Vingança não é justiça

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Quando chegaram em casa, Samael pôde notar o jeito de Alastor, por mais que não parecesse, o radialista era um tagarela, quando ficava quieto é porque pensa demais.

— Parece preocupado – O arcanjo falou assim que pisaram o pé em casa.

— Eu pretendo matar o Oxford – O comentário tão repentino fez o Paladino se afastar um pouco, ficou atônito com a facilidade de como o locutor falou aquilo.

— Por que? Qual é o seu problema, Alastor? – Pela primeira vez naqueles meses, viu o anjo irritado.

Em alguns segundos, seus olhos pareceram estranhos, mas após isso, acalmou-se e retornou ao azul de sempre.

— Há tantos, não tem como eu listar para você, não de um jeito que não dure milênios de tantos itens na lista. – Alastor se irritou junto do anjo. Eles nunca brigaram assim.

— Alastor, tenha os problemas que for! Eu sei que tem, mas não há problema nesse mundo que não possa ser resolvido! Você somente precisa tentar. – Samael segurou as mãos de Alastor numa súplica silenciosa.

— Sua positividade as vezes irrita! Nem no seu mundo. Até porque alguma coisa deve ter acontecido para que Eva comesse a maçã. De quem é a culpa? Se não existe serpente, não é de ninguém. O universo por si só é problemático. – Suas palavras atingiram o anjo por alguma razão em específico.

— E Vox é um ser humano de merda, pior do que qualquer outro! O que faço é justiça, pessoas sofreram na mão daquele homem, e sou eu quem fará justiça por elas. – Continuou o locutor.

— Vingança não é justiça. Você não liga para nenhuma dessas pessoas, Alastor. Matar esse rapaz não te faz menos pior do que ele, talvez sejam até iguais. – Samael se virou. Indo para fora da casa. Não se sabe para onde iria, mas o radialista não estava nem um pouco interessado em saber.

As palavras do anjo perfuraram sua alma. As pessoas que ele matava sempre frisaram o fato de ele ser um monstro, sim ele era. Mas ouvir aquilo daquela forma e daquele anjo, o partiu. Ele perdeu a única pessoa que ainda tinha esperança nele.

Mas do que importa. Quem não tem mais o que perder, aposta a alma. E era isso que ele iria fazer.

                                Q.D.T

Dois dias se passaram, nada de Samael. Alastor ficou interessado agora, para não dizer preocupado. E se o anjo simplesmente abriu suas asas para nunca mais voltar?

Ele estava na frente de um prédio abandonado. A rádio em que trabalhou com Vox havia falido. Por algum motivo, o moreno nem precisou chamar pelo Oxford, o branquelo fez questão de chamá-lo por si só.

Aquele lugar estava prestes a despencar. Ratos por toda parte, os equipamentos restantes empoeirados e com algumas peças faltando. Mofo em abundância pelas paredes e a sala do maldito chefe tinha uma energia angustiante, digna do seu dono.

Se o Victor não chegasse logo, provavelmente um espírito enfurecido o levaria para as profundezas do inferno. Virou-se, observou a silhueta do homem elegante, não havia ninguém com ele. Ótimo.

— Vox! Olá, meu amigo! – Alastor deu um abraço no homem que riu junto. Um tremendo idiota.

— Alastor! Alastor! Que bom que estamos nos dando bem depois de tanto tempo. – O branquelo já tinha começado com seu blá-blá-blá.

— Você tem razão! Isso só pode ser uma benção! – Imitar a personalidade de Vox era a melhor maneira de se lidar com ele.

— Benção? É claro. Você é bastante corajoso em vir. Está sozinho, não é? Ou seu namoradinho veio com você? – Vox ainda tinha seu sorriso amistoso na cara. Um sádico.

Ficou claro para Alastor. Vox veio com a mesma intenção, os dois queriam matar um ao outro. Depois desse descuido, Alastor deveria ter pensado que sem os Vees, Vox não é nada. Valentino e Velvette estavam ali.

Sentiu a brisa bater num silêncio amedrontador. Vox esteve um passo a frente e se não quisesse pagar com a vida pelo seu erro, Alastor tinha que pensar em se sobressair naquela situação rápido.

— Não, não veio. – Alastor continuou se fazendo de desentendido. Ele precisava de tempo.

Vox estava perto da porta, isso quer dizer que não seria um combate. O dano seria feito ao prédio com Alastor lá dentro. Um incêndio, eles iniciariam um incêndio.

Valentino e Velvette não se arriscariam a perder Vox. Não colocariam fogo com o magnata lá dentro. Um jogo de ratoeira e rato.

— Que pena, ma- – O homem foi interrompido com o radialista posicionando sua faca no pescoço dele.

— Vocês dois, filhas da puta! Eu sei que estão aí, vão arriscar perder a galinha de ovos de ouro de vocês? Apareçam ou eu levo esse branquelo comigo para o inferno – Ele gritou esperando que aparecessem.

E quando se coloca fogo na beira da toca, os ratinhos saem correndo. Apareceram os dois palermas com o rabinho entre as pernas. Se arriscariam assim por Vox? Não, se arriscariam assim pelo dinheiro que perderiam com o fim da sociedade marcada pela morte dele.

— Que bom ver vocês dois aqui – O radialista apertou a faca no pescoço de Vox, o empresário grunhiu.

— Não mata ele! – A garota gritou.

— Tudo bem, armas no chão. – O moreno ordenou, foi obedecido sem resistência.

Eles ficaram se olhando por alguns minutos. Até que num movimento sagaz, Valentino jogou um fósforo aceso no chão. O molhado do chão não eram goteiras, era álcool. O incêndio começaria por dentro.

— Caralho! – Como reflexo desse movimento, a garganta de Vox foi cortada.

— Não temos nada a perder, seu filho da puta! Você morre com a gente! – Valentino gargalhou, sua sanidade mental era pior do que a de Alastor.

O magnata se desesperou no chão, mas o que eram gemidos arrastados de dor se transformaram numa risada. Se existia algo que Alastor odiava era errar.

O fogo se alastrou rapidamente. Não tinha saída. Ele poderia viver ou morrer. Velvette foi a primeira a sucumbir as chamas, gritos de dor e o cheiro de carne queimada eram perturbadores mas nada que desesperasse um assassino que estava perante a morte.

— Eu não quero morrer hoje. – Alastor se lançou para porta, devorada pelas labaredas. Dane-se, podia passar pelo fogo, mesmo que queimasse.

Correu em direção a morte. Sua pele queimou muito, feridas em boa parte dela.

E mesmo assim, conseguiu atravessar a morte e viver.

Quando chegou no asfalto, cheio de feridas e queimaduras pelo corpo, começou a gargalhar.

— Vingança não é justiça, é alegria – Murmurou para si, mesmo que as lágrimas escorressem pelo seu rosto, ele pôde sentir...venceu a morte.

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Penúltimo capítulo, gente, o capítulo final vai demorar porque o estipulado é umas 2.000 a 4.000 palavras. Vai demorar viu.

E este capítulo rápido conseguiu ser o melhor que já escrevi em toda a minha vida.


Paladino do Facínora-RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora