10. DEZ

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— Você não é um monstro. — Jimin se levanta, olhando para a mão estendida no ar. Os dedos de Jungkook tremem, e Jimin apressa-se para ele, segurando-lhe a mão e apertando-a contra o rosto.

— Oh, Jimin. — Geme Jungkook. Jimin o puxa para a sombra.

— No escuro, — Sussurra — somos iguais. Não, shh... Não sou o antigo rei da beleza. Você não tem cicatrizes. Somos apenas duas pessoas, Jungkook. Não existe nada, além disso.

— Não podemos ficar aqui, e na luz...

— Na luz somos duas pessoas, cada qual com suas imperfeições. — Jimin ergue os olhos, vendo a silhueta das cicatrizes que ele escondeu por tanto tempo, mas não com nitidez. — Me mostre.

Jungkook respira fundo, sabendo que esse é o momento em que perderá tudo que conseguiu e que tanto deseja. Ele se vira para o fogo, lentamente, levando Jimin consigo.

A luz espalha-se sobre o rosto de Jungkook, que se encolhe, num gesto instintivo, embora não deixe de encarar Jimin. Ele espera. Espera pela repugnância, pela rejeição no rosto de Jimin. Mas nada acontece.

Jimin observa-o, sentindo a tensão que domina Jungkook, como se ele (JK) esperasse vê-lo sair correndo daqui. Mas ele (JM) não irá a lugar algum. Jungkook encontrou coragem para mostrar-se, e ele (JM) não vai decepcioná-lo. Esse momento significa muito para Jimin, revelando-lhe coisas que Jungkook não conseguiu dizer. E essa confiança é o maior presente que poderia receber.

Jungkook ainda é um homem muito bonito. Só de olhar esses lindos olhos azuis, iguais aos da filha, o coração de Jimin dispara.

— Seus olhos são maravilhosos. — Diz Jimin. — E parece que esperei décadas para vê-los.

Por um instante, Jimin apenas saboreia o momento. Então, seu olhar volta-se para as cicatrizes. Quanta dor Jungkook deve ter sofrido, imagina, tocando com a ponta dos dedos as marcas que tanto o faz sofrer. Jungkook fecha os olhos, respirando pesadamente.

São como marcas das garras de um animal selvagem. Tem dois cortes na testa, próximo aos cabelos, um desce pela sobrancelha. Há outra cicatriz no canto de uma pálpebra, perto do olho. Mais uma desce pelo rosto, até a mandíbula, continuando pelo pescoço, até desaparecer dentro da camisa.

Jungkook continua imóvel, como uma estátua de pedra, os braços ao lado do corpo, os punhos cerrados. O coração de Jimin se parte ao pensar nos anos de solidão, acreditando que a aparência o impedia de ser amado, esquecendo o ato de coragem que provocou as marcas.

— Você sobreviveu a tudo isto. — Sussurra Jimin, surpreso e emocionado.

Jungkook o olha nos olhos, vendo que Jimin se aproximou ainda mais.

— Jimin...

— Shh. — A mão de Jimin desliza para a nuca de Jungkook, puxando-o para mais perto. Ele beija de leve as marcas na testa, nos olhos, no pescoço, ternamente, abrindo um a um os botões da camisa e continuando a beijar as cicatrizes que atravessam o ombro.

Jungkook geme, agarrando-o pela cintura e tentando afastá-lo.

— Jimin, não!

Jimin o abraça, compreendendo o medo e a ansiedade.

— Por favor, Jungkook, não me afaste. Você suportou tanta dor. Agora são apenas marcas na memória. — Jungkook balança a cabeça, mas Jimin continua beijando cada cicatriz, e os lábios dele são como um bálsamo. — Não vejo deformidade. O que vejo são sinais de sua coragem. Ferimentos de uma guerra à qual sobreviveu.

O coração de Jungkook bate forte, e ele desliza a mão pelas costas macias de Jimin, enterrando os dedos nos cabelos sedosos. Com um gesto brusco, inclina a cabeça de Jimin para trás.

DOMESTICANDO A FERA - Jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora