O Renascimento na Floresta

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Os dias passaram devagar, e o corpo de Ibiraci ainda lutava para se recuperar. A febre, que havia ameaçado sua vida, finalmente cedeu, mas a fraqueza persistia. Ele estava deitado em uma cama feita de folhas e peles de animais, protegida pelo abrigo improvisado que Aruanã havia erguido na clareira da floresta. O céu acima deles estava coberto por nuvens esparsas, e a luz suave do fim da tarde pintava o ambiente com um tom dourado.

Aruanã mal havia dormido desde o momento em que Ibiraci acordara. A cada movimento, ele ficava alerta, sempre pronto para ajudar o amigo. Era como se temesse que, se tirasse os olhos dele por um segundo, algo pudesse levá-lo de volta à escuridão.

"Você deveria descansar um pouco," Ibiraci murmurou, a voz ainda fraca, mas carregada de preocupação. Ele observava Aruanã com um olhar que, apesar de cansado, era cheio de carinho. "Eu estou melhor, Aruanã. Você precisa cuidar de si também."

"Não me peça isso," Aruanã respondeu baixinho, sentado ao lado de Ibiraci, mexendo nas folhas secas no chão. "Eu não posso relaxar enquanto você ainda não está bem. Não posso correr o risco de te perder de novo." Seu tom era suave, mas firme, e os olhos revelavam o peso de todo o medo que ele carregava.

Ibiraci tentou se levantar, mas seu corpo ainda estava fraco demais. Mesmo assim, ele estendeu a mão, tocando de leve o braço de Aruanã, um gesto de conforto. "Eu não vou a lugar nenhum," ele sussurrou. "Estou aqui, e você me salvou... de novo."

Os olhos de Aruanã se encheram de água, mas ele piscou rápido, tentando não demonstrar sua fragilidade. Ele pegou a mão de Ibiraci e a apertou com força, como se isso pudesse reforçar o elo invisível entre os dois.

A floresta ao redor deles estava silenciosa, como se respeitasse o momento que partilhavam. Apenas o som ocasional de folhas se mexendo e o farfalhar de pequenos animais podiam ser ouvidos. Aruanã sabia que ainda havia perigo, que sua jornada estava longe de terminar, mas ali, naquele instante, com Ibiraci vivo e consciente ao seu lado, ele permitiu-se um momento de esperança.

"Lembra-se da história que a sua avó contava sobre a árvore mãe?" Aruanã perguntou, sua voz se tornando mais leve, numa tentativa de trazer alguma normalidade à conversa.

Ibiraci sorriu, fraco mas genuíno, e assentiu. "Ela dizia que todas as árvores da floresta estavam conectadas pela raiz dessa árvore primordial... que a vida de todas elas dependia dela." Ele parou por um momento, como se as palavras fossem difíceis de sair. "Acho que nós somos assim, conectados de uma forma que não conseguimos entender..."

Aruanã sentiu um nó na garganta, e antes que pudesse responder, o som de um trovão distante fez os dois levantarem a cabeça. O céu, que antes estava calmo, começava a se transformar novamente. Nuvens negras se aproximavam rapidamente, e o vento forte varria a floresta, anunciando outra tempestade.

"Temos que nos abrigar melhor," Aruanã disse, já se levantando e olhando em volta. Mas antes que pudesse se mexer mais, sentiu a mão de Ibiraci segurar a sua.

"Não me deixe aqui sozinho," Ibiraci pediu, os olhos grandes e sérios. Aruanã sabia que o pedido ia além do medo da tempestade. Ele compreendia o pavor de Ibiraci em ser deixado, mesmo que por um segundo, especialmente depois de tudo o que tinham passado.

"Eu não vou," Aruanã prometeu, sua voz firme. "Nós vamos juntos, sempre."

Os dois se apressaram o quanto puderam para reforçar o abrigo improvisado. Aruanã ajudava Ibiraci a cada passo, sabendo que ele ainda estava longe de estar completamente recuperado. Quando a chuva finalmente começou a cair, eles se encolheram juntos debaixo das peles e folhas que os protegiam, observando o aguaceiro descer da copa das árvores.

Os relâmpagos cortavam o céu, e cada trovão fazia o coração de Aruanã bater mais forte. A tempestade parecia ser uma metáfora de tudo que eles estavam passando: intensa, imprevisível, e cheia de perigos. Mas, enquanto a chuva caía sobre eles, Aruanã sentiu uma sensação de paz crescer em seu peito. Eles estavam juntos. E isso era o suficiente para enfrentar qualquer coisa.

Ibiraci, deitado ao seu lado, mexeu-se levemente, os olhos semiabertos e observando Aruanã com uma expressão suave. "Você lembra quando éramos crianças e víamos as tempestades como sinais dos espíritos?" ele perguntou com uma voz sonolenta. "A gente achava que eles estavam dançando no céu..."

Aruanã riu baixinho, acariciando o cabelo molhado de Ibiraci com carinho. "Sim... e acreditávamos que, se ficássemos em silêncio o suficiente, podíamos ouvir o que eles estavam dizendo."

"Talvez ainda possamos," Ibiraci sussurrou, os olhos se fechando devagar enquanto ele lutava contra o cansaço.

"Talvez," Aruanã murmurou de volta, observando o amigo se entregar ao sono, exausto mas seguro. E assim, ele ficou acordado, protegendo Ibiraci, com a certeza de que o rio, a floresta e os espíritos estavam ao lado deles, mantendo-os vivos.

nao escrevi mt hj pq to escrevendo 2 historias e é meio difícil vei mas ent foi isso, espero q tenham gostado

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