Os dias no palácio de Al Zubarah seguiram-se num clima de estranheza. O Sultão Amim Ali Aziz continuava atormentado. Seus pesadelos sobre a perda dos dentes, embora tivessem parado, deixaram-no desconfiado de tudo ao seu redor. Além disso, havia outra coisa que o perturbava profundamente: seu turbante. Aquela peça de vestuário, antes uma simples extensão de sua majestade e símbolo de sua posição, agora parecia estar envolta em mistério.
O turbante, que ele sempre usava com orgulho, havia começado a pesar mais do que o normal. E não era apenas isso. Quando o Sultão movia a cabeça, ele sentia algo chacoalhar dentro do turbante, como se pequenas pedras estivessem soltas lá dentro. A sensação era desconcertante, e o som leve, porém contínuo, fazia com que sua cabeça ficasse ainda mais cheia de pensamentos preocupantes.
O Sultão tentou tirar o turbante diversas vezes, mas parecia que ele estava preso à sua cabeça, como se uma força invisível o segurasse. Quanto mais ele puxava, mais o tecido parecia grudar em sua pele, provocando um desconforto que ele não sabia explicar. O desespero crescia a cada tentativa frustrada. Nem os seus conselheiros mais próximos, nem os servos mais experientes conseguiam desvendar o que estava acontecendo.
Com o tempo, a notícia de seu turbante misterioso começou a se espalhar pelo reino. Todos se perguntavam o que poderia estar acontecendo com o poderoso Sultão. Seria algum feitiço? Um castigo enviado pelos céus? Ou uma maldição colocada por algum inimigo oculto? Ninguém sabia ao certo, e a curiosidade só aumentava.
Foi nesse cenário de incerteza que o Sultão decidiu chamar um novo sábio, vindo da distante cidade de Doha. Ele ouvira falar de suas habilidades extraordinárias e, após a má experiência com o primeiro sábio, que fora punido pelas palavras desagradáveis que dissera, o Sultão esperava que este novo homem pudesse lhe trazer melhores notícias. Quem sabe ele conseguiria finalmente explicar o que estava acontecendo com seu turbante e, mais importante, o que estava escondido dentro dele?
No início da semana, o grande sábio de Doha chegou ao palácio. Diferente do sábio anterior, ele era um homem de semblante calmo e olhar sereno. Vestia-se de maneira simples, mas seus olhos brilhavam com uma sabedoria profunda que impressionava a todos. Ao entrar no salão do trono, ele inclinou-se respeitosamente diante do Sultão.
— Grande Sultão Amim Ali Aziz, ouvi dizer que Vossa Alteza enfrenta uma grande aflição. Estou aqui para oferecer meus serviços e ajudá-lo a entender o que está acontecendo — disse o sábio, com uma voz suave, mas firme.
O Sultão, sentado em seu trono, olhou para o sábio com uma mistura de curiosidade e cautela. Ele já havia sido enganado antes por palavras sábias, mas a presença tranquila daquele homem parecia diferente. Decidiu, então, dar-lhe uma chance.
— Sábio de Doha, estás certo. Tenho enfrentado dias difíceis. Algo estranho está acontecendo com o meu turbante — respondeu o Sultão, levando a mão à cabeça. — Sinto que há algo dentro dele, algo que faz barulho sempre que movo a cabeça. E pior: não consigo tirá-lo. Está preso como se fosse parte de mim. Preciso de respostas.
O sábio ouviu atentamente, observando o Sultão com olhos perspicazes. Então, aproximou-se devagar, pediu permissão para examinar o turbante de perto, e o Sultão concordou. O sábio tocou o tecido delicadamente e, por um breve momento, fechou os olhos como se estivesse tentando captar algo que ninguém mais conseguia ver ou sentir.
Depois de alguns minutos de silêncio, o sábio abriu os olhos e sorriu.
— Tenho boas notícias, Grande Sultão. O que vejo não é uma maldição nem um feitiço. Seu turbante, na verdade, é muito especial. Ele carrega dentro de si algo mágico, algo que pode trazer grande felicidade para Vossa Alteza.
O Sultão arqueou as sobrancelhas, surpreso com aquelas palavras.
— Magia? Felicidade? Explique-me melhor, sábio. O que significa isso?
O sábio manteve o sorriso e fez um gesto suave com as mãos.
— Este turbante é mais do que um simples ornamento. Ele tem o dom de devolver a Vossa Alteza aquilo que lhe foi tirado. A cada noite em que sonhaste com a perda de um dente, esses dentes não desapareceram para sempre. Na verdade, eles foram guardados dentro do turbante. Ele manteve o que é precioso para ti a salvo.
O Sultão ficou pasmo. Aquela explicação era completamente inesperada. Ele olhou para o sábio, tentando processar o que acabara de ouvir.
— Então... os meus dentes... estão dentro do meu turbante? — perguntou ele, incrédulo.
— Exatamente, Majestade. Tudo o que foi perdido nos sonhos está guardado com segurança aqui. E o melhor: posso ajudá-lo a recuperar o que lhe pertence — disse o sábio, com confiança.
Com uma mistura de alívio e descrença, o Sultão assentiu, permitindo que o sábio prosseguisse. O homem de Doha retirou de suas vestes uma pequena varinha de madeira pontiaguda, algo simples, mas com um brilho misterioso. Com movimentos suaves, ele apontou a varinha para o turbante e murmurou algumas palavras em voz baixa. O ar no salão pareceu se tornar mais leve, como se uma brisa suave tivesse invadido o local.
De repente, o turbante começou a se soltar. Lentamente, como se estivesse vivo, o tecido foi deslizando pela cabeça do Sultão, até finalmente cair em suas mãos. Dentro dele, algo brilhou. E lá estavam, para a surpresa de todos, os dentes dourados que o Sultão havia perdido ao longo daquele mês de pesadelos.
O Sultão, com os olhos arregalados, pegou os dentes nas mãos, incrédulo.
— Meus dentes... estão de volta! — exclamou ele, e um sorriso largo surgiu em seu rosto. — Como isso é possível?
O sábio sorriu novamente e inclinou-se em reverência.
— O turbante tem o poder de proteger o que é seu, Grande Sultão. Agora, tudo foi restaurado, e Vossa Alteza pode viver em paz.
Aliviado e agradecido, o Sultão ordenou que o sábio fosse recompensado com cem moedas de ouro por sua sabedoria e ajuda. Aquele momento mudou o humor do Sultão completamente. Ele, que estava tomado pela preocupação e medo, agora sentia-se leve e renovado.
— Que Alá abençoe o sábio de Doha! — proclamou o Sultão. — Que sua sabedoria continue a guiar os povos deste reino.
Com o mistério do turbante resolvido, o Sultão voltou a sorrir, certo de que seus dias sombrios haviam finalmente ficado para trás. E assim, mais uma vez, a paz reinou no palácio de Al Zubarah, onde a magia, o poder e a sabedoria se encontraram para trazer harmonia ao poderoso Sultão Amim Ali Aziz.
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O Segredo do Turbante do Sultão
FantasyHouve um tempo em que o poderoso Sultão Amim Ali Aziz reinava sobre a luxuosa cidade de Al Zubarah, no emirado do Catar. Porém, algo estranho começou a perturbá-lo: durante trinta noites consecutivas, ele sonhou que todos os seus dentes caíam, até q...