margem, observando as águas por alguns instantes antes de lentamente mergulhar os pés na beira. O toque da água fria fez um calafrio subir pela sua espinha, mas ele se manteve ali, observando o movimento suave da correnteza.

Aruanã olhou para o amigo, tentando entender o que ele realmente pensava. "Você acha mesmo que o rio guarda os espíritos?" perguntou, mais sério desta vez.

Ibiraci suspirou, os olhos ainda fixos no fluxo tranquilo do rio. "Eu não sei. Mas minha avó dizia que os rios têm memória. Eles guardam tudo o que já passou por eles — as histórias, os segredos, os sofrimentos. Respeitamos as águas porque elas estão vivas, de um jeito que a gente não consegue entender completamente."

As palavras de Ibiraci ecoaram nos pensamentos de Aruanã. Ele sempre gostou de explorar, de correr riscos, mas nunca parou para pensar nas histórias que a terra, a água e a floresta poderiam contar. "Então... estamos seguros, porque não fizemos nada de errado, certo?"

Ibiraci finalmente se virou para ele, esboçando um pequeno sorriso. "Por enquanto."

O silêncio que se seguiu foi mais tranquilo do que antes, preenchido pelo som da floresta e pela presença silenciosa do Rio Branco. Por alguns minutos, os dois amigos ficaram ali, apenas sentindo o frescor da água nos pés, ouvindo a vida que se movia ao redor deles. O vento suave trouxe o cheiro de folhas molhadas e algo mais — um som distante, quase imperceptível, mas que fez Aruanã erguer a cabeça.

"Você ouviu isso?" perguntou, franzindo a testa.

Ibiraci assentiu, ouvindo mais uma vez o som que se aproximava. Era o ritmo dos tambores, o toré, ecoando pela mata. "É o som da preparação para a festa de logo mais. O toré."

O toré era uma das celebrações mais importantes da aldeia, uma dança sagrada que conectava os vivos aos espíritos ancestrais. Aruanã sempre sentiu algo especial durante o ritual — uma energia que preenchia o ar, uma emoção que ele não conseguia descrever.

"Devemos voltar," ele sugeriu, levantando-se e esticando o corpo, sentindo ainda a umidade do chão sob seus pés. "Não quero perder o início da cerimônia."

Ibiraci permaneceu imóvel por mais alguns segundos, seus olhos ainda no rio. Então, finalmente, ele se levantou devagar, limpando os pés molhados na grama ao redor. "Sim, vai ser uma noite importante. As preces ao espírito da floresta sempre trazem algo novo."

Enquanto caminhavam de volta pela trilha, os tambores do toré ficavam cada vez mais altos, ressoando em seus corações como uma batida ancestral. Aruanã, normalmente tão falante, estava em silêncio, imerso nos pensamentos que as palavras de Ibiraci haviam despertado. Havia mais mistérios naquela terra e naquelas águas do que ele imaginava. E mesmo que não acreditasse completamente nas lendas, respeitava o conhecimento que os mais velhos transmitiam.

Quando chegaram à aldeia, a preparação para o toré estava em pleno andamento. As mulheres adornavam-se com cocares de penas coloridas, e os homens pintavam seus corpos com tintas extraídas da terra e das plantas, símbolos sagrados de proteção e conexão com a floresta. Aruanã e Ibiraci se entreolharam, sabendo que a noite traria algo importante — não apenas para a aldeia, mas talvez para eles também.

Aruanã sentiu uma excitação crescer dentro de si. O toré não era apenas uma festa, era uma ponte entre o mundo visível e o invisível, entre o passado e o presente. Ele olhou para Ibiraci, que parecia mais quieto e sério do que de costume, e se perguntou o que aquela noite revelaria para os dois.

 terminou vei esses cap to focando mais em colocar lendas indígenas to começando a postar os cap mais rápido pq acabou minhas provas e agr vou ter novo conteúdo mais difícil (vou mi mata:3) esse cap teve 1004 palavra agr ta ficando mais longo pq vai acontecer merda e coisa boa.

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