Eu quero você

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Alastor ainda não contribuía com nada para o projeto de redenção. Samael tentava esquecer um pouco o porquê de estar ali, mas logo a sensação de dever o tomava.

Já para o radialista, ele não tinha chance alguma de sequer tocar a ponta dos dedos no plano celeste, tanto que passava horas perguntando para o garoto sobre o inferno.

— Parece que é uma espécie de anarquia – Alastor discutia com Samael sobre a organização do inferno

— Lembra um pouco sim, por que quer saber tanto daquele lugar pútrido e fétido? Pergunte sobre o Paraíso, é para lá que queremos que vá!

O locutor revirou os olhos, queria aproveitar a presença do anjo por si só, não aqueles papos chatos de redenção. Ele queria ouvir sobre o anjo e somente sobre ele.

— Ah, e você o que faz lá no céu? – Alastor levantou a sobrancelha.

— E-eu? Bom, eu tenho muitas funções – Ele pareceu um pouco enrolado no começo.

— Você não sabe bem o que faz, não é? – Era como se tivesse lido a mente do anjo

— Eu faço muitas coisas. Tipo, eu olho a Terra, intercedo quando necessário, abençoo os humanos, esses lances, sabe? – Talvez ele só não quisesse falar muito, provavelmente não tinha uma função específica.

— Age como um arcanjo, então? – Indagou-lhe o radialista

— Sim, ajo como um arcanjo – Samael sorriu, feliz com o fato do outro ter entendido

Alastor ficou alguns minutos quieto, estavam sentados numa varanda, observando o nascer do Sol. Era dia de folga, mas algo específico acontecia a cada dois meses em um dia desses, ele lia a carta dos fãs.

A campainha tocou, o barulho assustou os dois rapazes que se encontravam em paz olhando para o radiante sol da manhã. Alastor veio se levantando, perto da porta, a abriu de vez, como se a pobre pessoa que estivesse ali aguardando fosse um mal desejado.

— Bom dia, Sr.Noir, suas cartas – Era o porteiro com as cartas, como ele poderia ter esquecido?

— Obrigado, Sr.Cooper – O radialista pegou a caixa em suas mãos, dando um tchau educado para o vigia, após isso, fechou a porta.

Deixou as cartas em cima da mesa, sentando-se numa das cadeiras logo em seguida, costumavam ser mais de duzentas cartas, seria um trabalho e tanto.

— Samael, venha cá! – Gritou para o outro que continuava em devaneios na sacada. Estava bem estranho, mas talvez só estivesse apreciando a vista.

— Oh, vou indo! – O anjo vem correndo, pernas curtas e passos rápidos, era fofo e ao mesmo tempo, engraçado.

O paladino olhou com curiosidade para o pacote repleto de cartas. Alastor o convidou para sentar, o que foi feito sem hesitações.

— O que é isso? – O étereo pegou uma das cartas, analisando.

— Cartas dos meus fãs – Alastor o explicou.

Samael pegou uma das cartas, e a abriu, após alguns segundos lendo, ele começou a sorrir.

— [...] Como flores do jardim, o meu amor precisa de ti – Samael gargalhava — Parece que alguém anda namorando.

— Eu não namoro, são apenas cartas, há várias com esse teor – O radialista segurou a própria cabeça em sinal de raiva — E essa é a carta mais genérica que eu já vi. Eu me atraio por pessoas especiais e adivinha? Nunca achei nenhuma.

— Eu achei o auge do romance – O arcanjo colocou a mão no queixo.

— Se quiser eu te mostro o que é ser romântico. – O clima congelou, o frio na barriga que atingiu os dois era palpável.

— Q-que? – O rapaz ficou atônito sem saber o que falar.

— Ah...nada, nada mesmo, vamos só continuar lendo as cartas – Alastor colocou mais uma na frente do anjo.

Eles ficaram lendo as cartas por horas, a maioria comentava sobre a beleza do locutor, de sua voz ,dita por elas ,"sensual", do seu cabelo castanho, do seu corpo no geral. Havia alguns poemas, cartas de confissão e apenas pequena parte falava sobre os programas em si.

Uma em específico poderia ser uma coisa um pouco mais séria do que elogios, um poema ou uma pequena confissão.

[...]

Querido Sr.Noir

Me chamo Makayla Ferraro, me interesso bastante por suas transmissões. Seu humor me faz rir, sua voz me trás sensações maravilhosas, posso me perder por horas na beleza dela. Eu gostaria de ter a honra de ser acompanhada pelo senhor num bar de Jazz que conheço na Bourbon Street. Se for do seu agrado este pedido, espero que hoje, dia 14 de fevereiro de 1928, venha a me encontrar na frente de sua rádio. Estarei no aguardo.

Agradecimentos, Makayla.

[...]

Samael pareceu ter uma ideia, sua face revelava isso, por mais que escondesse mais alguma coisa que o radialista não foi capaz de entender. Após o fim da leitura, um sorriso pode ser visto na face do ser angelical.

— Você tem que ir – Alastor notou o sorriso do anjo, era falso.

— E-eu não vou aceitar isso, nem conheço essa mulher. Na verdade, e se hoje, eu e você fos- – O radialista foi interrompido

— Por favor, dê uma chance para si mesmo. Talvez você precise de outros prazeres nesta vida. Não há problema de sair com uma garota, comer algo, trocar carícias ou namorar. Isso pode fazer bem para você. – Aquilo matava o radialista. Samael não estava feliz com aquilo, fingia estar. Maldita seja a redenção!

— T-tudo bem, eu vou – Alastor suspirou. Samael queria o melhor para ele, e seria muito mais difícil se ele não o fizesse.

— Ótimo! Levante-se. Essa garota vai estar certa de ter querer tanto – O loiro foi entrando no quarto com o objetivo de arrumar o cabelo do locutor.

— Mas eu quero você – Sussurrou, esperando que suas súplicas chegassem aos ouvidos do garoto. Não chegaram.

De qualquer forma, tinha um maldito encontro naquela noite.

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Quando lerem essa fic, prestem atenção nos pequenos detalhes. Eles dizem muito

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Paladino do Facínora-RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora