Festa do Chá

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Em meio aos labirintos de corredores do imenso palácio, eles observavam admirados as decorações que estendiam-se pelas paredes, enquanto seguiam o gato.

 - Estou me perguntando - começou Duff - Como diabos conseguimos nos hospedar em um lugar tão luxuoso quanto esse?

Slash ia responder, mas decidiu que seria melhor deixar isso para depois, pois a história era longa e ele estava faminto demais para gastar sua saliva com palavras.

Devido ao material de alto padrão do qual era feito o chão, seus passos ecoavam por quase todo o recinto, e com base nisso, assustaram-se ao ouvir vários passos rápidos aproximando-se de onde estavam. Alertados, prepararam-se para o pior, mas suas expressões logo relaxaram quando viram que era apenas um rapaz loiro correndo.

 - Roger Taylor! - exclamou o baixista, que gostava muito da performance do rapaz - Por que corres tão desesperadamente por aí?

Logo atrás do baterista surgiu outro rapaz correndo, ofegante

 - Roger! - disse ele - Não precisa de tanta pressa! Isso não é uma emergência! Vai assustar as nossas visitas se continuar correndo desse modo!

 - O meu carro... - começou a se justificar - Não está funcionando!

Oscar, o gato de Freddie que estava guiando o grupo, ignorou completamente as presença dos dois rapazes e continuou andando, o que significava que aquilo tudo não tinha muita importância. Duff e Steven entretanto, com toda a sua bondade e disposição de ajudar os outros, seguiram Roger e John para ajudá-los a consertar o carro. Finalmente o felino parou de caminhar, em frente a uma sessão de cinco portas fechadas. Ele sentou-se no carpete, indicando que ali seria onde os rockeiros deveriam permanecer.

 - Vocês já vão entrar? - perguntou Slash aos seus amigos

As olheiras de Izzy já respondiam por si só: aquele homem precisa dormir urgentemente, então nem respondera a pergunta, apenas adentrou no quarto e fechou a porta pesadamente.

 - Acho que vou tomar um café, você vem comigo, Axl?

 - Talvez depois. - disse ele espreguiçando-se - Vou tirar um rápido cochilo e depois vou caçar aventuras por aqui.

 - Lembre-se de não quebrar nada e nem desrespeitar os gatos, ok?

 - Vou me lembrar, obrigado. Tchau!

O guitarrista então ficou sozinho ali no corredor, apenas ele e o gato, que pareceu compreender o que ele queria e guiou-o até uma outra sala, mais aberta e ventilada. Lá havia uma grande mesa redonda coberta por uma toalha cuidadosamente bordada. Sentados a mesa, ele viu pessoas com quem há tempos não conversava.

 - Ozzy! Brian! Que maravilhosa surpresa ver vocês por aqui!

 - Olá Slash! - disse Brian, sorrindo - Como vai a vida? Venha! Sente-se conosco para que possamos apreciar um pouco de chá juntos!

O cacheado então sentou-se em uma cadeira, ao lado de seus velhos amigos.

 - Como você cresceu! - continuou o guitarrista do Queen - Da última vez que eu te vi você ainda era meu aprendiz!

 - Pare de falar assim, Bri! - riu Ozzy, servindo um pouco de chá para o seu amigo recém chegado - Você parece um tio dessa forma.

 - Concordo! - completou Slash, também bem humorado - E você Ozzy? Como vem passando?

 - Estou bem, graças a Deus! - disse ele, pegando um croissant ao lado de sua xícara.

 - Também está aqui por causa da crise de sequestros e assassinatos? Eu vi que, no jornal, você era um dos desaparecidos.

 - Bem, é e não é ao mesmo tempo. - começou ele, após dar algumas mordidas no salgado - Realmente, apareceram três homens tentando me matar, e foi até que fácil derrubá-los. O problema é que eu não consegui beber o sangue de todos, e sobrou bastante, até. A Sharon não quer que eu guarde mais sangue na geladeira, então meio que ficaram bastante vestígios de que eu sou um vampiro, e como eu não quero que os meros mortais descubram isso, dei-me por desaparecido.

 - Fugir para cá realmente foi uma estratégia bastante inteligente! - comentou o astrofísico.

Eles interromperam a conversa para apreciar o aroma do chá e o doce sabor das guloseimas, enquanto observavam atentamente a pintura delicada de flores no bule fumegante. Mesmo perante a toda essa calmaria, uma pergunta viajava pela mente se Slash, até ele não se conter e finalmente perguntar:

 - Como assim "vampiro"?

Ozzy explicou:

 - Sabe os dons da música do rock? Cada músico tem um poder, nomeado de acordo com uma música de sua autoria ou participação significativa. A minha habilidade especial é igual as de um vampiro: Posso me transformar em morcego, ficar mais forte quando bebo sangue humano, além de ter alergia ao sol.

 - Nossa! - surpreendeu-se Brian, bebericando seu chá - Eu pensava que isso era só uma fase!

Os três começaram a rir.

 - Poxa! Me senti extremamente ofendido em ser comparado com uma leitora fã de Stephenie Meyer! - ironizou ele, enquanto todos se divertiam com o assunto incomum. Depois de finalizarem, ele perguntou: - E vocês, Brian, Slash, quais são as suas habilidades especiais?

 - A minha chama-se 39! - gabou-se o astrofísico - E ela é bem interessante: Posso multiplicar minha força 39 vezes durante 39 segundos, e depois de esperar outros 39 segundos, posso multiplicar minha velocidade a essa proporção, ou o meu tamanho, ou fazer aparecer 39 Brians! Enfim, tudo envolve números e cálculos com o número 39.

 - Odeio matemática! - comentou o guitarrista mais novo

 - E você, Slash, qual é o seu poder?

Ao ouvir essa pergunta, ele ficou paralisado. Não sabia se dizia ou não, o que era, o que pensava, ou o que aconteceu. Era um assunto bem particular e delicado para se falar.

 - Slash... - começou Brian - Aconteceu alguma coisa?

Mais uma vez ele não sabia se respondia ou não.

 - Pode falar! - disse Ozzy calmamente, colocando a mão em seu ombro - Somos seus amigos, e podemos te ajudar. Guardar tudo para si faz mal ao psicológico.

Então ele resolveu se abrir.

 - Eu não posso usar meus poderes, e nem deveria estar mencionando-os para vocês, mas mesmo assim, acho que aquele que me proibiu de usá-los não vai me ouvir daqui. - ele andou até a porta, olhou em todas as direções e depois voltou, sentando-se - Tudo começou há bastante tempo atrás, quando ainda éramos livres para poder usá-los. Era uma ocasião muito especial, um evento único: o casamento do Axl. Estava indo tudo conforme o esperado, e todos celebravam, muito felizes. Os convidados, a igreja, a organização da festa, estava tudo perfeito. Bebemos, fumamos, e até aí tudo bem. Os poderes, juntos, ajudavam a tornar a atmosfera ainda mais divertida. Só que, quando já estávamos todos embriagados, começou a chover. Uma chuva torrencial, com raios, trovões, e as gotas grossas fustigando nossos rostos. Foi aí que toda aquela festa se transformou em um caos, com pessoas correndo para todos os lugares, tentando salvar suas vidas da imperdoável água. Tudo deu errado - uma lágrima saia do seu olho - a festa de casamento do meu melhor amigo foi arruinada, e sua bela esposa faleceu na festa.

Um silêncio cortante reinou naquele lugar, todos surpresos com a notícia que, por algum milagre, não sabiam.

 - Mas Slash - tentou amenizar seu amigo vampiro - A culpa não foi sua! Não há motivos para que Axl o proíba de usar os poderes.

O cacheado suspirou

 - Infelizmente, Ozzy, a culpa é minha sim... Rapazes, esse é o meu poder: November rain. Eu consigo fazer chover, e essa chuva, uma vez que foi descontrolada, matou a esposa do meu melhor amigo. E é por isso, meus amigos, que não posso mais usá-los ou sequer contar isso a alguém.


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