Oie!! Bora para mais uma! ❤️❤️
Caixas de sapato empoeiradas e vazias, em uma pilha mais alta e mais larga que meu corpo magro, balançaram quando eu apertei minhas costas contra elas, colando os joelhos ossudos no peito.Respire. Apenas respire. Respire.
Encostada bem lá no fundo do armário sujo, eu não me atrevia a fazer barulho enquanto mordia o lábio inferior. Me concentrando em forçar cada inspiração empoeirada para dentro dos pulmões, eu senti as lágrimas brotarem.
Oh, Deus, eu cometera um erro muito grande. A Srta. Becky estava certa. Era uma menina má.
Mais cedo, peguei o pote de biscoito sujo e manchado, com a forma de um urso e que escondia biscoitos de gosto estranho. Eu não deveria pegar biscoitos ou qualquer alimento, mas estava com tanta fome que minha barriga doía, e a Srta. Becky estava doente de novo, cochilando no sofá. Eu não tivera a intenção de derrubar o cinzeiro do balcão, quebrando-o em caquinhos. Alguns tinham a forma do gelo que se agarrava ao telhado no inverno. Outros não eram mais do que lascas.
Tudo o que eu queria era um biscoito.
Meus ombros franzinos se sacudiram ao som da parede quebrando do outro lado do armário. Eu mordi o lábio com mais força. Um gosto metálico explodiu em minha boca. Amanhã haveria um buraco do tamanho da mão grande do Sr. Henry no gesso, e a Srta. Becky choraria e ficaria doente de novo.
O rangido suave da porta do armário soou como a explosão de um trovão em meus ouvidos.
Oh não, não, não...
Ele não deveria me encontrar ali. Aquele era meu porto seguro sempre que o Sr. Henry estava com raiva ou quando ele...
Eu fiquei tensa, olhos arregalados quando um corpo mais alto e mais volumoso que o meu deslizou para dentro e, em seguida, se ajoelhou bem na minha frente. Eu não conseguia distinguir muitas aquelas feições no escuro, mas sabia, em meu íntimo, quem era.
— Sinto muito — engasguei.
— Eu sei. — A mão pousou em meu ombro, o peso reconfortante. Era a única pessoa que me deixava confortável ao me tocar. — Preciso que fique aqui, ok?
Certa vez, a Srta. Becky disse que ela era apenas seis meses mais velha que eu, que tinha 6 anos, mas ela sempre parecera muito maior, muito mais velha que eu, porque, aos meus olhos, ela era todo o meu mundo.
Eu assenti.
— Não saia — disse ela, e então entregou em minhas mãos a boneca ruiva que eu havia deixado cair na cozinha quando quebrei o cinzeiro e corri para o armário. Assustada demais para recuperá-la, acabei deixando Velvet no chão, e fiquei bastante chateada, porque a boneca tinha sido um presente dela muitos, muitos meses antes. Eu não fazia ideia de como ela conseguira Velvet, mas um dia simplesmente apareceu com ela, e a boneca era minha, só minha.
— Fique aqui. Não importa o que aconteça.
Apertei bem a boneca, prendendo-a entre os joelhos e o peito, e assenti novamente.
Ela se remexeu, enrijecendo quando um grito de raiva sacudiu as paredes em torno de nós. Era o meu nome, o que bastou para um arrepio gelado percorrer minha espinha; meu nome gritado tão furiosamente.
Um pequeno gemido abriu meus lábios, e eu sussurrei:
— Eu só queria um biscoito.
— Tudo bem. Lembra? Prometi que a manteria segura para sempre. Basta não fazer barulho. — Ela apertou meu ombro. — Basta ficar quieta, e, quando eu... quando eu voltar, vou ler para você, ok? Sobre aquele coelho estúpido.
Tudo o que eu podia fazer foi assentir de novo, porque houve momentos em que eu não tinha ficado quieta, e nunca me esquecera das consequências. Mas, se ficasse quieta, sabia o que aconteceria. Ela não conseguiria ler para mim aquela noite. Amanhã ela faltaria à escola e não estaria bem, mesmo que dissesse a mim que estava.
Ela ficou ali mais um pouco e, então, saiu do armário. A porta do quarto se fechou com um ruído, e eu levantei a boneca, pressionando nela o rosto banhado de lágrimas. Um botão no peito de Velvet espetou meu rosto.
Não faça barulho.
O Sr. Henry começou a gritar.
Não faça barulho.
Passos no fim do corredor.
Não faça barulho.
Carne sendo atingida. Algo caiu no chão, e a Srta. Becky devia estar se sentindo melhor, porque de repente a ouvi gritando, mas, dentro do armário, o único som que importava era o da carne sendo atingida, que se repetia e repetia. Eu abri a boca, gritando silenciosamente colada à boneca.
Não faça barulho.
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O Problema do Para Sempre (JENLISA)
Fiksi PenggemarJennie Kim viveu muito tempo em silêncio. Mas o destino lhe reserva um novo desafio. Já na infância, ela percebeu que só poderia sobreviver se ficasse calada. Teve que aprender a ficar o mais quieta possível. Aprendeu a passar despercebida, a se esc...