O Pacóvio e o ladino

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Estava perplexo com o que seus olhos lhe mostravam, achou que o sono estava o enganando. Se aproximou da coisa e tocou nele, em suas asas.

— Mas que maluquice! Você é palpável! – O Locutor dizia aturdido, afinal, havia um anjo de verdade em sua frente.

— Ah oi, poderia me dar uma ajudinha aqui – O alado apontava para a sua bata que acabara ficando presa em um prego solto da cerca da varanda.

— Deixe-me dar uma olhada...– O homem se levantou ainda um pouco atônito, foi para dentro do apartamento e voltou trazendo consigo uma machadinha.

— Ei, espera, a gente pode conversar – O anjo colocou as mãos para frente sem sinal.

O locutor apenas partiu o prego, ele poderia apenas tirar a bata, mas achou extremamente engraçado por algum motivo assustar um anjo que poderia o subjugar facilmente. Seu desejo de humor ultrapassava todo seu medo do desconhecido.

— Prontinho – Ele colocou a machadinha pendurada nas costas — Agora, querido étereo, por que apareceu nesta residência humilde de um pobre e frágil mortal?

— Ah claro, eu vou lhe contar tudinho – O garoto falou com um sorriso enorme, parecia, diferentemente de Alastor, um bom menino — Bom, por onde devo começar?

— Se apresentando, acredito eu – Alastor sentou-se em uma das cadeiras da varanda e convidou o anjo a fazer o mesmo.

— Certo, meu nome é Samael, arcanjo da humildade e da defesa, também me chamam de portador da luz – Tantos nomes para um só guri que o radialista até começou a se confundir.

— Boa, agora, amado anjo, por que desceu dos céus até aqui? – O radialista colocou sua perna sobre a outra, e a mão sobre o joelho.

— Bom, eu venho em um missão de anjo da guarda, meu protegido mora aqui nesse prédio, isso se não errei o endereço, ele se chama Alastor..Oh – O pequeno olhou para a ficha e olhou para a cara do radialista, seus olhos.

— Oh, tudo bem, eu convido você a adentrar minha morada, poderemos conversar melhor com uma deliciosa refeição e um suco de maçã – Em um gesto de cavalheirismo, o jovem estende a mão para o arcanjo.

— Você é tão bem educado, obrigado – O menino aceitou de bom grado a ação do cavalheiro em sua frente.

Os dois entraram, o jovem rapaz podia olhar o tolinho atrás de si, lá estava olhando tudo como um prisioneiro vendo tudo depois de muito tempo cativo

— Farei algo para comermos, sinta-se em casa, provavelmente ou certamente, meu humilde lugar não seja do seu nível mas não tenho nada melhor, tenho dinheiro, mas não sou nenhum árabe – Ele disse enquanto colocava os ingredientes em cima do balcão.

— Ela é tão...humana, é linda do jeitinho dela, eu não sei do que adianta para mim morar num castelo, se ele é tão vazio – Enunciando isso, pois sua mão no queixo, num ato talvez de melancolia, como quando as pessoas se lembram de coisas não tão boas.

— Do que importa estar tão cheio para no fim os números de nada valerem, é uma coisa complicada, anjinho – Alastor suspirou, lembrando de sua infância, uma casa tão cheia mas com tanto sofrimento envolvido

— Ah sim..eu ia te falar sobre a missão – O garoto brincava com os talheres no prato vazio que o rapaz havia posto na mesa

— Fale, por favor – Começava a cortar as cebolas

— Eu estou aqui para trabalhar na sua redenção, eu e mais alguns anjos viemos do céu para este projeto, e você é o meu tutelado

— Ótimo, tenho informações o suficiente, senhorito, agora, vamos falar mais sobre você, tem foto da família, eu te mostro a minha – O homem deu-lhe um sorriso amistoso

— Ah claro, estes são meus irmãos – Logo foi lhe dando uma foto com quatro outros rapazes além do anjo

Todos pareciam muito austeros, levando em conta o pequeno em sua frente, deu para ver a diferença dele entre aqueles outros. A verdade era que, como uma raposa, Alastor era astuto e esperto, um ladino. Seria mais fácil continuar com que fazia se o seu benfeitor fosse Samael, pela altura, deveria ser o mais novo, inexperiente e sua personalidade já demonstrou sua ingenuidade, um pequeno pacóvio

— Aqui está – O homem mostrou apenas uma foto sua com a mãe

— Que linda mulher! Você era tão bonitinho quando pequeno, mas se não for incômodo, onde está seu pai?

— Este homem nunca foi um sujeito de família – Podia se sentir a raiva em suas palavras, como se tivesse vomitado algo de muitos anos atrás

— Posso entender – O anjo pareceu se sentir culpado pela pergunta

— Nada disso é culpa sua, são águas passadas cujas ondas já levaram para longe todos os dejetos – Ele guardou a foto

— Está tarde, eu não necessito de dormir, mas acho que você sim – O garoto o alertou

— Tudo bem, há livros por todo lugar, pegue um, irei dormir

Alastor esteve certo em não deixar ir o pequeno alado, afinal, parecia que sua vida em preto e branco finalmente possuiria as cores necessárias

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Mandando logo esse aqui, para acabar o último capítulo de "Até o último resquício de meu ser"

"Parecia que sua vida em preto e branco finalmente possuiria as cores necessárias"

Só se for as da bandeira LGBT

Paladino do Facínora-RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora