É quase Natal em Seattle, mas aqui no hospital não há muita diferença. As luzes de emergência piscam no corredor, e o barulho constante das máquinas parece mais alto com o passar das horas. Estamos a três dias da grande comemoração, mas ainda estamos presos na correria. Mark e eu conseguimos um momento de trégua, dividindo um sanduíche de atum na sala de descanso e alguns amassos, na verdade, muitos amassos, como se isso fosse suficiente para sustentar nosso cansaço. Ele pega uma lata de Coca-Cola e me oferece outra.
Entre uma mordida e outra, nossos olhares se encontram, e eu me pego sorrindo. Não é o sanduíche ou a Coca-Cola que me fazem feliz. É ele. Mark é tudo o que eu poderia pedir ao céu. Ele não gosta de admitir, mas me ensinou tanto nesses últimos meses. Cortar, suturar, fazer com que minhas mãos tenham a precisão que ele espera... E faz tudo com uma paciência invejável, algo que ele sempre diz não ter. Ele fala que não gosta de ensinar, mas o jeito como ele me observa, seus olhos atentos e carinhosos, me dizem o contrário. Ele está sempre ali, como uma brisa suave que passa e me conforta, mesmo quando o caos do hospital está ao nosso redor.
Eu terminei o último pedaço do sanduíche e olhei para Mark, sorrindo.
- Você é a única pessoa que consegue me fazer gostar de sanduíche de atum -brinquei, encostando minha perna na dele.
Ele deu um meio sorriso, aquele típico dele.
- Eu sou milagroso, Pequena Grey.
Revirei os olhos, mas antes que eu pudesse responder, ele me puxou pela cintura, me surpreendendo.
- Você deveria descansar, - ele disse, sua voz suave enquanto me olhava com aqueles olhos que sempre parecem me estudar. - Ainda temos algumas horas até a próxima cirurgia.
- Descansar? - ri baixinho, me inclinando um pouco mais perto dele. - Mark Sloan sugerindo descanso? Quem é você e o que fez com o 'deus da plástica' ?
Ele soltou uma risada baixa.
- Ele trocou tudo só pra ver a linda namorada dele dormindo. - ele acaricia meu rosto e beijo sua mão - Mas também estou tentando garantir que minha aprendiz não desmaie na sala de cirurgia.
- Ah, é? - sorri provocativa. - Porque eu sou sua melhor aprendiz?
- Porque você é a única pessoa por quem vale a pena quebrar essa regra de nunca ensinar.- respondeu, sem hesitar, e o tom dele ficou um pouco mais sério. - Você sabe disso.
Meu coração acelerou com aquelas palavras. Mesmo depois de tudo, Mark ainda conseguia me surpreender. Me aproximei mais e sussurrei, "Eu tenho sorte, sabia?"
- Eu diria que sou eu quem tem sorte.- murmurou, antes de me beijar de leve, interrompendo qualquer resposta que eu pudesse dar.
E por um momento, era só a gente.
Logo após o beijo, o rosto de Mark mudou, e aquele sorriso confiante que ele sempre tinha sumiu, dando lugar a uma expressão que me fez sentir um frio na barriga. Algo estava diferente.
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