capítulo 6

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Enquanto Lisa continuava sua investigação sobre William, uma sombra crescente de dúvida e medo pairava sobre suas descobertas. Os indícios que apontavam para ele como o possível responsável pelas mortes na cabana eram inquietantes, mas havia algo em sua mente que a impelia a olhar além de William. O xerife, que havia supervisionado as investigações das mortes, também despertou sua curiosidade.

A cidade de Ponte dos Lamentos era pequena e repleta de segredos, e o xerife era uma figura central. Ele tinha um histórico respeitado, mas, à medida que Lisa cavava mais fundo, começou a perceber que havia mais por trás da fachada. Em seus pensamentos, Lisa começou a conectar os pontos entre William, as vítimas e o xerife. O que ele sabia? E por que parecia tão reticente em conduzir investigações mais profundas sobre as circunstâncias das mortes?

Lisa decidiu investigar a fundo o passado do xerife. Em uma busca rápida pela internet e em arquivos públicos, ela encontrou referências a casos não resolvidos e a um comportamento cada vez mais enigmático. Algumas pessoas na cidade falavam sussurrando sobre como o xerife poderia ter um interesse próprio nas mortes, talvez até uma ligação com William que ninguém mais conhecia. Com isso em mente, ela decidiu que precisava reunir mais informações.

Em seu último encontro com o xerife, Lisa observou que ele era bem arrogante, e odiava visitas a cidade, por algum motivo.

Enquanto continuava a juntar as peças. Lisa sabia que precisava ser cautelosa. Ao mesmo tempo, as coincidências se acumulavam, criando uma rede de conexões entre William, as mortes e o xerife.

Lisa decidiu que, se William era a chave para as respostas, o xerife também era fundamental. Ela passou a coletar informações sobre os casos em que ele havia trabalhado e a investigar os laços entre ele e as vítimas. Com cada nova pista, a imagem tornava-se mais complicada e mais sinistra. Estava claro que a verdade sobre o que estava acontecendo em Ponte dos Lamentos era mais do que um simples caso de assassinato; era uma teia de segredos que se entrelaçava, envolvendo não apenas William, mas também aqueles que deveriam proteger a cidade.

Lisa continuava sua busca meticulosa pela cabana, determinada a encontrar qualquer pista que ligasse William ao xerife. A atmosfera era densa e carregada, como se a própria cabana estivesse resistindo a ceder seus segredos. A luz fraca de sua lanterna cortava a escuridão, revelando móveis antigos e poeira que flutuava no ar pesado.

Ela vasculhou cada gaveta e armário, tentando decifrar as conexões ocultas que pareciam estar ao seu alcance. Em uma mesa encostada à parede, encontrou uma pilha de papéis, aparentemente sem organização. Ao examinar mais de perto, percebeu que eram documentos e correspondências que envolviam diferentes pessoas da cidade. Mas, por baixo de tudo, algo chamou sua atenção: um envelope com o nome do xerife rabiscado à mão.

O envelope estava cheio de notas amassadas e anotações que pareciam fragmentos de conversas. Em um dos papéis, Lisa encontrou o nome de uma das vítimas seguido de uma data, e, ao lado, um breve comentário que parecia uma instrução, como se alguém estivesse sendo guiado para manter a situação sob controle. A escrita era firme e direta, e Lisa reconheceu o estilo formal do xerife. Seria possível que ele estivesse orientando William?

Enquanto folheava outros papéis, encontrou algo ainda mais alarmante.  Recibos de transferências bancárias com valores altos e irregulares, muitos dos quais destinados ao nome de William. O dinheiro não parecia ter um motivo claro, e, quanto mais Lisa tentava entender, mais surgiam perguntas. Seria um pagamento por algum tipo de serviço? Ou um suborno para manter William em silêncio sobre algo que ele sabia? A ideia de que o xerife pudesse estar financiando as atividades de William era perturbadora, mas agora parecia uma possibilidade real.

Em um canto escuro da cabana, havia uma caixa de metal trancada. Lisa encontrou uma chave em um dos armários e, com as mãos trêmulas, a usou para abrir a caixa. Dentro, havia uma série de fitas cassete e um gravador antigo. Ela pegou uma das fitas, inseriu no gravador e apertou o play. A fita zumbiu e chiou antes de começar a tocar uma conversa abafada e distante, como se estivesse gravada secretamente.

A voz do xerife era inconfundível, calma e autoritária. Ele falava sobre manter as investigações "sob controle", e mencionava William por nome, dando instruções vagas, mas reveladoras. Lisa ouviu, boquiaberta, enquanto a fita reproduzia a conversa. As palavras do xerife eram cuidadosamente escolhidas, mas havia uma tensão perceptível. "Isso precisa desaparecer," ele dizia. "E você sabe o que fazer." Era como se estivesse delegando tarefas a William, e as implicações dessa relação de cumplicidade eram claras.

A confirmação que Lisa havia temido finalmente estava diante dela. William e o xerife estavam trabalhando juntos, mas ainda restava entender o porquê. Por que o xerife confiava tanto em William? E qual era o propósito desses acordos secretos? Com uma sensação crescente de urgência e perigo, Lisa guardou os papéis e as fitas, ciente de que acabara de encontrar uma peça fundamental para desvendar o mistério de Ponte dos Lamentos.

Ela sentou-se na sala e colocou todas as pistas na mesa de centro, olhou bem para tudo que achou e telefonou para Daniel.

- Daniel?

- pode falar, amazona.

- descobri algo mais complicado... porém continue olhando o William, me avise qualquer coisa.

- sim senhora!

Ela desligou.

Estava assustada pois nunca tinha indo investigar assim, as investigações de escritório eram bem mais tranquilas, a noite estava deixando ela com mais medo do que o normal.

Então resolveu comer algo, caminhou até a pequena cozinha da cabana, tentando afastar os pensamentos turbulentos que a investigação havia despertado. Precisava se concentrar e se recompor antes de dar o próximo passo, e preparar uma refeição parecia uma boa maneira de organizar sua mente.

A cozinha era simples e rústica, com uma pia de metal desgastada e armários de madeira envelhecida. Havia uma pequena janela acima da pia, por onde a luz fraca da lua entrava, iluminando suavemente o espaço. Lisa abriu os armários e encontrou alguns ingredientes básicos: arroz, enlatados, e algumas especiarias. Era óbvio que ninguém tinha cozinhado ali há algum tempo, mas os suprimentos pareciam suficientes para improvisar uma refeição simples.

Ela acendeu o fogão a gás, o clique repetitivo ecoando pela cabana até que uma chama laranja surgiu, se acendeu suavemente. Lisa encontrou uma panela velha e encheu-a de água, colocando-a sobre o fogo. Enquanto esperava a água ferver, começou a cortar algumas verduras que estavam na geladeira, um pouco murchas, mas ainda utilizáveis. Os movimentos repetitivos da faca contra a tábua de cortar eram quase meditativos, ajudando-a a liberar um pouco da tensão que carregava desde que entrara na cabana.

A água começou a ferver, e Lisa despejou o arroz, observando-o borbulhar e inchar à medida que cozinhava. O som suave do fervor enchia a cabana, criando um ambiente de calma momentânea. Depois de adicionar as verduras cortadas e um pouco de tempero, o cheiro da comida quente começou a se espalhar pelo ar, enchendo o espaço com um aroma reconfortante que contrastava com o peso sombrio da cabana.

Enquanto mexia a panela, Lisa permitiu que seus pensamentos vagassem, tentando encontrar uma clareza nas descobertas confusas que havia feito. O ato de cozinhar era quase como uma âncora, um lembrete de que, apesar de todo o mistério e perigo ao seu redor, ainda havia pequenos momentos de normalidade a que ela podia se agarrar.

Quando a comida finalmente ficou pronta, Lisa serviu-se em uma tigela, sentando-se à mesa da cozinha. O vapor quente subia da tigela, e ela deu uma colherada, sentindo o sabor simples e salgado na boca. Por um breve momento, enquanto mastigava lentamente, ela conseguiu esquecer as fitas, os papéis e os segredos que haviam sido desenterrados. Mas, mesmo assim, sabia que aquela tranquilidade seria passageira; logo, teria que enfrentar de novo os mistérios que a aguardavam fora daquela cozinha aconchegante e ao longe na floresta alguém lhe observava, segurando um rádio que tocava Guns n' Roses, bem baixinho.

a cabana da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora