Após o encontro revelador com o sábio de Doha, o Sultão Amim Ali Aziz sentiu uma onda de alívio e renovação. Seu turbante misterioso finalmente deixara de ser um enigma, e seus dentes, antes perdidos nos pesadelos, foram milagrosamente recuperados. No entanto, apesar de sua gratidão e da felicidade restaurada, uma nova curiosidade começou a inquietá-lo. O sábio de Doha não era apenas alguém comum. Havia algo em sua presença, em sua sabedoria, que despertava o interesse do Sultão.
— Quem é esse sábio que tanto sabe sobre as coisas do invisível? — perguntou o Sultão a si mesmo. — Como ele adquiriu tais poderes?
Determinado a entender mais sobre o sábio e a sua cidade de origem, o Sultão decidiu que era hora de fazer algo que não fazia há muito tempo: uma viagem. Ele partiria em pessoa para Doha, a capital do Catar, e conheceria a terra que produziu um homem de tamanha sabedoria. Além disso, desejava recompensá-lo novamente, pois sentia que uma dívida maior de gratidão havia sido criada.
Preparativos começaram a ser feitos imediatamente. Caravanas com mantimentos, servos, guardas e cavalos foram organizadas com a máxima eficiência. A viagem de Al Zubarah até Doha não era curta, mas o Sultão estava determinado. A rota passava por desertos imensos e oásis escondidos, mas a paisagem árida não intimidava o Sultão. Sua curiosidade e desejo de conhecer melhor o sábio eram mais fortes.
No alvorecer do terceiro dia após a resolução do mistério do turbante, o Sultão deixou seu magnífico palácio, montado em um majestoso cavalo branco. Ao seu lado, cavalgavam os guardas reais, suas lanças brilhando sob o sol do deserto. Atrás dele, seguia uma longa fileira de caravanas carregadas de presentes e provisões. A caravana era imponente, como tudo o que vinha do Sultão de Al Zubarah.
Enquanto a caravana avançava pelo deserto, o Sultão aproveitava para observar a vastidão das dunas douradas, que pareciam ondas de areia moldadas pelo vento. O silêncio do deserto era apenas interrompido pelo som dos cascos dos cavalos e dos camelos. A viagem, apesar de cansativa, era cheia de uma beleza solitária e, para o Sultão, era uma oportunidade de refletir. Ele pensava sobre o poder que cercava sua vida, mas também sobre as responsabilidades que vinham com ele.
Os dias se arrastaram sob o calor intenso, mas as noites traziam um frescor agradável, e o céu noturno era um espetáculo à parte. As estrelas brilhavam como pequenas lâmpadas no manto escuro, iluminando o caminho e proporcionando aos viajantes um senso de orientação e encantamento.
Em uma dessas noites, enquanto o Sultão descansava em sua tenda luxuosa, rodeado por suas almofadas e tapetes macios, ele chamou um de seus conselheiros de confiança, o astuto Malik, para conversar.
— Malik, tenho pensado em Doha e no sábio que nos visitou — começou o Sultão, com os olhos fixos na chama da lamparina que iluminava a tenda. — O que faz de Doha um lugar tão especial? Como é possível que de lá venha um homem com tamanha sabedoria?
Malik, um homem com cabelos grisalhos e olhar atento, respondeu após uma breve reflexão:
— Majestade, Doha é uma cidade antiga, repleta de mistérios e segredos. Ela não é apenas a capital do nosso reino, mas também um ponto de encontro de muitos estudiosos e sábios de terras distantes. Eles trocam conhecimentos, filosofias e saberes antigos, o que torna o lugar um centro de sabedoria. Talvez seja isso que tenha moldado o sábio que Vossa Alteza conheceu.
O Sultão assentiu, ainda imerso em seus pensamentos. Ele estava mais curioso do que nunca para chegar a Doha e explorar seus segredos.
Finalmente, após dias de viagem, a caravana avistou ao longe as primeiras construções da cidade. O Sultão, do alto de seu cavalo, observou as torres e minaretes de Doha emergirem no horizonte, como sentinelas silenciosas aguardando sua chegada. A cidade, cercada por um vasto oásis, parecia florescer em meio ao deserto árido. Pequenos barcos de pesca podiam ser vistos ancorados à beira do Golfo Pérsico, e o som suave das águas contrastava com o silêncio do deserto.
Ao chegar aos portões de Doha, o Sultão foi recebido com grande reverência. Os cidadãos se reuniram para ver o poderoso governante de Al Zubarah, e muitos se ajoelharam em sinal de respeito. O Sultão, embora grandioso, tinha um sorriso leve no rosto. Sentia-se acolhido por aquela cidade que transbordava de vida e história.
Ele foi conduzido ao palácio do Emir de Doha, um belo edifício decorado com mosaicos e tapeçarias que contavam a história da cidade. Lá, foi calorosamente recebido pelo Emir, um homem de modos elegantes e um discurso sábio. Após as saudações formais e a troca de presentes, o Sultão foi levado aos aposentos onde o sábio que o havia ajudado morava.
O sábio de Doha estava em um pátio tranquilo, rodeado de livros antigos e pergaminhos, quando o Sultão chegou. Ao vê-lo, o sábio inclinou-se respeitosamente.
— Grande Sultão Amim Ali Aziz, é uma honra ver Vossa Alteza em minha cidade — disse o sábio, com um sorriso sereno.
— A honra é minha, sábio. Vim para lhe agradecer novamente, mas também para conhecer melhor Doha e aprender mais sobre sua sabedoria — respondeu o Sultão.
Os dois se sentaram em uma mesa de mármore no pátio, enquanto o vento leve balançava as folhas das palmeiras ao redor. O sábio, sempre calmo e ponderado, começou a contar sobre a história de Doha, suas raízes antigas, e como a cidade havia se tornado um centro de conhecimento, onde sábios de todas as partes se reuniam para compartilhar saberes.
— A verdadeira força de um governante, Grande Sultão, não está apenas em seu poder ou em suas riquezas, mas na sabedoria que ele busca e na forma como ele guia seu povo — disse o sábio, olhando nos olhos do Sultão. — E a sabedoria, como a areia do deserto, está sempre se movendo, mudando, e aqueles que a procuram devem estar dispostos a seguir seus ventos.
O Sultão ouviu atentamente, sentindo que aquelas palavras eram como pérolas de sabedoria. Ele havia partido para Doha em busca de respostas, mas descobriu que sua jornada o levou a algo ainda mais profundo: a importância da sabedoria, não apenas para governar, mas para viver plenamente.
Ao final da conversa, o Sultão agradeceu ao sábio mais uma vez e decidiu que ficaria em Doha por mais alguns dias. Ele queria explorar a cidade, conversar com outros sábios e aprender o máximo possível. Sentia que essa viagem marcaria um novo capítulo em sua vida como governante.
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O Segredo do Turbante do Sultão
FantasyHouve um tempo em que o poderoso Sultão Amim Ali Aziz reinava sobre a luxuosa cidade de Al Zubarah, no emirado do Catar. Porém, algo estranho começou a perturbá-lo: durante trinta noites consecutivas, ele sonhou que todos os seus dentes caíam, até q...