Residindo com o antagônico

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As coisas iam bem, no geral, haviam desenvolvido uma boa relação, bons colegas de quarto. Naqueles últimos quatro dias, algo vinha perturbando o radialista, perturbando muito.

Sempre gostou de humor negro, o anjo detestava e preferia humor leve, o radialista era um simples melancólico, o arcanjo era um tanto que otimista, até demais, O facínora não se importava com boas ações, o paladino não perdia oportunidades em ajudar alguém. Completos opostos.

Seu jeito não iria mudar só porque agora tinha um passarinho humanoide na sua cola, não, jamais. Mas as vezes, não conseguia suportar, o arcanjo era como um gatinho filhote, quando fazem os grandes e fofos olhos e miava fininho, uma descrição perfeita do anjinho, um gatinho fofo.

Alastor poderia mentir sobre qualquer coisa, qualquer mesmo, mas o fato que estava amando a presença do anjo ali era realidade. Morava um pouco longe de sua mãe, devido ao trabalho, visitar ela era uma ocasião um pouco rara, tinha seus amigos, tipo Niffty, Rosie e até o beberrão do Husker. Mas chegar em casa e não ter ninguém era terrível, a solidão não era boa para alguém tão social então desde que Samael chegou a vida pareceu ter tomado um banho de Sol, uma tristeza quando ia e uma alegria quando voltava.

A sensação de chegar em casa e não ter ninguém esperando acabou, sabia que tinha um "gatinho fofo" todos os dias ali, na porta, só esperando que fosse aberta. Aquele era um dos dias.

Teve a brilhante ideia de comprar ingredientes para mostrar ao protetor a excelentíssima culinária de Nova Orleans, uma boa e velha Jambalaya. Abrindo a porta, se deparou com um abraço enorme.

— Você voltou! O que é isso aí? – O menino era indagador e muitas vezes, enervante.

— Ingredientes, é para a Jambalaya, você, meu companheiro, vai provar as maravilhas de Lousiana! – O homem colocou a sacola em cima do balcão.

— Uh! Parece ser uma delícia – O anjo abriu suas asas e voou para perto da cozinha.

— E, por experiência própria, é sim – O radialista abriu a sacola e começou a cortar as cebolas.

Enquanto cozinhava, o anjo falava bobagens sobre redenção, o quanto gostaria de que o radialista fosse para a igreja, lesse a Bíblia diariamente e pelo menos se importasse com a causa. O locutor estava tão desinteressado por aquilo quanto uma criança é por matemática, simplesmente não dava.

— Claro, vou sim – Essas conversam costumavam parar dessa maneira, promessas falsas vindas do moreno.

O fato é que, o desinteresse não era o único motivo para não estar ávido no processo de redenção, havia também outro porquê, sabia que quando estivesse na linha correta, Samael abriria suas asas e voaria para fora, deixando Alastor, ali sozinho, sem companhia e sem um gatinho fofo o esperando todos os dias. Uma criança com medo de ficar sozinha, era assim que se sentia naquele momento, uma criancinha.

— Mas você fala isso toda vez.

— E uma hora, com certeza, vou cumprir – Alastor dizia isso sem dar a mínima importância.

— Espero, espero mesmo! – Lá ia, voando de costas, o anjinho por toda a casa.

— Samael, me conta sobre o inferno, conheceu Lúcifer? Você deve ser bem antigo lá no céu.

Por uns minutos, a única resposta que recebeu foi silêncio. Levantou a sobrancelha, olhando a face assombrada do rapaz, pela conclusão de Alastor, pelo garoto ser um arcanjo, talvez fosse próximo do pai da mentira, talvez até  irmão.

— Lúcifer? Que bobagem! Isso não passa de lenda humana, coisa inventada na Idade Média, sabe? Era para pôr medo nos camponeses – Ele riu, mesmo que estranho.

— Então quem governa o submundo?

— Aquilo ali é Terra sem lei, os pecadores governam uns aos outros numa hierarquia fundada em poder. Apenas em poder – Observou o arcanjo morder os próprios lábios.

— Bom, está pronto! – Uma carta para aliviar a tensão.

— Uau! Isso parece saboroso!

— Prove – Alastor tirou uma colher da Jambalaya da panela, colocando-a perto da boca do paladino.

Ele viu o brilho nos olhos do alado, que depois se tornou lágrimas numa face vermelha.

— Quente! Quente! – O anjo correu e bebeu água da pia.

O locutor riu alto, muito alto, gargalhava como uma hiena, Samael assustou-se, nunca havia visto o radialista naquele estado. Até que por fim, o homem deu uma batidinha nas costas do paladino, ainda rindo um pouco.

— Tem pimenta na receita, querido – Samael fez um biquinho tirando mais algumas risadas do radialista.

Por fim, acabou assim, mesmo sendo o oposto um do outro, quem diria que não tinham uma boa relação?

Os opostos se atraem...

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Essa fic é tão gostosa de se escrever ahhhhhh



Paladino do Facínora-RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora