A Lógica dos Sentimentos

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Duas semanas depois, Alice estacionava o carro na casa do pai, na ensolarada Califórnia. Ao abrir a porta, ela o viu sentado ao piano, com papéis espalhados ao seu redor.

- Oi, papai!

Robert levantou o olhar e sorriu, um homem grisalho de traços suaves e aquele carisma que parecia eterno.
- Oi, querida! Como foi no Brasil?

Alice se jogou no sofá próximo ao piano e suspirou.
- Foi bom. Consegui visitar a mamãe.

O sorriso do pai ficou um pouco mais melancólico. Alice sabia que ele sempre guardava um resquício de culpa pelo divórcio. Os pais dela haviam se separado quando Alice tinha apenas dez anos, após uma traição. Ela fora para a Califórnia com o pai, enquanto Fernanda, por ser menor, ficara com a mãe no Brasil.

- E como está a sua irmã? - ele perguntou, tocando algumas notas leves no piano.

- Fernanda está bem, matamos a saudade uma da outra. - Alice disse sorrindo.

Robert riu baixo, o som misturado ao dedilhar casual das teclas.
- Isso é um alívio. Vocês duas sempre foram diferentes, mas se complementam.

Alice sorriu, então lembrou-se de algo.
- Ah, hoje é o primeiro dia do tal curso de teatro que você comentou.

Robert sorriu.
- Isso mesmo! Você vai adorar. O curso é de uma amiga minha.

Alice arqueou uma sobrancelha e deu uma risada.
- Amiga, é? Sei como você é, mulherengo incorrigível!

Robert soltou uma gargalhada, balançando a cabeça.
- Eu não sou mulherengo, só me apaixono demais.

Alice riu junto e se levantou, caminhando até a estante cheia de discos. Os vinis estavam perfeitamente organizados, com capas envelhecidas mas bem preservadas.

- Esses aqui são novos? - Alice perguntou, puxando um LP de Pink Floyd.

- Não, mas essa é uma das minhas edições favoritas. The Dark Side of the Moon nunca envelhece.

Alice passou os dedos pelos discos, reconhecendo algumas outras preciosidades.
- Uau, Led Zeppelin, The Who, Creedence Clearwater Revival... Você tem mais clássicos do que algumas lojas de discos.

Robert sorriu, orgulhoso.
- Esses são os resistentes. Os que sobreviveram ao tempo e ainda fazem sentido, mesmo para quem nasceu décadas depois.

- Sim, e ainda têm letras que a gente sente na alma. - Alice puxou um LP de Janis Joplin e olhou com carinho para a capa. - A Fernanda ia amar esse.

- Ela puxou o gosto musical da sua mãe. Eu tentei, mas ela nunca curtiu tanto rock quanto você.

Alice riu, recolocando o disco no lugar.
- Bom, alguém tinha que herdar seu bom gosto, né?

Robert sorriu e se levantou do piano, se espreguiçando.
- Pronta para seu curso?

Alice deu um último olhar para os discos e depois sorriu para o pai.
- Prontíssima! Se a amiga do senhor for tão boa no teatro quanto parece ser nas suas histórias... vai ser divertido.

Robert a olhou com um sorriso.
- E você?

Alice franziu a testa.
- Eu o quê?

- Se apaixonou no Brasil?

Alice suspirou, recostando-se no sofá.
- Sim... mas acabou mal. Nem se anime.

Robert soltou uma risada baixa.
- Se apaixonar sempre acaba mal, querida.

Alice bufou, divertida.
- Eu que o diga. Será que jogaram alguma maldição em mim?

Robert arqueou uma sobrancelha, intrigado.
- E por que acha isso?

When in BrazilOnde histórias criam vida. Descubra agora